terça-feira, 13 de julho de 2010

O Carpinteiro

Era por volta de 1995. Estávamos construindo a casa da sede da fazenda São João. A parte molhada, banheiros, cozinha e área de serviço era toda em alvenaria e o restante em madeira de lei, de aproveitamento do desmatamento. Era tudo feito na própria fazenda pois o custo de transporte era muito alto. Tinha um carpinteiro muito bom, mas era gente da cidade. Então tinha que levá-lo, passava um mês e trazia-o de volta pois, como ele dizia, senão o Ricardão tomava conta. O que não sabíamos é que ele era o Ricardão da fazenda.
Estava pronta a casa, faltando só pendurar as portas e janelas e tive que fazer um vôo só para levá-lo, estou evitando colocar seu nome aqui mas para que eu não esqueça no futuro, era xará de um filho meu, com seus três ajudantes. Fiquei não mais de uma hora na fazenda e quando estava para decolar me chega o carpinteiro dizendo que não tinha condições de ficar lá e que ia voltar comigo. Não entendi e já falei:
- De jeito nenhum. Vim só para te trazer aqui e só te levo de volta quando terminar o serviço. Mas qual o problema?
- Não "dotor" tem um comentário aí que seu B. (vamos chamar assim o capataz na época) quer me encher a boca de formiga.
- Que merda é essa? Quer te matar? Porque? Você mexeu com a mulher dele?
- Porra meu, já te contaram também?
- Não, mas imaginei. Mas rolou alguma coisa?
Como ele me negou, mandei chamar o seu B. Já fui puteando, que não queria saber de briga, que a fazenda era minha casa e todos que estavam nela tinham que respeitá-la.
Isso de olho no 38 do B., quando ele pediu para falar e disse:
- Não, seu Tadeu, eu só quero esclarecer as coisas. Se ele falar a verdade eu tomo meu rumo e não vou fazer nada com ele e nem desrespeitar a sua casa.
Como o carpinteiro tinha me dito que não houve nada eu falei:
- Pode perguntar o que o senhor quiser que ele vai responder, seu B.
- Não, seu Tadeu, (ele sempre começava as frases com esse não seu Tadeu), o que eu quero saber é se ele comeu a Rosa.
Todo mundo olhou pro carpinteiro que começou:
- Você quer saber se eu comi ou não comi a Rosa, é isso? Assim na lata, sem mais nem menos?
Aí quem branqueou fui eu. Pensei: que merda que eu estou fazendo. Ele me mentiu. Passou a Rosa na cara e vai confirmar pro marido. Ta tudo fudido. Olhei assustado pra ele quando completou:
- Já que você quer saber eu vou falar, assim, na bucha. Não to sabendo de nada.
Aí eu entrei rápido na conversa. Pronto seu B., se ele não sabe, é porque é mentira e ponto final na questão. Depois vou falar uma coisa pro senhor. A gente toma a frente nessas coisas se foi na marra. Agora se ela deu por livre e espontânea vontade o problema é seu com ela. Senão confia na Rosa, põe ela campo fora de traia e tudo, falei na linguagem deles. E não quero mais saber desse assunto. Chamei o carpinteiro de lado e falei:
- Se você não terminar o serviço eu que vou encher sua boca de formiga. Entrei no avião e voltei uma semana depois para pegá-lo e levar de volta pra cidade. O serviço foi feito em tempo recorde e o Ricardão dormiu o tempo todo cercado pelos seus homens.
Essa não foi fácil.

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