Carnaval II

Esse ela já era adulta. Tinha até namorado. Era carnaval de 93 ou 94. No nosso bloco as mulheres iam de fantasia. Cada dia um tipo, tudo comandado pela minha irmã Maria Lucia, e comandado com mão de ferro. Ela não era fácil. Arrumava umas fantasias super incômodas e obrigava a todos usarem como projetado. Nesse dia era de Cleópatra, com cobra na cabeça e tudo. A Beá com a Laura resolveram ir ao toalete e o namoradinho resolveu levá-las. Ele era muito gentil. Beá na frente, Laura e o namorado. Era muita gente e tinham que andar em fila indiana, apesar de que Beá com aquela fantasia, devia ser fila egípcia.
No caminho, um cara todo malhado, 1,90 de altura, resolve fazer uma gracinha para Beá, que estava uma gracinha mesmo, e o Paulinho, esse era o nome do namorado, ao invés de fingir que não ouviu, resolveu não sei o que com o cara. Não podia ser encarar pois tinha que ser cara a cara, não podia ser peitar pois tinha que ser peito a peito. Talvez encarapeitar, pois a cara do Paulinho batia no peito do marombado. O cara meio chutado mandou um direto na boca do estômago do namorado e acabou a briga. Mas o namoradinho era valente. Não satisfeito resolveu voltar para descontar. Nesse momento me colocaram a par do rolo e já vi os dois à uns 5 metros batendo boca. Pensei em não deixar a coisa começar e fui com todo jeito falar com o grandão. Era carnaval, deixa isso de briga pra lá etecetera e tal. Estava começando a ficar grisalho e achei que ele ia me respeitar por isso. Mas o cara me encarou já falando:

- Cai fora coroa, ou apanhas também!

Pelo sotaque vi que era carioca. Lembrei de Michel e não vacilei. Mandei o joelho direito, com toda força, no meio das pernas. Sabia que se acertasse os bagos, a reação defensiva seria o cara se encolher jogando a bunda para trás e a cara para baixo. Nesse momento a minha direita já vinha subindo num upper, que achei que seria fulminante, mas não foi.

Parecia que eu tinha errado o queixo do cara e acertado a coluna do prédio. Ele me olhou meio assustado, mas vi que estava lúcido ainda, quando mandei a segunda, pegando parte do punho e meio empurrando ele, que então bateu na mesa que estava atrás. Para não cair teve que usar as duas mãos para segurar na mesa. Nesse segundo vi que seu queixo estava meio pra cima e totalmente desprotegido. Sem luva de boxe, uma porrada bem dada naquela posição, ele tinha que desabar. E desabou, só que o pessoal da mesa empurrou a mesma e ele veio pra cima de mim já caindo. Segurou na minha cintura e achei que ele ia tentar me derrubar. Foi quando o engravatei e jurei que não soltava naquele monstro por nada. Foi quando alguém, com a boca colada na milha orelha, gritou:

- Larga que você vai matá-lo!

Quando soltei o cara desabou que nem um saco de batatas, de cara no chão. Fomos parar na diretoria. O cara do lado de fora todo machucado. Pagamos a conta e fomos embora. No dia seguinte, o presidente do clube me procurou. Coincidentemente ele era o pai do namoradinho da Laura. Queria que fossemos juntos conversar com o tipo e falar que ele não entraria no clube se não se retratasse. Na hora eu pensei: vou acabar apanhando, mas melhor resolver agora que no baile a noite. Quando encontramos o homem, eu vi que ele estava com mais medo de mim que eu dele. Falou que estava errado, nunca podia imaginar que a Beá pudesse ser mãe da Laura, pediu desculpas e ficou tudo resolvido.

Depois de tudo é que resolvi perguntar ao Paulinho o que o cara tinha falado para Beá e ele disse:

- Minha cobra é mais bonita que a sua, quer ver?

O Paulinho, depois entre a gente, falou:

- O cara aprendeu que aqui tem gente que mata a cobra e não deixa ninguém mostrar o pau.