quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O Apelido

Se você quiser que um apelido pegue, basta ficar zangado quando for chamado por ele. Eu já tive muitos e variavam com o local e idade e nenhum pegou. Até os 10-12 anos, era o Tadeu Pneu. Acho que era por causa da rima, pois meu primo também era Dirceu Pneu. Até hoje nos tratamos por Pneu. Passei algum tempo como Tadeu Bostinha, por causa do cavalo Baio Bosta que me jogou de cara no chão. Fui estudar em São Paulo, tinha gente que me chamava de Marinho, Indio, mas sempre fui Tadeu para a maioria. Agora para os netos sou o vovô Tatá. Nunca me importei com nenhum deles. Mas conheço gente que joga pedras, corre atrás, xinga a mãe quando é tratado pelo apelido e outros que não sei nem o nome, só o apelido. Da turma dos que não gostam, o pior foi o Arildo. Ele tinha uma Farmácia e andava com os pés para fora, tipo papagaio. Botaram um "Dez pras Duas" nele. O homem ficava uma fera e queria comer o fígado quando alguém se dirigia com esse nome a ele. Fiquei sabendo isso da pior maneira possível pois, eu com 10 anos, me mandaram na Farmácia dele procurar pelo "Dez pras Duas", e pegar uma encomenda e não falaram que ele detestava o apelido. Inocentemente, cheguei nele e falei:
-Dez pras Duas?
Ele respondeu um "Não" meio seco e, com os olhos, procurou alguém.
-Sabe quem é? Insisti, pois achei que ele estava procurando pelo sujeito
-Sei, ele respondeu e completou já não agüentando - a puta que o pariu, seu filho da puta.
Como era criança fiquei sem reação e olhei para o outro lado da rua, onde estava o João Vitor, amigo de meu pai e que me aprontou essa. Ele estava rachando de dar risadas.
Mas as historias do Arildo são inúmeras e cada uma mais engraçada que a outra. Saiu uma propaganda dos relógios Seiko, e era uma folhinha grande onde tinha um relógio desenhado marcando 10 para as duas. Um dia chega uma dessas pelo correio para ele. Vinha com uma espécie de AR para ele assinar e o "Filho da Puta" sobrou para o carteiro.
Na farmácia dele, atrás do balcão, tinha um relógio elétrico de parede. O Antonio de Arruda, o dentista de todos da cidade, seu vizinho e muito gozador, sincronizou seu relógio com o da Farmácia. Ligou para ele e ficou de papo até dez pras duas em ponto, e aí perguntou as horas. O Arildo respondeu com o FDP dele e bateu o telefone. Quando isso aconteceu, ficaram sem se falar por dias, até o Antonio pedir desculpas, mentir que foi coincidência e o escambau. Fizeram as pazes mas o Antonio não agüentou e aprontou de novo. Na comemoração dos 50 anos do Arildo, o Antonio entra em seu quarto e, usando o telefone da cabeceira, chama o serviço de despertador recém inaugurado em Corumbá, e pede para ser chamado às 10 pras 2 da madrugada. Completa, ainda, dizendo que quando ele estava com sono tinha a mania de xingar, mas que a telefonista, já antecipadamente, o perdoasse mas que enquanto não tivesse certeza que ele estivesse acordado não deixasse de ligar, e sempre dizendo que já eram 10 pras 2, já passava de 10 pras 2, sempre martelando nesse horário, pois ele tinha que ir para Campo Grande para a reunião mais importante da vida dele, blá blá blá... O serviço era que nem de hotel, tudo manual. A pessoa passava o tempo todo ligando e quando tinha mudança de turno, deixava tudo escrito, inclusive as observações que os clientes faziam. Você pagava por cada ligação e tinha adicional se fosse repetido, pois era tido como serviço despertador. Depois de dado o recado a pessoa retornava para o número que tinha que chamar e confirmava tudo. Depois de certificado que a armadilha estava bem armada, o doutor foi para casa dormir. Chegou no dia seguinte prestando a maior atenção em todos os movimentos em volta do seu consultório e estava tudo muito quieto para 8:00 hs da manhã. Estacionou seu carro e foi abrir a porta de blindex de seu consultório.
A chave de sempre não entrava de jeito nenhum e ele começou experimentar outras de seu chaveiro. Nesse ínterim aparece o Arildo e diz:
-Bom dia, doutor. Problemas?
-Não, tudo bem. Acho que a Mari pegou a minha chave e essa parecida aqui não quer entrar.
-Nem essa, nem nenhuma outra vai entrar ai nesse seu buraco. Ele esta cheia de super bonder.
-Mas quem foi o filho da puta que fez isso? - foi uma pergunta que sai do automático do nego emputecido.
-Não sei não, mas deve ser o mesmo filho da puta que ligou pro serviço despertador da minha casa ontem.
-E agora, como vou fazer? Estão chegando meus clientes?
-Experimenta quebrar a porta. Seu prejuízo vai ser menor que o meu, que terei o telefone cortado e provavelmente uma ação por dano moral da telefônica.
Ele sabia que não poderia ser outro e o Antonio ficou tão sem ação que já se denunciou. Acho que depois dessa nunca mais se falaram.
Outro apelido que pegou foi de um peão meu, o Pé de Pano. Ele catracava a filha do capataz e como este era muito ciumento, varria bem a areia em frente da janela do quarto da menina e no dia seguinte ia procurar os rastros por lá. Nunca encontrava nada, pois o Ricardão amarrava um pano em cada pé e não deixava rastros. O apelido só pegou pois os companheiros de quarto descobriram e o chamavam assim, e na frente do homem. Não tinha como ele gostar.
Outra história parecida e que confirma a minha teoria foi de outro peão. Era solteiro e pegava as mulheres dos companheiros todos e vivia de gabando disso. Quando o apelidaram de Ricardão ele gostou e ficou cheio de si. Quando o viram pelado no banheiro e o calibre de sua arma, mudaram para Ricardinho e aí ele já ficou ofendido e na ânsia de se defender, caiu na besteira de dizer que ele duro ficava muito maior. Mudaram para "Picadura de Mosquito" e esse o acompanha até os dias de hoje.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Virginia Kevork Choulian

Dona Virginia faz parte daquele seleto grupo de pessoas que não queremos esquecer jamais, nem eu nem Beá. É a esposa do Choulian e uma das pessoas mais educadas que já conheci. Quando trabalhava na Mecânica Pesada e era o chefe de departamento de Engenharia, ela era a minha calculista número 1. Eu era seu chefe e o marido, o Choulian, era o meu chefe. Era uma situação muito peculiar, com muitos lances engraçados, como todas às vezes que eu queria dar um aumento salarial para ela e ele não autorizava, apesar de saber ser merecido. Era um parto e às vezes até ela falava que não queria. Devia ser ele perturbando. Mas aprendi muito com ela pois quando comecei a calcular equipamentos hidromecânicos, ela foi a minha professora. Quando tinha algum cálculo mais complicado, fazíamos juntos e me lembro, que nessas horas fumávamos demais, eu no Minister e ela no LS, foi a única pessoa que conheci que fumava essa marca, acho que era fabricado sob encomenda.
Ela era engenheira civil, tinha terminado o curso na Bulgária, mas não conseguiu pegar seu diploma. Foi na época que o comunismo tomou conta de seu país e vieram de qualquer jeito para o Brasil. Um dos meus primeiros projetos na área foi de uma comporta e por ocasião da fabricação descobriram que se construíssem como eu tinha projetado, teriam que prender um soldador dentro de cada elemento. Tinha um compartimento estanque e todas as soldas eram internas. Era ainda inexperiente e fui motivo de gozação da fábrica toda. Ela me consolou dizendo que só errava quem fazia e eu tinha que me acostumar a isso pois era novo e ainda faria muitas coisas e, conseqüentemente, várias besteiras. Arrumou o projeto para mim fazendo uma boca de visitas no compartimento estanque e resolveu tudo. Quando fui promovido para chefe, foi uma das pessoas que mais me incentivou.
O casal, além dessa relação de chefia cruzada, era nossos melhores amigos. Éramos estrangeiros de Corumbá, naquela cidade de Taubaté. A dona Angel, mãe do Choulian era uma excelente cozinheira e sempre que fazia alguma coisa especial, nos convidavam para comer com eles. Tinha uma massa folheada inesquecível. Foi em um desses jantares que tive meu controle emocional testado, eu e mais o resto do povo. Tínhamos um amigo em comum, solteiro aos 35 anos e arrumou uma namoradinha nova e a levou para nos apresentar, em um dos jantares da dona Angel. Sua principal característica era a seriedade. Ele era, antes de tudo, um cara sério. Nunca o vi, ou ouvi, dar uma gargalhada. Ele sorria. Era muito simpático, mas sério. A namorada, era compatível com sua seriedade, trintona e séria também, mas tinha uma mania muito engraçada, ela gostava de coçar a orelha dele. Era uma coçadinha carinhosa. Começava com uma esfregadinha no lóbulo, colocando-o entre o polegar e o indicador, assim como se estivesse contando dinheiro, e alternava para a parte de cima, quando com os outros três dedos ela fazia o contorno da parte superior da orelha, aquela onde a cartilagem era durinha. Ia se alternando e não parava. Bebia com uma mão e a outra na orelha do homem. Ele falava meio sem mexer a cabeça para não atrapalhar a coçada. Com o tempo aquilo foi avermelhando e o pessoal começou a perceber e já não podia um olhar para a cara do outro sem querer sorrir. Já tinha gente querendo sugerir que se alternasse as orelhas, pelos menos ficariam as duas da mesma cor. E a preocupação com a necrose? Será que se fosse o dia todo assim, não poderia vir a gangrenar? Com essas idéias passando pela cabeça de todos e àquela vontade de dar risadas sem ter motivos que justificassem pois a conversa era de coisa séria, foi ficando uma coisa acumulada e começaram as idas no banheiro. Acho que o nego ia para rir tudo que podia e voltava de olho inchado e torcendo para que o martírio tivesse acabado, mas chegando na sala via que estava tudo igual e nada havia mudado, nem mesmo o lado da orelha, talvez só a sua cor, mais vermelha.
Até hoje, quando vemos um casal, com um acarinhando a orelha do outro, já lembramos daquele jantar inesquecível e começamos a dar risadas.
Mas éramos una equipe e tanto. Se comparado a seleção brasileira, éramos a de 70.
Bons tempos.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O pouso

Quando morávamos em Taubaté, todas as férias eu trazia a família para Corumbá. Normalmente eu dividia a minha em quatro partes. Trazia no início de julho, passava uma semana e voltava, vinha no final do mês para buscar e no final de ano repetia a dose. Por economia e para não ficar muito puxado, a perna sozinho de Corumbá - Taubaté, ida e volta, eu fazia de avião. Foi numa dessas que eu vi o homem da foice de perto. Fui até Campo Grande de caravan, uma perua opala da Chevrolet, e peguei o trem para Corumbá, com Beá e os 4 filhos. O carro, como sempre, ficou na casa de meu tio Jamil. Passada a semana embarquei na VASP para São Paulo com escala em Campo Grande e toda a família foi me levar ao aeroporto. Despedimos-nos e por pouco não foi pela última vez.
Era um boing 727 e sentei na poltrona sobre a asa do lado esquerdo e na janela. Decolamos e adormeci em seguida, só acordei com a aeromoça me avisando que estávamos chegando em Campo Grande e que devia afivelar os cintos. Nesse momento percebi que tinha algo errado. O avião vinha totalmente inclinado para a esquerda, do meu lado, e caranguejando, andando meio de lado. Já muito próximo da pista e como o comandante não corrigia, um piloto de monomotor fajuto na poltrona de trás começou a gritar que a asa ia bater na pista. Foi então que percebi que estávamos com um vento de través muito forte e que para manter o avião alinhado com a pista o piloto tinha que baixar a asa para o vento. Alguns segundos antes do toque na pista, o comandante corrigiu a inclinação, mas nesse momento o vento fez ele inclinar para o outro lado e ele quicou no solo com roda direita e muito forte. O avião saiu completamente do eixo da pista e subiu mais de 10 metros e o cara resolveu arremeter. Eu sabia que o jato tem uma reação retardada e que depois que toca a pista você não arremete mais, então quando senti as turbinas acelerando e vi que o avião não pegava velocidade e, conseqüentemente sustentação, achei que minha hora tinha chegado. A altura a que ele chegou foi apenas suficiente para o comandante corrigir a direção e voltar a tocar a pista, tocar não, dar uma tremenda porrada. Isso aconteceu mais uma vez ainda e a cada toque a sensação era de que as asas iriam se partir e isso não deixava ele ganhar velocidade. Na terceira vez eu percebi que a pista tinha acabado e o próximo ia ser em cima de alguma casa ou carro, e...babau. Mas ele começou a se estabilizar e foi voando bem baixo e ganhando velocidade e depois altura.
Só nesse momento que percebi que todos estavam gritando e alguns pedindo calma. Em alguns segundos todos estavam quietos e só uma senhora sentada ao meu lado continuava gritando meio fora de si. Tive que chacoalhá-la umas três vezes e já estava para fazer que nem no cinema e meter-lhe um tapão na cara quando ela percebeu que não tínhamos caído. Quando ele começou a fazer a volta e percebemos que estava voltando para tentar o pouso novamente, recomeçou a gritaria. Nisso o navalha, através do comunicador interno dirigiu-se aos passageiros dizendo que o vento estava muito forte, 60 nós, mas que ele iria fazer um sobrevôo e só aterrissar quando melhorasse.
Nessas horas a sensação é a pior possível, pois é a de impotência total. Não tem nada que você possa fazer a não ser esperar e isso depois de passar pela sensação de que tudo ia explodir. Me lembro que na poltrona da frente e do lado direito ia o presidente da Companhia de Navegação Bacia do Prata, o Joylce Araújo. Ele estava de terno e com uma camisa azul clara. Eu percebia que seu colarinho ir mudando de cor e ficando num azul escuro pelo suor que escorria de toda sua cabeça e ia molhando a camisa ali. O piloto fajuto que estava atrás de mim era o que mais protestava, que era para largar mão de Campo Grande e ir direto para São Paulo, isso com o destino dele sendo Campo Grande. Por isso que falo que era fajuto. Mas o bicho veio de novo e foi para o pouso. Eu já prometendo que se saísse dessa iria entrar para o time de meu irmão Tontonio, e acreditar que voar é para passarinhos, e nunca mais entraria numa lata daquelas.
Mas pousamos bem e assim que o avião desligou as turbinas, eu me levantei pegando minha maleta no bagageiro e fui falar com a aeromoça. Os passageiros em trânsito deveriam ficar a bordo, mas eu queria saber como iria tirar minha mala dali. Pegaria meu carro e seguiria com ele para São Paulo, pois naquela porra eu não viajava mais. Estava nessa conversa quando ela falou que chamaria o comandante. Não podia fazer nada, precisava das malas, mas estava disposto até a deixá-la a bordo e pega-lá em congonhas.
Com tudo isso esquematizado, chega o comandante Queimado, esse era o sobrenome dele, imaginem se isso é nome de comandante, mas seria pior se ele fosse bombeiro. Falou que isso às vezes acontece, mas que eu poderia ficar tranqüilo que o tempo em São Paulo estava bom e eu poderia voltar para meu lugar com o meu companheiro que ele iria fazer uma gentileza especial e mandar servir um vinho da reserva dele particular. Quando ele falou companheiro que percebi que tinha um baixinho atrás de mim. Olhei para ele para saber sua opinião e ele respondeu com um "Você quem sabe" que achei graça. Nunca tinha visto o tipo na minha vida. Mais por vergonha da situação do comandante, de estar ali me pedindo, por favor, que confiasse nele do que por qualquer outra coisa, voltei para o meu lugar e desta vez o baixinho sentou ao meu lado. Veio o vinho e secamos a garrafa no solo, e meu novo companheiro falava mais que o homem da cobra. Disse que na hora que eu levantei reclamando que não viajava mais naquela merda, ele que estava na mesma dúvida, mas sem carro em Campo Grande, pensou: “vou atrás desse grandão aí e o que ele fizer eu faço".
Decolamos e fiz a viagem mais tensa da minha vida, apesar do vinho, e quando o avião pousou em São Paulo, senti aquela sensação de soldado voltando vivo da frente de batalha, uma mistura de alegria e alívio que nunca senti antes.
Até hoje, todas as vezes que pouso em Campo Grande, da janelinha fico procurando os coqueiros para ver se estão muito penteados, o que mostraria que a velocidade do vento está alta. Mas não foi a única vez que quase me caguei todo dentro de um avião, tiveram outras. Fica para uma próxima.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Euromaumec II

Na Euromaumec I eu contei sobre a aposta do grupo de quem cataria a primeira européia. Tirando a rua das vitrines em Amsterdam, ninguém tinha conseguido nada e estávamos em Cortina d'Ampezzo, uma das últimas etapas da viagem. Tinha gente já entregando os pontos, como o André, que era considerado o franco favorito. Não que ele fosse o mais galã da turma mas sim por ser o menos exigente. Aqui no Brasil ele ia para a escola de Kombi, era a única, e dele mesmo, não era emprestada de pai ou coisa assim. Na lateral tinha um navio desenhado e isso junto com o tipo das meninas que ele carregava, valeu o apelido de Navio Negreiro. A fama era que bastava mexer e ter três dimensões para ser suficiente para ele comer. Dispensava só sombra, duas dimensões, e mortas, que não mexiam, assim mesmo tinha gente que falava que nesses casos havia controvérsias e dependia do tempo do óbito. O cara era terrível mesmo. É o que tentou usar a mesma camisinha na rua das Vitrines.
Chegamos a Cortina e ficamos em um hotel muito charmoso e perto de uma boate, tida como a coqueluche do local, e que se chamava Sunny ou Sugar, não me lembro bem. A noite fomos todos para lá e na entrada vi a minha Deusa, ou melhor dizendo, a nossa Deusa, pois a excursão inteira se apaixonou por ela. Dançava sozinha na boate e com um parceiro imaginário. Era a italiana mais linda que vi na minha vida, talvez perdesse para a Nena, mas naquela secura e há tanto tempo longe do Brasil, quase dois meses, aquilo era um anjo descendo no inferno, ou uma cerveja bem gelada pra quem passou o dia todo andando a cavalo no pantanal tomando água quente de cantil, ou ainda, uma mulher de carne e osso para quem estava a dois meses só na covardia e a última vez que pegou uma mulher, a única coisa que entendia do que ela falava era "no more time" em Amsterdam. Esperei a música acabar e ela abrir os olhos e me posicionei de modo que ela me visse. Quando nossos olhares se cruzaram e ela demorou aquela fração a mais para desviar o olhar, eu percebi que ganharia a aposta. Tive que correr, pois percebi que o André estava a caminho e não tinha tempo a perder.
Encostei e disse o meu "piachere", no meu melhor italiano, e ela respondeu: "Hein!??!". Aquilo foi um balde de água fria e vi que não conseguiria falar uma única palavra com a minha Deusa, quando apareceu o meu Salvador, Ricardo Ravioli. Ele tinha percebido a troca de olhares, segundo ele, e veio a meu socorro e dei uma cantada na mina com um tradutor, ele era filho de italianos e falava correntemente a língua. A coisa começou a uma da madrugada e foi até as 5 quando fechou a boate e a levei para o hotel. Tive que usar do Ricardo de novo pra convencer o porteiro que ela sairia antes das 7 quando acabava seu turno. Chegamos ao nosso quarto, era um triplo, e não consegui botar o Gerson para fora, que estava num porre só. Para completar a gentileza, o Rivardo como presidente da comissão de viagem tinha a lista de todos os quartos e descobrimos que o Gato Felix, esse era o apelido de um japonês que já esqueci seu nome, era o único que estava sozinho em um quarto. Acordamos o japa e na hora que ele viu o monumento de mulher, cedeu o quarto para mim. A noite transcorreu muito bem. Não vou dar detalhes porque este não é um porno-blog e também não quero apanhar, depois de velho, de dona Bea. Mas o despertar é que foi o mais engraçado. Acordei com o Gato Felix batendo na porta e quando a abri encontro-o de pijamas. Precisava pegar as roupas. Deixei-o entrar em seu quarto e quanto viu a mulher na cama quase enfartou. Depois dele, a excursão inteira foi até o quarto e cada um com a desculpa mais esfarrapada, "o Gato esqueceu as meias", "ele pediu para trocar essa camisa" e isso foi até que acordaram a deusa. Deixei-a no quarto se aprontando e desci para chamar o Ravioli. Antes que eu falasse qualquer coisa ele já começou a se gabar, que ele que teve todo o ônus da conquista e eu só o bônus, que se não fosse ele eu não teria conseguido nada, e por ai afora. Quando ele terminou eu só disse a ele:
- Já que foi você que colocou, agora você tira.
Naquela época as normas dos hotéis " de família" eram muito rígidas e você assinava um termo de compromisso de não recolher mulher em seus aposentos e isso era levado muito a sério. O Ricardo queria me bater, mas no fim concordou em falar com o porteiro. Disse que ela tinha entrado cedo para trazer uma encomenda e era sua prima. Isso com a mulher com uma mini saia e um decote que quase emendava o norte com o sul.
Na noite seguinte eu não fui a boate, mas o pessoal voltou lá. Fizeram fila, mas a mulher perguntava a todos que iam falar em português com ela, "dove è Tadéo". É, com o ô fechado no final e assento no e. Ninguém conseguiu mais nada, ganhei a aposta e a italiana. Posso falar que "eu não era fácil".

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Antonio Carlos Lopes

O Dr Antonio Carlos Lopes é médico de toda nossa família há mais de 30 anos e um dos caras mais engraçados que eu conheço apesar de também ser da turma dos que não fazem graça nenhuma. Eu o conheci através do meu primo Dr. Arnaldo, quando Tontonio arrumou uma infecção intestinal aqui em Corumbá e ficou 2 meses com uma disenteria, ou como ele falava, mijando pela tóba. Assim que a coisa endureceu, ele foi para São Paulo fazer um check-up, e o Arnaldo o encaminhou para o ACLopes. Ele preocupado com a caganeira que já tinha passado e o doutor fazendo um exame geral, quando ele relatou uma dor no peito quando fazia força. Um querendo que ele tratasse de uma coisa que já tinha passado e o outro preocupado com o que estava por vir. Conclusão, a caganeira que ele achava que iria matá-lo, salvou sua vida. Se tivesse um sábio por perto quando ele falava que "onde já de viu, vou morrer de tanto fazer coco", com certeza diria o famoso "Não sei não, hein."
Com 38 anos teve um entupimento de uma das artérias principais do coração diagnosticado e teve que fazer uma ponte mamária. Era julho de 1985 e eu estava passando as férias na fazenda Santa Anatalia, quando, pelo rádio, recebi a notícia de que ele estava em São Paulo e teria que fazer a cirurgia. Deixei o povo todo no dia da festa da fazenda, 22 de julho, e despenquei para Corumbá de aviãozinho e de lá para São Paulo. Já encontrei Lenir conversando com o Antonio Carlos, ele dizendo que tinha duas opções: a ponte mamária ou uma angioplastia. Essa última seria recomendada se ele morasse em São Paulo e fosse um cara tranqüilo para poder monitorar o resultado de 6 em 6 meses. Medroso do jeito que contamos que ele era, a solução era a ponte. Há 25 anos atrás isso era uma coisa temerária mas não tínhamos opção. Ele indicou o cirurgião, Dr. Enio Buffalo e fomos para a cirurgia. Nunca vou esquecer a hora que ele entrou no elevador, já na maca, para a cirurgia. Estávamos Lenir, Fábio, cujo nome verdadeiro é Massami Takahashi e seu melhor amigo, o Antonio Carlos e eu. Quando o médico viu todos muito tensos, abriu um porta-remédio que tinha no bolso e deu um lexotan para cada um. Ia guardando a caixinha quando voltou a pega-lá e tomou um também. Não sei se fiquei contente de ver um cara super humano, sentindo o nosso drama ou um médico vendo a gravidade da situação. Com o passar dos anos vi que foi a primeira opção.
Ficamos super amigos e hoje toda a nossa família se consulta com ele, mas não pensem que ele é fácil. Ficamos muito tempo convidando-o para conhecer o pantanal e finalmente conseguimos convencê-lo. A primeira visita foi a São Bento e estava programado um carreteiro de almoço com muita cerveja que era para relaxarmos. Fomos para a fazenda no PT-OVX, bem cedinho e como teríamos a parte da manhã livre resolvi levá-lo para dar uma volta de carro pelos campos da fazenda. Estava conosco também a Dona Aida, uma grande amiga que morava no Chile e saímos os três. O carro era uma toyota Hilux, cabine simples e o ACLopes foi sentado no meio cedendo o melhor lugar, a janela, para a Dona Aida. Fomos passeando por aqueles campos de pasto nativo e eu fazendo o papel de guia turístico mostrando aquele mar de capim cercando os capões, que eram as partes mais altas onde as árvores tinham mais de 15 m de altura e 3m de diâmetro, formando verdadeiras ilhas. Era uma natureza exuberante e linda, isso para os mortais comuns. Lá pelas tantas senti o braço dele apoiando no pneuzinho da minha barriga, estava com um na época e dei uma estranhada, mas como estava apertado na cabine do carro, achei que ele estava deixando um espaço maior para a Dona Aida. Continuamos navegando naquele mar e contornando as ilhas e comecei a dar nome a todas as árvores que a Dona Aida perguntava, Piúva, Cambara, Chimbuva, não deixei de responder a nenhuma pergunta, e isso sem conhecer nenhuma árvore. Mais dez minutos senti que ele foi encostando a cabeça no meu ombro ao mesmo tempo em que a D. Aida falou:
- Seu Tadeu, seu amigo dormiu.
Eu não acreditava que ia ter que voltar para casa com um marmanjo dormindo no meu ombro e fazendo a minha barriga de braço de cadeira, mas não tinha alternativa. Chegando à sede, para não deixar ele chateado, fiz que não tinha percebido que ele tinha dormido, e perguntei se ele tinha gostado do passeio, ao que ele respondeu:
-Não, nunca vi nada mais chato, era só capim e capão e essa sua toyota é muito dura, pior só seu ombro.
Fomos para o almoço e não tive coragem de perguntar se ele gostava de arroz carreteiro. Sentamos na varanda e ele abriu uma cerveja dizendo que não tomava uma há muito tempo. Antes do primeiro gole, escutamos um barulho de avião por cima da casa e pelo ronco reconheci o Baron. Fomos para a pista e o Luis Mario desceu dizendo que tinha vindo pegar o Doutor, pois o tio Alcides, irmão de papai e cliente dele há muito tempo tinha sido hospitalizado e estava muito mal. Ele me entregou a lata de cerveja sem tomar um único gole, subiu no avião e veio para Corumbá. No fim do dia voltamos com a Dona Aida e ficamos sabendo que ele tinha salvado a vida do tio Alcides. Quando fui ter com ele no hospital, perguntei se ele queria voltar no dia seguinte para a fazenda comigo e ele respondeu que já tinha visto todos os capões e capins da fazenda. Quis argumentar que íamos ver jacarés e ele disse que tinha uma folhinha no consultório dele e ele já conhecia o crocodilo, e não queria vê-lo pessoalmente. Desisti.
Isso há 23 anos atrás. Agora a última dele foi no meu check-up deste ano, na semana passada. Meus exames laboratoriais deram uma alteração e eu queria voltar para Corumbá e só poderia fazê-lo depois que ele visse os mesmos e me liberasse. Ele queria que eu voltasse no seu consultório na sexta feira e sua secretaria falou que eu não o fizesse pois tinha trocentas pessoas com retorno para esse dia e eu iria passar o dia todo lá. Que ela me ligaria para dar o parecer do Doutor assim que ele visse meus exames. Como isso não acontecia e eu já nervoso, passei uma mensagem para ele que transcrevo abaixo, achando que teria uma resposta:
"Doutor, não quero encher o saco mas estou nervoso. Favor responder com uma das alternativas:
1) ainda não vi seus exames;
2) esta tudo jóia, não quero te ver mais este ano;
3) vc tá ferrado e tem que vir aqui.
Abraços, Tadeu"
Ao que ele respondeu:
"ok, abraços".
Pergunto, é fácil?
Agora tem uma coisa, ele faz diagnostico por telefone, fotografia, com outra pessoa contando a ele quais são seus sintomas. O cara é um bruxo ou mágico, e todos nós gostamos muito dele, mesmo quando ele faz meu pneu de braço de poltrona e meu ombro de travesseiro e depois ainda reclama, mas não é fácil.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Ronaldo, o galinho

Nunca devemos julgar algo a luz de um único fato. Tem aquela história do rapaz que ganhou uma bicicleta no bingo e enquanto todos falavam que ele era um cara de sorte, um sábio respondia “Não sei não, hein!”. Aí o cara caiu da bicicleta e quebrou a perna, e enquanto todos falavam que ele era um cara azarado, lá vinha o sábio com o "não sei não" dele. Aí veio a guerra e todos da idade do rapaz foram convocados e o de perna quebrada não e a coisa assim vai.
Eu estava indo para a fazenda junto com um tratorista, o João Fernandes, quando vi que voou alguma coisa de um caminhão que ia na minha frente. Como estava meio longe, deu para reduzir a distância e encostei bem ao lado daquilo que tinha caído e parei o carro. Era um pintinho, o caminhão era daqueles da sadia que entregava os bichinhos para outros granjeiros criarem. A cada 45 a 60 dias, eles já prontos, outro caminhão passava recolhendo e levava para o abate. Com tanto Pinto "aquele" que tinha que voar do caminhão? Que azar, com tanto carro passando naquela estrada, tinha que ser eu quem estava atrás dele? E eu que nunca presto muita atenção em nada, que azar de novo, mas resolvi parar ao lado daquela bolinha amarela sem importância e achar o Pinto? Que sorte. Peguei o bichinho, dei pro João Fernandes que estava na frente comigo e tocamos para a fazenda. Chegando lá, meu capataz Dorival não entendeu nada quando viu o pintinho. Como há pouco tempo atrás ele tinha feito uma encomenda de verduras, tipo alface, acelga, agrião e outras, mas eu tinha dado uma de desentendido e levei sementes de todas essas folhas para ele fazer uma horta na fazenda, quando ele viu o pintinho achou que foi a carne de frango que ele tinha pedido.
Mas o bichinho acabou virando mascote da turma e tinha até nome, Ronaldo. O pessoal vivia gozando o João Fernandes dizendo que ele viajou segurando o pinto do patrão e ele falava: "Não posso negar, só esclarecer". Tínhamos um pastor alemão, o Panter, e ele adotou o Ronaldo. A primeira vez que eu o vi colocá-lo inteira na boca, saí com um pau pra bordoar ele quando o Dorival interviu dizendo que ele só estava colocando o Ronaldo para dormir. Ele cresceu, virou um galo bonito, branco, e começamos a criar galinhas só para ele ter companhia. Dorival falava que foi pior do que as verduras, pois nesse caso eu levava as sementes, e depois do Ronaldo nunca mais compramos nem ovo.
Eu não imaginava que um galo pudesse viver tanto tempo assim e hoje eu tenho dúvidas se não se passaram mais de 10 anos mas foi um tempo absurdo. Quando ele morreu, estava cego, manco e era de uma magreza impressionante. Tinha que triturar o milho para ele conseguir engolir, mas acho que dos outros 10.000 pintos que estavam no caminhão, nenhum outro viveu tanto e foi tão bem tratado quanto o Ronaldo. Hoje podemos falar que ele foi um pinto de sorte.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Elvira

Eu já tinha marcado esse tema para escrever e depois apagado, mas outro dia, conversando com Bea, ela me convenceu de que Mamãe não se importaria se eu contasse da Elvira neste blog e que deveria fazê-lo pois se quero deixar registrado tudo sobre papai, a Elvira não poderia faltar. Qualquer problema com a mamis, Bea, como mulher, é quem vai resolver. Mas Elvira foi uma paixão de solteiro de papai, pois amor foi só Mamãe mesmo (tenho que amenizar as coisas e como eu que leio as histórias desse blog para ela, os entre parênteses eu pulo).
Não a conheci, mas segundo ele, era a boliviana mais bonita que ele viu na vida. Morava na avenida quase esquina com a Frei Mariano. (Deve ter sido marcante, pois ele me contava as histórias deles e todas as vezes que passava em frente de onde tinha sido a sua casa ele me falava “aqui que morava a...” e antes dele terminar eu completava "Elvira"). A casa era dessas construções seqüenciais. A porta dava na rua, não tinha nenhum recuo, e começava com a sala, cozinha com uma área aberta e banheiro, aí o quarto dos pais da Elvira e por último o quarto da diva. Na área aberta, junto à sala, ficava a janela e a porta da cozinha, a porta janela do banheiro e a porta e janela do quarto dos pais da moça. Ele contava, como prova de sua coragem, que ele vivia dormindo com a Elvira em seu quarto, mesmo tendo que atravessar o quarto dos pais primeiro. Pela janela ele sondava se os dois estavam dormindo, tirava os sapatos e entrava na ponta dos pés. Ela na frente e ele atrás se borrando todo. Teve a vez que ele pisou no gato e o velho acordou. Ele deitou no chão e ficou escutando a conversa dela com o pai, que reclamou do avançado da hora e dela estar com aquele playboy gordo que não queria nada sério com ela. Com o playboy ele não achou ruim, mas contou que quase xingou o velho pelo gordo. Teve que ir de arrasto pelo chão até o quarto dela. De outra feita, ele perdeu a hora e quando acordou era dia claro. Teve que sair na maior cara dura como se tivesse acabado de entrar, dizendo que veio para arrumar a porta do armário do quarto dela, dando até logo e dizendo que precisava de uma chave de fenda maior, enquanto mostrava a única que ele encontrou no quarto dela e era daquelas de apertar óculos. Mas era tão impossível que ele tivesse dormido ali que todos acreditaram e até serviram um cafezinho a ele.
Quando perguntei a ele onde estava atualmente a Elvira, ele me contou como acabou o romance. Estavam passeando a noite de carro e viram que tinha visitas na casa dela. Ele não parava esperando as visitas irem, pois a idéia era ele dormir com ela e as visitas não saiam porque estavam esperando ela chegar. Já no avançado da hora ele resolveu deixá-la na casa dela e foi para a sua dormir. No dia seguinte é que ficou sabendo que a visita era um capitão do exército que era apaixonado por ela e a pediu em casamento. Ela deu o cheque mate nele dizendo que se ele não assumisse o namoro e ficassem noivos, ela ia casar com o capitão. Na primeira vez que ele me contou essa história, eu empolgado perguntei:
- E ai pai, o que o senhor fez?
Ele deu uma risada e respondeu:
- Sua mãe chama Elvira? Deixei-a casar com o capitão e só a vi mais duas vezes depois do noivado. No começo ainda tentei umas investidas, mas na terceira vez ela me cortou definitivamente da vida dela. E o pior é que deve ter feito alguma macumba para mim, pois eu não conseguia esquecê-la.
Isso aconteceu quando ele tinha 26 anos e ele ficou meio baleado até os 33 quando apareceu a Julieta e quebrou o feitiço da Elvira. (Mas segundo ele, não foi fácil!)

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Rafael

Meu primeiro neto, o Rafael filho da Laura, nasceu antes que eu completasse 50 anos. Para quem esteve um dia arriscado a não ter filhos, a vinda do primeiro neto foi muito emocionante. Curtição total e adorava vir a São Paulo vê-lo crescer. Nossos laços se estreitaram mais ainda quando fiz uma hérnia de disco e meu médico me mandou ficar deitado 24 horas por dia por uma semana inteira. Ele com 6 meses ficava comigo as 24 horas. Despenquei de Corumbá para São Paulo em todos os seus aniversários. Já fez 10 anos e ainda não perdi nenhum.

Ele já passou por várias fases. Teve a dos carrinhos, ele era fanático por essas miniaturas, e tinha mais de 100, de todos os tipos. Ficávamos horas brincando e estacionando todos eles. Quando nasceu seu irmão Thiago, ele não sabia ainda brincar com a gente e ficava querendo colocar todos os carros na boca. O Rafael com ciúmes não deixava ele mexer em nenhum. Uma das vezes, como ele não parava de chorar, eu fui convencer o Rafa de dar um carrinho a ele, pois era seu irmãozinho e com o tempo ele ia aprender a brincar. Ele olhou bem para mim e fiz aquela cara de "coitadinho do Thiago", aí ele olhou para aqueles 100 carrinhos, pegou um amarelo de plástico de porta quebrada, acho que um fiat uno, o mais velho e estropiado de todos e o entregou dizendo:
-Tá bom, tá bom, baba neste, vai.

Teve a fase dos filmes infantis. O Mágico de Oz, quero ser castigado se estiver mentindo, vi pelo menos dez vezes. Sabia as falas de cor e salteado, literalmente. O que eu mais gostava era do homem de lata. Chegava em São Paulo, ele com dois anos, já me pegava pelas mãos e íamos ver filmes, ou melhor o filme.

Teve a fase dos super heróis. Via filme de todos e ao completar 3 anos teve como tema de sua festa o palácio da justiça. Tinha todos os super heróis na mesa de seu aniversário, que foi comemorado em um desses bufet infantil. Tinha essas pessoas que se especializam em animar festas colocando as mais diversas fantasias, e a Laura estava com dificuldades para fazer ele definir quais super heróis ele iria "convidar". Por fim optou pelo batman, super homem e homem aranha. Na hora da festa, ele não saía do meu colo por nada nesse mundo. Eu insistindo para que brincasse com os amiguinhos e nada. Quando chegaram os super heróis, ao invés dele melhorar, aí sim, ele jurou que nada no mundo faria ele descer dali. Resolvi chamar o homem aranha para brincar com ele, quando descobri o que estava acontecendo. Ele começou a querer chorar de medo e eu lembro do nosso diálogo:
- Rafael, ele é do bem e seu amigo. Veio para seu aniversario.
- Eu sei vovô!
- Então, ele vai ficar chateado se você não for no colo dele.
- Tenho medo do Duende Verde!
- Mas sua mãe não convidou o duende, cara!
- Mas o problema é que onde está o homem aranha sempre aparece o Duende Verde, e esse não precisa ser convidado, ele é do mal.
Para minha alegria, a lógica já se manifestava desde cedo no gurizinho.

Agora ele está com 10 anos e começou a fase de galinho. Não pode ver uma menina bonita sem ficar fazendo pose e como ele é bem bonitão, chama a atenção de todas. Outro dia estávamos no computador quando entrei, sem querer, num site pesado e apareceu uma mulher com os seios de fora. Mudei muito rápido de página, mas não o suficiente para ele não ver e na hora falou:
- Volta, volta vovô. Deixa eu ver aqueles melões.

Fiquei meio sem saber o que fazer pois ele me considera seu amigo antes de avô e eu não poderia chamar a atenção dele por uma coisa espontânea e da qual eu tive culpa.
Dei uma disfarçada dizendo que depois íamos ver aqueles melões e torci para ele não lembrar mais dos mesmos. Só posso dizer que vi, na hora, que o menino tinha bom gosto e sabia diferenciar melão de laranja e melancia.

Ontem fomos a uma apresentação de música de sua escola. Ele toca guitarra e o Thiago bateria. Pode ser corujisse, mas são os melhores guitarrista e baterista da escola. No meio da apresentação ele se jogou de joelho e continuou teclando e eu estava vendo esses caras de banda profissional tocando. Ele é muito bom mesmo. Fiz uma pesquisa com umas 10 pessoas e Beá concordou comigo que eles são os melhores. Laura que se cuide, pois esse não vai ser fácil.