segunda-feira, 28 de junho de 2010

Só ela

Maria Lucia é a minha irmã caçula, temporona, veio 10 anos depois de mim. Raspa de tacho, como falamos aqui. Perdi o lugar de caçulinha e ainda por cima para uma menina. Não tinha como competir. Quando Mamãe engravidou fez promessa pra tudo quanto é santo para vir uma menina. Fechou a promessa com os caras lá de cima com o nome: Maria, da virgem, e Lucia da aparição em Fátima. Tinha tanta fé que já mandou bordar o ML em todo enxoval, que era todo rosa. Era época de eleição e o Marechal Loti disputava a presidência com o Janio Quadros. Lembro de papai falando:
-O ML agente resolve chamando o menino de Marechal Loti, agora já o cor de rosa....
Mas não deu erro. Dia 22 de maio de 1960 chegou a Maria Lucia. Fomos criados apartados, pois fui para São Paulo quando ela tinha 4 anos. Passávamos as férias juntos. Quando ela tinha 10 anos, ensinei-a a dirigir. É boa de volante, apesar de mulher, devido a isso. Quando começou a ficar mocinha, era muito bonita, começaram aparecer os urubus. Eu era o gavião. Botei muito nego para correr. Certa vez cheguei no clube e dei com o pseudo namoradinho sentado ao lado dela e com a mão no seu ombro. Quando me viu o bicho deu aquela branqueada e colocou a mão no espaldar da cadeira, para disfarçar. Sentei do lado e fiquei olhando esperando pra ver se tinha coragem de voltar a pegar no ombro dela. Não teve, ficou congelado e em estado de choque. Nem respirava. Sabia que eu era brabo, não deixava ela namorar, também tinha 12 anos, e era bom de porrada.
Mas ela era obediente e mamãe não dava mole também. Acompanhava em todos os bailes e quando via qualquer coisa esquisita, ficada de pé para poder ver melhor. Dançar apertado, nem pensar.
Apesar de linda e inteligente, é desligada ao extremo. Na época da Mania, todos casados, ela devia ter uns 30 anos, chega em casa falando de uma cena "ridícula" que aconteceu com ela. Foi visitada por uma mulher que vendia lingerie e que pesava uns 100 kg. A vendedora gordona pegava as peças do mostruário, umas calcinhas de renda, encostava no corpo e se exibia para ela. Com os sultiens a mesma coisa. Cada vez que ela olhava para a mulher, ficava roxa querendo dar risada e reforçava:
- Ela era muito gorda.
Depois de contar essa história para todo mundo no sábado, no domingo fomos almoçar, como sempre, na casa da minha sogra que era a presidente da APAE de Corumbá e nesse dia tinha como convidada a presidente da mesma entidade de uma cidade do interior de São Paulo. A mulher muito simpática tinha uma particularidade: pesava uns 150 kg. Era muiiiito gorda. Sentamos a mesa e Maria Lucia ficou na minha frente e ao lado da gorducha. Papo vai, papo vem, eu escuto ela virar para a mulher, pegar em seu braço e dizer:
-A senhora não imagina o que me aconteceu ontem!
Quando ela falou isso eu gelei. Não é possível que a Lucia vai contar a história da gordinha para a gordona. Pois contou. Com todos os detalhes.
Chutar por baixo não dava porque a mesa tinha aquela travas no meio. Virava o olho, inflávamos as bochechas e ela não percebia e continuava e acrescentando detalhes que tinha passado despercebido nas contadas anteriores e reforçava:
- Mas não pense não que era lingerie de gorda não. Era aquelas para Monique Evans, de regime. E eu vendo aquela balofa encostar aquelas calcinhas micro nela. Já estava vendo a hora que ela ia se oferecer para experimentar para mim.
O silencio na mesa era mortal. Tinha gente que já estava embaixo da mesa. Ninguém conseguia fazer ela perceber, até que ela se levantou para se servir de algo que estava longe. Nesse momento, peguei meu prato encostei nela e disse:
-Você viu o tamanho da mulher que esta escutando a sua história? A protagonista era mais gorda?
Ela olhou pra mulher, virou pra mim, branquinha, fez que não com a cabeça e falou:
- Putz, e agora?
- Acho que foi essa a frase que o piloto do Enola Gay falou quando puxou a alavanca sobre Hiroshima. Agora, minha irmã, fudeu!
E fomos terminar o almoço, Maria Lucia ao lado da gorda, quieta, pálida e sem fome. As duas.
Mas não foi a única dela. Tem outras.

2 comentários:

  1. Essa foi muuuuito boa,acho que se tivesse um buraco eu enfiava minha cara dentro,rsrsr

    Ana Cristina

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  2. A história não é bem essa ,mas o fora é desse tamanho mesmo !!!
    A mulher vendia produtos pra emegrecer na academia onde eu frequentava. O produto vinha com um albúm de fotos de mulheres obesas nuas...foi qd eu vi e falei" se um dia eu ficar desse tam. eu me mato" . Qd vi o tamanho do fora , eu realmente queria morrer olhando pra ela que estava roxa de vergonha.
    Como se não bastasse repeti no dia seguinte contando em alto e bom tom no almoço...com uma gorda maior ainda na mesa.Eu realmente devia ter 'morrido' no dia anterior....rssss...
    Ass.Rainha do fora !!

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