sexta-feira, 16 de julho de 2010

Mexeu, morreu

Devia ser por volta de 1971. Eu estudava em São Paulo e o Tontonio já estava em Corumbá. Tinha largado o curso de engenharia e veio para trabalhar com Papai. Tínhamos um primo, Edson, filho de tio Feres irmão de mamãe, que morava em casa. Os dois trabalhavam no Marinho com papai, e o Edson ficava na minha cama quando eu estava em São Paulo estudando.
Certa noite papai acordou os dois. Tinham telefonado avisando que tinha entrado gente na firma. Naquela época não tinha o 193 para ligar e muito menos policia para ir verificar. Devia ser por volta das duas da manhã e eles num sono profundo, demoraram para acordar com papai já ficando nervoso. Por fim se aprontaram e papai quando viu os dois quase caiu duro. O Edson com um revólver na cintura e um cinturão de balas cruzado no ombro. O Tontonio com uma espingarda numa mão e um facão na outra. Era o próprio exército de Branca Leone. Chegando no Marinho, no início foi aquele cagaço só. Um atrás do outro tremendo e pronto para atirar em qualquer coisa que se mexesse, mas a medida que não foram encontrando nada, nem sinal de alguém ter entrado, foram relaxando. Já estavam querendo ir embora e papai mandando, olhe em tal lugar, veja no depósito de pneu. O Tontonio que se dirigiu para esse último. Os pneus eram armazenados deitados e em pilhas de 10. Ele já de saco cheio e achando que não tinha ninguém, chegou na porta, ascendeu a luz, apontou a espingarda e gritou:
- Hei você aí! Já estou te vendo. Saia de mãos levantadas ou vai sentir o calor do meu estanho.
Acho que ele tinha visto isso em algum filme.
De repente, não mais que de repente, dois negões enormes saem de dentro dos pneus, de mãos para cima. O Tontonio, quando viu os dois, quase se borrou todo e começou a gritar:
- Vou atirar, mexeu morreu. Edson, Papai, estão aqui, são dois. Socorro!
Ele conta que os ladrões ficaram olhando um pra cara do outro sem entender nada. A coragem dos três era tanta que levaram os ladrões para a delegacia de a pé, ou seja, os ladrões andando ao lado do carro e os dois na janela com as armas apontadas para eles, com papai dirigindo.
Imaginem esse acontecido hoje. Iam todos presos. Os bandidos por roubo e os artistas por porte ilegal de armas. Tempos bons aqueles.

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