quinta-feira, 17 de junho de 2010

Porrada no major

Logo que chegamos de Taubaté influenciados por Maria Lucia, minha irmã, montamos uma boutique de roupas femininas, a Mania. Eram Lenir, esposa do Tontonio, Maria Lucia e Beá de sócias. Maria Lucia que tocava. Ela era muito boa nesse negócio de moda e gostava. Promovia dois desfiles por ano que movimentava a cidade trazendo gente famosa de São Paulo e Rio como a Monique Evans e a Xuxa para desfilar.
O acontecido foi exatamente após um desses desfiles feito no Corumbaense. Tínhamos um caminhãozinho desses 3/4 e ele estava estacionado em frente a casa de mamãe que fica em frente ao clube, na contramão, aguardando o fim da festa para levar as roupas usadas no desfile para a casa da velha. Me chamaram no clube dizendo que tinham batido no caminhão e estava o maior rolo na porta. Corri para lá e quando cheguei a cena era a seguinte: o caminhão estacionado na contramão, um corcel del Rey batido de frente com ele, o nosso motorista trancado dentro da cabine e o do del rey querendo tirá-lo pela janela, completamente transtornado. Isso foi em 1985, eu tinha 35 anos e não tinha muito medo de cara valente. Cheguei no sujeito que estava querendo agredir o nosso motorista e tentei acalmá-lo. Era um cara grande de uns 40 a 45 anos, e por mais que eu tentasse conversar, ele não me ouvia e continuava com a mão pela janela, tentando bater no coitado do motorista, que nessa altura do campeonato já devia estar todo cagado de medo. Quando ele me escutou falando que já tinha chamado a policia e caso ele estivesse certo nós pagaríamos pelo conserto do carro dele que percebeu que eu era o dono do caminhão. Nesse momento toda sua ira se virou contra mim. Largou do motorista, colocou o dedo na minha cara e começou a gritar:
- Você vai pagar o conserto não vai? Fala logo porque se falar que não, vou te encher de porrada.
Tio Michel nessa hora como sempre me vem a lembrança com uma clareza incrível. Dei dois passos para trás e ele veio com o dedão em riste e repetindo o "vai pagar ou vai levar porrada". Mirei a ponta do queixo dele e mandei com toda a força que eu tinha. Tinha que ser "uma só, sem dó", como aprendi com o Michel. As pernas frouxavam e ele endurecia o joelho para não desmontar e eu na expectativa se tinha que mandar outra antes dele se recuperar totalmente. Nesse momento dois soldados do exército apareceram e me seguraram pelo braço, um de cada lado. Virei para eles e falei para segurarem o outro que queria brigar e não a mim que só estava me defendendo. Eles responderam que não podiam porque o cara era Major e superior deles. A sorte é que já estávamos cercado de gente e a turma do "deixa disso" já juntou os soldados e o major e acabaram com a briga.
Fomos todos para casa da Maria Lucia. Temos um amigo patrício, o Manara, e ele falava para mim, com aquele sotaque que árabe não perde nunca:
- Mas padricio, precisava bater no cara do major? Isso pode até complicar nossos negócios. Não “bodião” “conbersar”?
Eu, já de saco cheio de explicar pra todo mundo que só me defendi, não falava mais nada. Nisso o major invade a casa de minha irmã e vem até mim de novo, mas já respeitando, perguntando se eu achava que isso ia ficar assim. Quando ele insistiu na pergunta, se isso ia ficar assim, tive vontade de responder que não, provavelmente ia inchar pra cacete, pois o soco pegou na maçã do rosto e o olho esquerdo já estava fechando, mas fiquei quieto. Quando ele perguntou de novo, eu respondi com outra pergunta, se ele estava me ameaçando e já preparei para dar outra nele, quando a Lenir, minha cunhada, rodou a baiana:
- Quem o senhor pensa que é, e quem pensa que nós somos, para invadir uma residência particular e vir aqui nos ameaçar. Falou isso com tanta raiva e determinação que só faltou o Major se esconder atrás de mim para escapar da fúria dela. Foi quando o Manara interferiu dizendo que ia "bagar tudo".
O homem se acalmou e foi embora, não sei se pelo pagar do Manara ou com medo de Lenir. Fiquei furioso com o turco, pois não ia deixá-lo pagar e também não queria pagar por uma coisa que não tive culpa. Aí o meu irmão, sábio como sempre falou:
- Nós temos oficina que fará o serviço e ficara mais barato que contratar advogado. Depois um cacete desse vale alguma coisa, não?

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