quarta-feira, 31 de março de 2010

Puta Pato Porra


Era 1976. Laura tinha acabado de completar dois anos e já falava tudo. Papai com 63 anos, um pouco mais do que minha idade hoje, se divertia ao ver que ela repetia tudo o que escutava.

Morávamos em Tremembé e ele estava lá em uma de suas muitas visitas. Papai estava em uma fase de exercícios com caminhadas longas, saía as 4 da madrugada andava até Pindamonhangaba e voltava. Era um estirão grande e ele tirava de letra. Eu com 25 anos não tinha coragem de acompanhar. Com isso tudo ele ainda não dispensava a cervejinha antes do almoço, acompanhado de queijo provolone e Beá. Bebiam e comiam juntos todos os dias de suas férias.

Um desses dias ao chegar da Mecânica para almoçar encontro Laurinha andando pela casa, da sala onde estava papai até a cozinha onde estava Beá, e falando:

- Puta, puta, puutaa.

Batia na cozinha e voltava para a sala:

- Pato, pato, paaaatoo.

Fui falar com Beá para entender o que estava acontecendo, e ela me falou que papai estava se divertindo ensinando palavrão para Laura, e Beá corrigindo. Falei que ia conversar com ele e fui até a sala:

- Porra pai, ela é menina! Não precisa saber falar isso.

Quando escuto atrás de mim:

- Porra, porra, porra.

Era Laura que tinha escutado a conversa. Papai mais do que depressa falou:

- Eu assumo o “puta” mas “porra” foi você que ensinou!

terça-feira, 30 de março de 2010

Sopa Leão Veloso

Tinha um restaurante na rua do Ouvidor no Rio de Janeiro chamado Cabaça Grande. Papai contava que foi a primeira vez lá com seu pai - vovô Marinho. Serviam uma sopa de peixes com frutos do mar que era a coisa mais feia do mundo: um caldo preto com uns olhinhos boiando e se o cara não fosse macho mesmo ele não experimentava nem na porrada. Mas quem tinha coragem se apaixonava na primeira colherada. Era a coisa mais deliciosa do mundo. Sempre que íamos ao Rio era programa obrigatório comer a Leão Veloso, e sempre na mesma mesa para ser atendido pelo seu José, um garçon português de quase dois metros de altura. Por exigência de papai já chegamos até a trocar mesa de lugar para ficar na área do José.

Em 1982 eu morava em Taubaté e ele e mamãe foram nos visitar. No sábado por volta das 7 horas da manhã ele falou:
- E aí? Vamos comer a Leão Veloso?
- Papai! Estamos em Taubaté, a 320 km do Rio! – falei.
Ele rebateu de pronto:
- Então, bem aí para quem estava em Corumbá a 1600 km. Vamos?
Com um argumento desses, só me restou abastecer o monza 2 portas e tocar para o Rio. Só eu e ele, porque não conseguimos convencer ninguém que a Leão Veloso valia isso tudo. Para completar resolvemos conhecer a Rio Santos recém inaugurada, que além de ter uma baita serra até Ubatuba e ser mão dupla, aumentava em mais de 100 km nosso caminho. Mas fomos.

Chegamos no Rio uma e pouco da tarde mas fizemos uma besteira. O restaurante era em uma extremidade da rua do Ouvidor e estacionamos na outra. Andamos umas 10 quadras para chegar, mas na ida foi tranquilo. Tinha motivação e papai era homem de andar 10 km por dia, mas de tênis e não de sapato social como mamãe tinha feito ele colocar. Chegamos e o seu José já falou com seu sotaque carregado quando ainda estávamos na porta:
- Olhe os matogrosso aí! Nem precisa falar que já sei que queres a Leão Veloso! – E abraçou papai. E isso com papai indo no máximo a cada dois anos lá.

Comemos como se fosse a última ceia e já no fim papai falou:
- Acho que você vai ter que ir pegar o carro e trazer aqui pra mim.
- De jeito nenhum. Vou é ficar perdido! Não conheço nada dessa cidade e já errei na chegada. Mas por que?
- A porra do sapato. Machucou meu pé. Tá apertando o pé operado.
Ele nasceu com os pés para dentro e teve que fazer uma cirurgia com 2 anos. Mas essa é outra história. Voltemos ao cabaça grande:
- Experimenta o meu, as vezes dá certo.
E dentro do restaurante passei meu tênis pra ele. Depois de dar uma volta ele falou:
- Vai dar certo, mas só o esquerdo. O direito está grande.
Não teve outro jeito. Saímos do restaurante com um pé no tênis e o outro no sapato e voltamos para o carro, na maior.
De vez em quando ele olhava para mim e dizia:
- Só não podemos encontrar ninguém conhecido. Fora isso, não devo ninguém.

Chegamos quase meia noite em casa com todo mundo super preocupado.
Mamãe que não precisa de muito para perder o sono perguntou:
- Mas por onde vocês andaram?
Ele quem respondeu:
- Mas não avisamos que íamos comer uma sopa leão Veloso, mulher? A aflição toda é porque?
Acho que depois dessa vez, voltei ao cabaça grande mais uma ou duas vezes. Na última vez já não fomos atendidos pelo José. Ficamos sabendo que ele tinha falecido. Coincidência ou não, papai não voltou nunca mais ao Cabaça Grande.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Viagem a Miranda

O ponteiro do velocímetro atingia os 200 km/h e só não se ouvia a tensão no ar devido ao barulho do vento, mesmo com os vidros fechados.
O silêncio foi quebrado pela voz de papai:
- Não vai mais?
Quem respondeu foi o Raul de Carvalho, seu amigo quase centenário:
- 300 anos de irresponsabilidade.
E explicou:
- Estou com 90, a besta do Alberto 80, o chinês aqui do lado deve estar fechando 70, e o motorista aí, esse demente, uns 50. A soma dá quase 300 anos e ao invés de se falar do perigo de andar nessa velocidade numa estrada cheia de animais, o homem aí provoca o filho a correr mais ainda.

Estávamos em 1994, indo a Miranda para comprar uma serraria. O carro era um honda accord EX preto, ano 92, de papai. Eu no volante e ele pedindo pra ver se o carro era bom mesmo. Ele não tinha medo de velocidade e confiava demais em mim. O chinês era o Ivan Chu, uma das pessoas mais inteligentes que conheci, no passado meu chefe, e naquela época meu braço direito e quem iria montar uma serraria comigo em Campo Novo. O Raul era amigo de papai de longa data e, apesar da idade, o mais lúcido de todos nós.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Siesta no Angico

Era um dos passeios de que ele mais gostava, mas a bem da verdade em qualquer viagem que eu o colocava em uma estrada, ele ia feliz. Saíamos cedo para a Fazenda Angico. Nas passagens de porteira, deixava o carro em drive com o freio de mão puxado. Eu descia, abria a cancela e ele, soltando o freio de mão, atravessava o carro pra mim. Depois de muito tempo descobri que muitas vezes ele não queria ir para não deixar mamãe sozinha, mas lembrava que atravessar todas as 8 cancelas sozinho era cansativo, e então ia só para soltar o freio de mão.

Se o serviço fosse embarcar o gado gordo, ele ficava no carro contando as entradas de cada cabeça no caminhão boiadeiro, se tivesse uma máquina operando em um plantio, ele sempre tinha uma observação, e assim passávamos a manhã.

Na hora do almoço, sentávamos e comíamos como gente grande. Não tinha comida ruim para ele. Gostava do feijão do fogão a lenha, do doce caseiro, do cafezinho. Terminávamos e íamos para a varanda. As redes armadas em ganchos paralelos e independentes. Com uma corda amarrada no punho da rede dele, eu balançava a nós dois. Quando tinha muita mosca, ele colocava um lenço sobre o rosto e em menos de dois minutos estava dormindo profundamente e roncando. E como roncava. Era impossível dormir ao lado dele. Depois de trinta minutos a uma hora, eu levantava e levava um café pra ele e aí a conversa era sempre a mesma:

- E aí, dormiu ?

- Não consegui, eu respondia.

Em vez de perguntar porque não, ele dizia:

-Também não.

Roncava muito mas era um companheirão.

quinta-feira, 25 de março de 2010

O dia em que ele ficou com medo

Eram 6:00 horas da tarde. Não lembro a época mas devia ser inverno pois já estava escuro. Estava saindo do escritório da ema quando veio a notícia pelo rádio da fazenda. A filha de 3 anos do Temporal, empregado nosso dos mais antigos, tinha sido picada por uma cobra boca de sapo na fazenda S.Bento que ficava na estrada Parque do outro lado do Rio Paraguai. Sabíamos que com essa idade se não entrasse no soro em no máximo quatro horas não iria sobreviver. Avião já não dava mais para ir buscar. Carro eram duas horas e meia para ir e outro tanto para voltar. Na fazenda tinha uma toyota, mas o único motorista, seu Neco, não tinha carteira e só dirigia em estrada de "chão". O único jeito era ele ir até o morrinho, na travessia do Rio Paraguai, e eu encontrar com ele lá. Ele teria que percorrer 14 km de chão mais 40 km de asfalto, o que ele faria pela primeira vez na vida. Eu, saindo de Corumbá, tinha 75 km de asfalto até o ponto estimado do encontro, que seria na balsa para atravessar o Rio Paraguai.

Para não ir sozinho convidei papai, que se prontificou em ir comigo. Abasteci o carro, uma pajero do ano, peguei o velho e deitei cabelo. De noite, numa estrada de mão dupla, cheia de animais na pista, cheia de buracos, cada caminhão que cruzávamos ficávamos por 5 segundos completamente as cegas. Lá pelas tantas ele perguntou a quanto íamos e informei que o velocímetro era mentiroso, mas marcava 180, ao que ele respondeu:

- Acho bom, pois senão ao invés de salvar uma, vão morrer três! E deu risada, mas acho que de medo...

Na hora de embarcar na balsa ele falou:

- Puta merda e se depois dessa correria toda, esse cara embarca na balsa do outro lado e cruzamos no meio do rio...

Pior que ia acontecer isso mesmo, mas chamamos por rádio a outra balsa e o comandante sabia que tinha embarcado um carro com uma menininha picada de cobra. Aguardamos na nossa margem, fizemos o translado da menina, que já estava com a mão inchada igual de boneca e viramos a cara pra traz. Cento e oitenta de novo no velocímetro mentiroso e duas horas após a picada ela entrava no soro.

Quando conseguimos relaxar papai falou:

- com o rabo zerado de tão fechado que ele ficou, mas nem Airton Senna faria tempo melhor. Valeu meu filho!

Falou isso com os olhos marejados de lágrimas.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Conversa sobre sexo

Foi numa viagem para Miranda. Estava papai de co-piloto, Raul de Carvalho e Chu no banco de trás. Papai com 80 e Raul com 90 anos. O Raul, viúvo, começou uma conversa muito engraçada:

- Alberto, sabe da menina que te falei antes?

- Aquela do guarda roupa? - perguntou papai;

- Ela mesmo. Filha da puta, pegou o guarda roupa e cade de voltar lá.

- Você é burro - falou papai - Devia comer primeiro.

Nessa hora todo mundo se assustou. Que história é essa? Comer quem? Com 90 anos? Como consegue? E essas perguntas foram sendo respondidas com uma naturalidade dos velhos que só existe nas crianças. Papai, entusiasmado com as perguntas minhas e do Chu, e mais jovem perguntou ao Raul:

- Mas fica bem duro?

Ao que ele respondeu:

- Olha Alberto, duro duro não fica, mas faz lombinho.

Ao que papai replicou:

- Mas vale um guarda roupas?

terça-feira, 23 de março de 2010

Casca grossa

Foi na copa do mundo de 1994. O Brasil tinha ido para a final e parecia que após 24 anos seria campeão do mundo de novo. Já estava com os filhos todos grandes, Laurinha com 20, Betão com 18 e Daniel e Guilherme com 17. Todos eles estavam muito ansiosos principalmente os meninos, e eu contribui muito com isso, ao descrever a emoção que tive quando fomos tricampeões e eu é que tinha 20 anos.

No dia da final a concentração começou cedo. A tensão estava no ar. Seríamos vitoriosos? Quem seria o herói? Estávamos preparados para ser campeões? E para a derrota? Nem fale que dá azar. Fui até a casa de papai. Achei que ia me acalmar, mas piorou. De um lado um bando de guris que nunca tinha sentido o gosto de ver o Brasil ganhar. De outro, um senhor de 81 anos, se perguntando se ele ainda teria a oportunidade de ver um brasileiro erguer a taça novamente. De preocupado, fiquei super preocupado. Me lembrei de 90 quando ele chorou ao sermos derrotados na final pela França.

Combinamos de ver juntos pois éramos pé quente. Não chamaríamos o Antonio de Arruda, ele devia ser o pé frio, responsável pela porra do Zico ter jogado aquele pênalti pra fora. Acertado os detalhes, fui pra casa. Chegando lá, já escutei um Brasiiiooo. Era o Beto. Quando me viu já foi dizendo que veríamos o jogo juntos, e que queria ver na TV do vovô que era de 40", coisa rara na época. Dez minutos antes chegamos na casa do velho. Ele ficou super contente quando nos viu e disse que não tinha como não ser campeão, mas que a melhor maneira de ser vitorioso era estar preparado para a derrota, o que já causou uma discussão que foi até o apito inicial.

Fiquei 2 horas naquela tensão, vivendo aqueles minutos, um a um, que só quem é fanático por futebol entende. As explosões de alegria nos nossos gols, até aquela errada do italiano quando na disputa de penalts mandou a bola por cima da trave. Éramos campeões! Papai estava vivo para assistir ao tetra e meus filhos para ver um brasileiro levantar a taça. No meio daquela alegria, vi papai e Daniel abraçados, chorando, e disse:
- Que merda é essa? Porque estão chorando e eu rindo?
Papai respondeu de pronto:
- É que você tem a casca grossa. Já a minha está toda trincada e a dele ainda não se formou.
Hoje choro por muito menos. Velho sábio.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Consolo

Quando me casei com Beá tínhamos uma dúvida. Teríamos filhos? Com 11 anos tive urquite e com 18, na ocasião do exame pré nupcial do meu Irmão, fiquei sabendo que tinha baixo nível de espermatozóide, o que deixava dúvidas se um dia poderia ter filhos. Mas havia uma certeza, que se os tivesse, e um deles fosse homem e o Zé não tivesse nenhum filho homem ainda, ele se chamaria Alberto. Beá teve muita coragem e amor ao aceitar tantas condições, ou confiava no taco dela. Quem vai saber. A fama era que na família tinha parideiras de primeira. Balançou a cueca engravidou, dizia meu sogro.

Papai não sabia do meu acordo com o e nem desconfiava do porquê de eu querer tanto um filho homem. Quis o destino que a Beá engravidasse na lua de mel. Nós pensávamos que não havia necessidade de pílulas, afinal o Dr. Lineo Cordeiro me garantiu que sem umas injeções de não sei o que, não existia o menor risco. A bem da verdade ele não sabia que minha mãe tinha me garantido que eu teria muitos filhos. Ela só não me avisou que em seu sonho eu não tomava as injeções de não sei o que do Dr Lineo. Mas isso é matéria para outra história, de mamãe e não de papai.

Pois bem, morávamos em São Paulo, ultrassom ainda não existia, e o sexo do bebê só se sabia quando o médico saía da sala de parto e falava: é menino ou menina. Até ali tudo era especulação. Papai fazia umas contas e falava que era homem. Mamãe tinha sonhado que era mulher. Beá definiria o nome se fosse mulher. Homem era Alberto, não tinha escolha. Papai e mamãe acertados que viriam para o parto. Eu achando que seria o único filho que teria, uma vez que só tinha explicações do além para aquela gravidez.

Data provável: 12 de Fevereiro. Papai não podia se ausentar do Marinho por muito tempo, e queriam ficar com o primeiro neto o máximo possível, então foi acertado que viriam no dia 9. Mamãe morria de medo de viajar. Em avião não entrava de jeito nenhum. Carro com papai dirigindo também não. Pegaram o trem de Corumbá até Campo Grande e ônibus de lá para São Paulo. Saíram dia 08 e chegariam dia 09. Nesse período não tinha comunicação nenhuma, celular era ficção cientifica. Laurinha resolveu não esperar. Chegou dia 9 de Fevereiro de 1974, esbanjando saúde e já a cara do pai. Papai na estrada. Quando fui a rodoviária para pegá-los o nome já estava meio acertado. Seria Gabriela ou algo assim. Cheguei com cara de recém pai e mamãe olhou para mim e disse.

- Já nasceu! Menino?

- Menina! Linda e perfeita - Falei.

Papai todo feliz, de pronto falou:

- Não fique triste meu filho que no próximo vem homem.

E mamãe já completou:

- Eu prometi que vai se chamar Laura de Vicunha.

A promessa foi cumprida em parte.

domingo, 21 de março de 2010

Acordo de irmãos


O é de 47 e eu de 50. São três anos e três meses de diferença mas ela já foi maior. Quando criança eu gostava de sair com ele, mas até eu completar 14 anos não era correspondido. Era o pirralho que ia contar para a mamãe que ele já estava fumando, ia encher o saco das namoradas, enfim não era bem vindo nas suas saídas. Até ir estudar fora e vir as saudades. Aí, nas ferias ficávamos grudados. Ele estudava em São Paulo, eu em Corumbá. Depois fui para São Paulo e ele, por causa da asma, para São Carlos e de lá para Lins.

Foi em uma de nossas viagens para São Paulo, embarcávamos no trem aqui em Corumbá, junto com o carro e íamos até Três Lagoas. Lá descíamos do trem, desembarcava o carro e seguia até São Paulo. Em uma dessas viagens, já com a saudade de casa apertando, fizemos o acordo: quem tivesse o primeiro filho homem ia chama-lo de Alberto Affonso Marinho Neto. O assunto da viagem foi em torno disso. Que não poderia existir homenagem mais merecida a um pai como aquele;
- E se a mulher não concordar?
- Num case. Avise antes e tome o compromisso.
- Certo, e se ela concordar e depois não concordar mais?
- Obrigue. Combinado é combinado e isso é coisa séria. É de promessa e com testemunha.
- Tá certo!
O acordo foi selado e a corrida começou.

No dia do pedido de casamento, veio junto a condição, que foi aceita por ambas as noivas. Ele casou primeiro, em fevereiro, e eu logo atrás, em abril do mesmo ano. A minha emprenhou na lua de mel. Mas Beá me deu uma linda menina, Laura. Lenir engravidou em seguida e pariu homem, mas o destino não deixou que ele vivesse mais que 24 horas e quando foi para registro, já estava desenganado. Foi batizado como Gabriel, igual ao anjo da Anunciação e a primeira rodada estava terminada sem que ninguém marcasse o gol de ouro. Corremos para a segunda rodada e ele saiu na frente dessa vez. Mas veio uma menina, linda, mas menina. Beá engravidou quando Laura tinha 9 meses e dessa vez, acertei na mosca. Veio o Alberto Affonso Marinho Neto e por toda a vida de papai ele só o chamaria de xará.

O Zé teve mais dois filhos. A primeira tinha sido uma menina, como já dito, que por promessa de mamãe recebeu o nome de Mercedes. O segundo foi homem, que também cumprindo promessa da velha, chamou João Bosco. Quando Lenir engravidou pela quarta vez, ele correu pra mamãe e disse: esse vai se chamar Tadeu. Não mude que já prometi primeiro. E ele se sentiu vingado por eu ser pai e filho de Alberto. Foi a maior homenagem que recebi na minha vida.