De agosto de 1975 a dezembro de 1984, nós moramos em Taubaté. Mena, irmã de Beá, casada com Oscar Augusto, o Cauto, morava em São José dos Campos, também nas margens da Dutra, 40 km mais próxima de São Paulo. Estávamos sempre juntos nos fins de semana. Ou eles vinham para Taubaté ou nós íamos para São José. Nas férias, sempre que dava, também saíamos juntos para Corumbá. Além delas serem daquelas irmãs muito unidas, nós, os maridos, também nos entendíamos muito bem, aliás até hoje.
A Mena tem uma particularidade, ela é muito medrosa. Sempre que viajava queria ter mais companhia. Numa das voltas nossa para Taubaté, eu tinha um Dodge Dart, de não sei quantos cavalos, mas era uma tropa e tanto e gostava de correr. Bebia muito mas andava para a época uma barbaridade. Pegava fácil 160 km/h com máxima de 220 km/h, enquanto os fuscas pegavam 120km/h, e iam no máximo a VDO, que acho era o fabricante do velocímetro. O Cauto tinha um corcel com a metade da potência e não gostava de andar rápido. Desde que pegamos o trem em Corumbá (com os carros embarcados) para Campo Grande, estava preocupado de não conseguir chegar no mesmo dia como programado. Eram 1600 km de estrada e se fossemos na batida dele teríamos que dormir no caminho. Beá e Mena não dirigiam na estrada, aliás eram ruins de tudo e viviam batendo na cidade, então em estrada nem deixávamos elas dirigirem. Viajávamos muito e só sobrevivemos graças a essa precaução. Hoje já deixo Beá pegar um pouco. Mas saímos de Campo Grande e fizemos a grande viagem. Às vezes eu dava uma distraída e o Dodge, como que por vontade própria, descolava do Cauto. Reduzia, esperava por ele, pedia que assumisse a dianteira e seguia viagem. Ao escurecer as coisas pioraram. Bateu um sono no homem e ele parava de quinze em quinze minutos no acostamento, corria ao redor do carro, fazia flexões com o joelho e continuávamos. Quando achava que ia engrenar e dar um estirão, ele encostava de novo. Quando falei em ir embora e largar ele para trás, Beá quase tevê um enfarto.
Assim, aos trancos e barrancos, fomos até pararmos em um posto na entrada de São Paulo já bem tarde. Aí ele disse que estava novo, tinha passado o sono e São José já estava bem ali. Iria na frente e qualquer coisa eu o avisaria. Eu já estava de saco na meia. Viagem de 14 horas ia demorar 20, e ele ainda me gozava. Ia abastecer, entrava 15 litros no corcelzinho dele e 40 no meu dodgão, e sempre a mesma observação:
- Como bebe essa sua banheira, hein? Não sei o que você quer com isso.
E saíamos, ele com pé embaixo e eu em marcha lenta.
Quando apareceu a placa de "São José, Entrada a 1km" que tudo aconteceu. Meu dodgão deu uma guinada para a direita e entrou no acostamento, só não caindo numa pirambeira porque íamos devagarzinho. Tinha estourado o pneu dianteiro direito. Cheguei até a pensar que ainda bem que estávamos de dupla e não estava a 140. Dei sinal com a luz conforme combinado: duas vezes alto, baixo, apaga tudo, acende a alta. Uma, duas, três vezes e fiquei olhando aquela lanterna traseira do corcel dele indo embora. Pegou o acesso de São José e depois de 20 horas, eu pajeando ele, o filho da puta me largou no acostamento de pneu furado e foi-se embora.
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