terça-feira, 29 de junho de 2010

Meu primeiro cálculo

Quando entrei na Mecânica Pesada, em 1974, toda minha experiência como engenheiro, era na área de orçamentos da Bardella, onde trabalhei por um ano. Na Mecânica fui para a área de cálculos, que era o coração e início de todos os projetos. Era meu sonho. O primeiro equipamento que calculei foi um semi-pórtico de 10 toneladas para a própria Mecânica. Estava super ansioso no dia do teste de carga e com medo. Tinha pesadelos sonhando que ia tudo pro chão. Para completar, fizeram o teste sem a presença de ninguém da engenharia e vieram com a noticia que ia cair mesmo. Na hora, quase me caguei todo, mas o Choulian, macaco velho e conhecendo o portador da notícia, respondeu na hora que era alguma burrice que eles estavam fazendo e que ele já estava descendo. Me tranqüilizou e descemos para ver o que estava acontecendo.
O equipamento era para o departamento de manutenção da Mecânica e seu chefe era um japonês fora da curva, só que pra baixo, "burro" era elogio para ele. O semi pórtico é uma mistura de pórtico com ponte, ou seja, de um lado ele tem pernas e o trilho fica no chão e de outro o trilho é elevado e fica apoiado em uma viga de concreto quase no teto do prédio. Ele tem dois conjuntos de acionamento, motores e freios, um para as rodas de cima e outro para as debaixo. Na parada os freio de baixo, por problemas de montagem, não acionavam, só os de cima e o equipamento se torcia e balançava todo o prédio. O Choulian, na primeira freada do equipamento já viu o problema.
Chamou o japonês e disse:
- Quero saber em que você vai fazer manutenção, se o que é seu esta desse jeito. Você é muito ruim. Você só não derrubou tudo porque está muito bem projetado.
Quase dei um beijo nele, pois já estava pensando em mudar de ramo e ir vender bananas na feira. No dia seguinte, sanado o problema do japonês ruim, passei umas duas horas vendo o bichão operando e fiquei muito orgulhoso.
Estava me sentindo o máximo quando chegou o edital de concorrência para fabricar as pontes rolantes da casa de máquina de Paulo Affonso IV, da CHESF. Teriam capacidade de 450 toneladas e seriam as maiores do mundo. Iríamos participar da concorrência e, ganhando, eu, com minha vasta experiência nos cálculos de um pórtico de 10 toneladas, seria o calculista. Estava super ansioso para ganhar. Já tinha esquecido o susto do japa burro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário