segunda-feira, 14 de junho de 2010

Vestibular

Quando deixamos Taubaté e mudamos para Corumbá sabíamos que, com isso, teríamos que nos separar de nossos filhos mais cedo. Como eu, um dia eles viriam para estudar em São Paulo e isso aconteceu quando o Beto terminou o ginásio e Laura o segundo ano do cientifico. Ficaram Daniel e Guilherme terminando o ginásio em Corumbá. Laura foi para o Mater Dei e o Beto para o Bandeirantes que só aceitava alunos de outra escola no primeiro ano. A casa não ficaria tão vazia, Daniel e Guilherme valiam por 4, cada um, mas estava começando a separação.
Laura era estudiosa e vivia me colocando em fria com os professores. Virava e mexia ela brigava com eles e o argumento era sempre que eu tinha ensinado de outro jeito. O pior é que sempre ela estava certa. Desde cedo ela aprendeu os fundamentos da matemática e física e com isso tinha muita facilidade de aprender coisas novas. O Beto já era de estudar o mínimo, mas como o Bandeirantes fazia uma prova para seleção e ele tinha sido aprovado, ficamos mais ou menos tranqüilos. Era o ano do vestibular da Laura. Ela foi fazer cursinho no Anglo, e quis cursar o 3o. ano no Mater Dei, apesar dos conselhos de pegar um colégio mais fácil e se dedicar ao cursinho, ela quis fazer desse jeito e como teimosia chegou e parou ali, não perdemos tempo discutindo. Terminou o cientifico como uma das melhores da escola e se inscreveu para o vestibular da Poli, Unicamp e Mauá. Não teve jeito de convencê-la de fazer em outros, pois ou ia nessas ou ia pro cursinho de novo. Eu tinha uma experiência muito ruim com o meu vestibular na Poli, quando mesmo estando super preparado, na prova de física troquei os lugares das questões e não passei. Mas teimosia... Durante o cursinho, um dia ela estava super nervosa e para acalmá-la falei:
- Vou fazer uma promessa igual quando sua mãe ficou grávida e eu fiquei sem cortar o cabelo nem fazer a barba até você nascer, e tinha data limite para isso. Agora vou ficar até você entrar e tenho certeza que vai ser na primeira.
Nunca vou me esquecer do dia do provão da Poli. Era uma prova importante pois barrava uma boa parte dos alunos, só quem passava ia para as demais provas especificas de cada matéria. Eu que a levei para fazer a prova e fui buscá-la. Na saída, eu tropeçando na barba e mais nervoso do que ela, sentamos em um banco de uma praça em frente ao local da prova e começamos a conferir as questões. Ela com o gabarito e eu com a prova dela na mão. Eram 72 questões de todas as matérias. Cada questão certa, era uma emoção maior que disputa de pênalti em final de copa do mundo. No final, das 72 ela tinha acertado nada mais nada menos que 69. Nós não nos agüentávamos de alegria, mas ao mesmo tempo ficava a dúvida se a prova não tinha sido muito fácil e todo mundo tinha ido bem. No dia seguinte na primeira página do Estadão estava um desses cabeludinho de óculos na ponta do nariz e cara de louco com a manchete “Gênio acerta 64 questões no provão da Poli”. Aí eu não me agüentei e sai com o jornal na mão perguntando pra todo mundo:
- Qual será o título para quem fez 69?
Não preciso dizer que a Laura entrou na Politécnica de São Paulo, conseguindo passar por onde eu tinha sido barrado à 24 anos atrás. A comemoração da entrada de Laura foi em Corumbá e a alegria foi dupla: vê-la cursando a melhor escola de engenharia do país e me livrar daquela barba monstruosa.
No ano seguinte, foram Daniel e Guilherme também para o Bandeirantes. Aí a casa ficou totalmente vazia. Voltamos ao início, só eu e Beá. Nós trabalhávamos e não podíamos ir sempre a São Paulo. A casa ficou muito triste. Vivíamos esperando as férias e apartando brigas por telefone. De lá Laura me ligava chorando e fazia eu putear as duas pestinhas por telefone, uma hora era porque tinha mexido nas coisas dela, outra porque não deixavam ela estudar quando levava as amigas em cada e a coiseira ia aos trancos e barrancos.
Já o Beto quando faltavam uns dois meses para terminar o 2o. ano, ele chegou em mim e falou:
- Vou ter que trocar de colégio ou vou tomar pau. Quero ir para o Indac, termino o segundo ano, que lá passa todo mundo e ano que vem vou para o Anglo.
Concordei e ele largou o Bandeirantes. Quando chegou as ferias e ele estava se preparando para ir para Corumbá eu dei a noticia à ele:
- Filho, ache alguma coisa útil para você fazer nas ferias, tipo um curso de piloto ou de computação. Férias é para quem trabalhou ou estudou muito e precisa de descanso, o que não foi seu caso. Ele se matriculou na escola de pilotos do Campo de Marte e estudou as férias todas em São Paulo, longe da gente. Só foi a Corumbá para as festas de fim de ano. Foi mais castigo pra gente. Ele voando, de castigo, e eu super apreensivo de não acontecer nada com ele ou não me perdoaria jamais. No ano seguinte foi seu vestibular. Queria fazer Agronomia e também, aprendeu com Laura, queria só a Esalq
Eu muito ressabiado, pois como já dito, Laura estudava pacas, ele o mínimo. Mas ele enfiou a cara no Anglo, foi super bem e entrou na ESALQ. Estávamos indo muito bem. De 4 filhos já tinha dois na Usp. Já estava me convencendo que meus filhos eram feras, apesar da rateada do Beto no segundo ano. Mas aprendeu a voar e a estudar também. Faltavam o Faísca e Fumaça. Vou deixar para o Vestibular II.

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