sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Istambul parte 2

Como relatado na 1a. parte o guia que nos levou a mesquita de Santa Sofia, ganhou, primeiro, a nossa confiança mostrando o valor pago pelos ingressos, em segundo a nossa simpatia, contando como estava sofrendo por ter que abandonar a namorada maconheira, e por ultimo explorou o nosso "pãodurismo", de tentar recuperar as 250 liras turcas que nos cobraria pelo serviço de guia, o que não aconteceria se fossemos "no lojinha" do irmão. Com essa motivação toda entramos na Otomania, a loja do irmão do Sani. La tinha mais de dois mil tapetes, de todos os tamanhos, tipos e origens. Queríamos achar um baratinho, de umas 250 liras, ai seria o negocio perfeito. Mas parece que isso não existia lá, ainda mais porque não se falava em valor. Explicamos que a casa não tinha lugar para nada desse tipo, pois tínhamos 13 netos e um cachorro que nao podia ver um tapete que urinava nele. Isso tudo conversado em um espanhol perfeito pelo turco e por um nem tanto nosso. Ele tinha ainda um vocabulário português muito bom também. Era, segundo ele, um especialista em tapetes e consultor do Louvre. Por mais de uma hora ficamos conhecendo a história dos tapetes. Os tipos, como são fabricadas, em quais regiões. Mostrou alguns com mais de 100 anos, feitos a mão por pessoas com mais idade e experiência. Eram armazenados em camadas para estocar e aquecer o ambiente. Falava isso sem mostrar nenhum interesse em vender, mas não tinham preguiça. Iam mostrando sem parar. Vimos mais de 100 peças e quando perguntou de qual gostamos mais e vendo a dúvida, começou a guardar os que nao tinha nos agradados. E isso sem que mostrássemos o menor interesse em comprar qualquer um deles, mas já ficando constrangido de, depois de todos esse trabalho, nao levarmos nada. E os argumentos eram muito fortes.
-Quando vocês terão outra oportunidade igual a essa de comprar um otomano legitimo.
Falar em preço era blasfêmia. Escolha primeiro e depois negociamos. Diga o que te encantou e partimos para essa coisa mundana de dinheiro. Eram terríveis.
Mordemos a isca e optamos por um desses tradicionais, vermelho com mais 300 outras cores, de 2 x 3.
A conversa foi mais ou menos assim:
-Esse é um Kilim legitimo, feito pelos nômades. Tem mais de 100 anos. As mulheres da aldeia de onde ele veio fabricam tudo, desde a lã com o qual é tecido ate os corantes. Trancam o fio. É uma raridade. No Brasil não custa menos de 20.000 dólares.
Começamos a falar em preço.
Já soquei um - "larga mão disso" para ele. Não tenho, não quero nada nesse nível de preço e não tenho nem onde colocar uma porra dessas. O porra ele não entendeu, mas percebeu a "força" da palavra.
-Sim, 20 no Brasil, aqui te vendo por 10.
Nem 10, nem 5. Me mostre algo mais barato para ter uma recordação da Turquia a hora que eu ver o tapete, não o buraco nas minhas contas bancarias.
- já vi que você tem sangue árabe também, não?
-Sim, misturado com Português, enquanto você é legitimo.
-Ahá, patrício, de onde?
.....
Por ai foram mais 20 minutos, outra rodada de cha de maça e cafe turco.
Quando voltamos ao tapete ele queria me mostrar tudo de novo e ninguém agüentava mais. A cada um que víamos ou revíamos, o escolhido se sobressaia.
Quando ele viu que não encantávamos com mais nenhum outro, falou:
-Vão pagar com cartão?
-Pagar o que, não compramos nada.
-Ainda, mas você vai levar o tapete. Se não tivermos despesa para despachar e não for cartão posso fazer os 5000 para você.
Ai eu fiz a besteira e achei que ia me escapar do turco, falando:
-E vou colocar a porra do tapete aonde? É um dois por três. Se enrolar essa bosta ai vai dar um trambolhão.
Ai fudeu. Ele entendeu que resolvido o problema de transporte eu comprava o tapete. Quando percebi a burrice que tinha feito, quis consertar e falei:
-e depois, tudo que me resta são 2.500.
Quando achei que tinha resolvido o problema, já ia dar as 250 liras para o Sani e ir embora, estava satisfeito de pagar essa fortuna por três chás e três cafés turcos, ele fez que nao tinha me escutado, chamou o ajudante e começaram a dobrar o tapete.
Aquele negócio enorme foi dobrado na metade, na metade de novo, depois no outro sentido, e de novo e de novo e colocado numa sacola de 40 cm de altura por 80 de comprimento.
Com lágrima nos olhos ele me falou:
-Você vai ser muito feliz com esse tapete. Aqueceu meu povo por 100 anos e agora vai para Brasil. E por 2500,00.
Eu pergunto pra qualquer um que acredita nessa história, e juro que é verdade:
Aonde foi que eu errei?
Já ficou grande de novo. Vai o resto na parte 3.