quarta-feira, 30 de junho de 2010

Gui Arnould

Quando começamos a fazer o orçamento das pontes de Paulo Affonso IV, o Choulian, como Gerente de Engenharia resolveu pedir apoio a Delatre Levivier, uma empresa francesa do mesmo grupo da Mecânica Pesada. Ela enviou um francês ao Brasil para nos ajudar na execução do orçamento das pontes, o Sr. Guy Arnould, projetista de uns 50 anos e muito prático nesses equipamentos, mas que também nunca tinha feito nada desse tamanho, já que essas pontes seriam as maiores do mundo. Iríamos trabalhar juntos por aproximadamente um mês, que era o prazo para apresentação da proposta. Ele não falava uma palavra de português, e eu não falava nem uma em francês. Fizemos o ante projeto e no final do mesmo estávamos nos entendendo, mas houve um lance muito engraçado. Não sei como mas discutíamos muito. Certa vez, não chegando a um acordo, ele me disse:
- “Fait comme vous voulez”.
Não falo francês até hoje mas significava algo como "faça como você quiser e não me encha o saco". Pelo tom de voz dava para ver que era algo meio grosseiro. Como não sabia mandar tomar no rabo em francês, eu fiz do jeito que achava certo. Quando terminei a minha parte, tínhamos dividido os serviços, ele veio, meio brabo, querendo saber porque eu tinha feito daquele jeito. Mandei no meu francês:
- “Vous dit, fait comme vous voulez, je fait comme vous vouli”.
Achei que estava falando, “já que você me falou faça como quiser eu fiz como eu quis”, mas estava totalmente errado e quando olhei, todos que sabiam falar francês estavam morrendo de rir e o Guy me olhando querendo entender em qual língua eu estava falando, uma vez que misturávamos inglês com espanhol, mas nunca francês ou português.
Mas chegamos no fim dentro do prazo e fomos a Salvador apresentar a proposta. Os orçamentos de todos os fabricantes eram dividos em duas partes totalmente separadas. Uma técnica com a descrição do equipamento, sua performance, os desenhos de conjunto e todas as questões levantadas no edital de concorrência. Nessa parte não poderia conter nada de preço. E outra, só de preços, que era aberta depois que todos vissem a parte técnica uns dos outros. Eu estava tão por dentro de cada detalhe que só de assinar todas as páginas das parte técnica dos concorrentes, chegava no fim com uma boa idéia do que cada um tinha proposto e como tinham resolvido os problemas que tínhamos encontrado no decorrer do orçamento.
Quando abrimos os preços, tínhamos ficado em segundo lugar e perdido para uma empresa alemã. Mas eu me lembrava da proposta técnica deles. Fiz um relatório para a diretoria explicando que nossa ponte era mais cara mas necessitava de menos investimentos na parte civil pois a carga era melhor distribuída e outros argumentos mais. No fim o primeiro lugar foi desclassificado e ganhamos a concorrência.
Ia fazer a maior ponte rolante do mundo e fiz um grande amigo na França.

Nenhum comentário:

Postar um comentário