sexta-feira, 11 de junho de 2010

Seu Dito

Seu Dito é o avô da Ana, minha nora mulher do Guilherme. Eu sou Corumbaense e nascido em 1950 quando Corumbá era uma grande família. Todo mundo conhecia todo mundo. Lembro que Mamãe fazia vale em papel de pão em qualquer lugar e até o banco pagava e depois cobrava papai. Então, para nós é engraçado como pessoas totalmente estranhas de repente se tornam parte de sua família. Os dois filhos, Beto e Guilherme, que estudaram em Piracicaba, casaram com nativas, que é como eles chamam as garotas da cidade. E no começo houve aquele nervosismo no encontro de nossas famílias. Como pais ficávamos preocupados não só de ver se eles escolheram bem, como também de causar boa impressão aos de lá. Estávamos nessa fase ainda quando o avô dela veio nos visitar.
De cara já vi que era dos meus, aberto, franco e conversador. Era carinhoso com a família. Como diria o avô de meu genro, era um bom tronco. Tinha que dar bons frutos. Seu Dito deve ter uns 10, 12 anos mais do que eu. Como ele gostava muito de pescar fomos juntos a São Bento. Temos um Pesqueiro nas margens do rio Miranda, na foz do Rio Vermelho. Um paraíso para pescadores, o que não é meu caso. Devo ter ido lá umas 5 vezes nos últimos 10 anos. Arrumei o barco com piloteiro, que era o rapaz que cuidava do pesqueiro, iscas, varas com anzóis e saímos os três. Conversávamos sobre diversas coisas, mas bastante formal ainda, quando lá pelas tantas o velho Dito fala pra mim:
- Tadeu, o que você acha de ficarmos íntimos?
No começo estranhei por demais essa pergunta, pois não conseguia ver como de repente ficaríamos mais íntimos, e achando, no máximo, que ele iria dizer para não chamá-lo de Seu Dito, respondi:
- Claro seu Dito, estou aqui exatamente para isso, para que fiquemos íntimos e o senhor se sinta em casa.
Ele respondeu:
- Então ta bom.
Deu aquela inclinadinha característica para o lado e soltou o maior peidão.
Pescamos a noite inteira, tomamos um monte de cerveja, e somos íntimos até hoje.
Velho porreta e inteligente, esse seu Dito.

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