Dr. Alcides era o presidente de uma grande empresa que nós representávamos. Ele precisava fazer um lobby com dois colegas que queriam conhecer o pantanal e nos pediu que organizássemos um passeio para três casais, pois todos iriam com suas esposas. Além deles, tinha ainda o Zé com Lenir e eu com Beá. Era fevereiro, estava um calor de matar além de estar tudo cheio. Os programas ficaram limitados a andar a cavalo e pescar de barco na vazante da Formosa, onde nunca vi um peixe maior que 2 cm.
No dia do cavalo, a grande preocupação era colocar o Zé em cima do bicho. Arrumamos um toquinho para ele subir e saímos. Os dois outros casais eram, um de holandeses, assumidamente urbano, e o outro, o marido francês tinha uma mulher brasileira metida a amazonas. Quando fomos escolher os cavalos ela disse que queria um bom pois praticava hipismo e estava acostumada. Veio toda vestida a caráter, bota de montaria, aqueles chicotinhos duros, uma blusa soltinha, de seda, mas acho que própria de montar, chapéu com peninha, daqueles tipo boné mas duro, igual ao de jóquei, e por incrível que pareça com barbela. Na hora de subir no cavalo teve que usar o toquinho do Zé. O holandês me pediu que desse um duplo nele, pois nunca tinha montado. Quando expliquei que afrouxando as rédeas e tocando o calcanhar na barriga o cavalo andava ele já executou as ordens e o animal saiu andando devagarzinho. Ele sorrindo, meio animado e meio amedrontado, perguntou onde era o freio. Comecei a rir achando que ele estava brincando quando ele falou:
- Ria depois. Agora me fale como paro "este" merda!
Saímos naquela comitiva enorme e o programa era ir encontrar com os peões num rodeio para eles acompanharem uma curação. Estávamos andando relativamente rápido, quando percebo que o Zé com o Dr. Alcides estavam ficando para trás. Voltei e fui pedir que eles apertassem o passo, quando vejo os dois praticamente parados e os cavalos pastando, com eles em cima de rédea frouxa. Quando falei para eles acelerarem o Zé me fala:
- Porra meu, não deram de comer pro meu cavalo.
Já ia xingá-lo, quando o Alcides completa:
- Nem pro meu.
Não pude falar do jeito que eu queria mas expliquei que tinham que encurtar as rédeas e bater com o calcanhar na barriga que o bicho anda, senão eles comem o dia inteiro pois não tem horários para refeições.
As coisas ainda estavam muito tensas. Eles eram muito formais. Quando chegamos e fomos tomar banho para o jantar, a esposa do holandês chama Beá em um canto e pergunta qual era o traje adequado para o momento. Beá ficou olhando para ela como se fosse uma ET e não sabia o que responder, quando ela achando que não tinha sido clara com o seu português completou:
-Precisa de gravata?
Beá, recuperando a voz disse;
- Aqui nos usamos só roupas velhas, aquelas que usávamos na cidade e com o tempo foram ficando cada vez mais gostosas e mais feias. Meu modelito será bermudas, camiseta e chinelo de dedo. Se a senhora não tiver eu empresto. Fiquem a vontade.
Depois disso todo mundo relaxou e foi um passeio muito divertido. Fizemos bons amigos, principalmente o Holandês, que meses depois foi promovido para a presidência mundial da sua empresa . Fomos convidados por ele para assistir a corrida de formula 1 que aconteceria no Brasil e nessa ocasião tivemos oportunidade de conhecer o Shumi, é, o Michael Schumaker. Estávamos no stand, quando chega o homem de helicóptero. Quando nos viu veio nos abraçar numa informalidade que assustou a todos os presentes. Ficou conosco o tempo todo e só falava que nunca mais ia esquecer o Pantanal e devia isso a gente. Ô Holandês simpático!
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