segunda-feira, 26 de julho de 2010

Casa das Sogras

A expressão "Você esta pensando que aqui é a casa da sogra?" não pode ser usada por mim. A resposta, com certeza, será "Não só estou pensando, como é, literalmente", pois vivem 3 sogras nela, a minha, a de minha mulher, e a de nossas noras. O antigo quarto de Laura foi ocupado por minha mãe, Julieta (88 anos), e os dos meninos, pela minha sogra, Odilza (80 anos), as viúvas alegres, como gostam de ser chamadas. Fica um de frente para o outro, mas como o de Odilza é maior, eu tenho três filhos e uma filha, mamãe passa o dia no quarto dela. Ficam naquelas cadeiras que reclinam e tem apoio para os pés, uma do lado da outra, vendo "Rede Vida" o dia inteiro, exceção para as horas das idas diárias na Apae e Asilo. Em dias normais assistem duas missas, em dias especiais, umas cinco. Tem a filha da nossa cozinheira de 5 anos, que convive com elas. Na ultima eleição, não podia ver nem santinho de vereador que já tascava beijo. No ritmo que ela vai, sairá de casa e ira direto para um convento. Elas não ligam quando eu falo que os quartos delas já cheiram incenso, de tanta missa que assistem.

Apesar de viver brincando com as duas, tenho certeza que tenho dois anjos dentro de casa. Meus sogros foram os fundadores da APAE - associação dos pais e amigos dos excepcionais de Corumbá à quarenta anos atrás e minha mãe vai bater recorde de presidente do Asilo São Jose, deve ser presidente a quase 50 anos. Tenho o maior orgulho das duas. Elas se divertem pois a casa vive cheia de bisnetos. Tenho 9 netos com seis morando em Corumbá, sendo que a casa do filho mais perto é quase vizinho, só pula uma, e o do mais longe fica a três quadras.

Mamãe faz chover, literalmente. Ela é muito católica e pode duvidar da dureza de uma pedra em suas mãos, mas não fraqueja nenhum minuto como qualquer ser normal, quando fala de Jesus. E é incrível como ele a atende e como a conforta quando não pode atender. Todas às vezes antes de contar essa história, tenho que jurar que é verdade pois ninguém acredita, a não ser aqueles que viveram o momento. As fazendas de engorda da Ema ficam na parte alta e todas perto de Corumbá. Temos acesso por carro o ano inteiro e algumas são na beira do asfalto. Apesar de isso ser muito bom tem um grande inconveniente, o fogo. Em 2003 tivemos um incêndio de proporções enormes. Estava com Beto e Daniel no escritório, quando veio a notícia que tinha entrado um fogo em Campo Novo. Corremos até lá para ajudar no combate ao incêndio. Quando chegamos em São Bernardo, que fica no caminho, já encontramos o capataz sozinho e aloitando com outro foco que tinha acabado de começar. Resolvemos ajudá-lo pois seu trator com a pipa cheia d'água parou e o fogo ia queimá-lo. Me lembro de amarrando o gancho na minha pajero para tirar o trator e colocá-lo em lugar seguro e o gancho da corrente estava quebrado e não conseguia encaixá-lo no reboque do carro.

O Fogo chegando e nós naquele sufoco, quando toca meu celular. Era papai. Apesar da situação, tinha que atendê-lo, quando perguntou se já tinha chovido e apagado o fogo. 
Não sei como que papai com mamãe ficaram sabendo. Eu com o trator com fogo nas rodas, falei rápido que não tinha uma nuvem no céu. Ele disse que mamãe estava rezando e que ia chover. Desliguei meio sem entender já no meio das chamas. Conseguimos arrastar o trator e depois de colocá-lo em lugar seguro fomos para a sede. Começamos a nos preparar para parar o fogo antes do mesmo atingir as instalações. As casas da sede, do capataz e do consultório de atendimento médico dentário são todas de madeira. Se chegasse ali, com a ventania que estava, ia tudo virar cinzas. Quando o fogo chegou, queimou um chiqueirinho em minutos. Nosso vizinho, o Milton Zacaner que estava passando de volta para a cidade, quando viu nosso sufoco parou para nos ajudar, mas nada segurava as chamas. Quando já estávamos entregando os ponto, já tinha acabado a água, os abafadores tinham queimados e não tinha mais o que fazer, e tudo isso acontecendo com papai ligando a cada 15 minutos para perguntar se já tinha chovido, formou um tempo totalmente fora de época e desabou um aguaceiro por 10 minutos e apagou todo o fogo. Me lembro de um dos meus filhos abraçado comigo chorando quando o Milton Zancaner me falou:
- Companheiro, eu nunca vi isso na minha vida. Você é um cara abençoado.
Respondi na hora:
- É minha mãe meu amigo. Mas deixe eu ligar para ela e avisar que já pode parar de rezar. Peguei o telefone e liguei para papai e falei, com o Milton me olhando assustado:
- Pai, avise mamãe que está chovendo e a chuva já apagou o fogo. Que ela pode parar de pedir e agradecer o "Homem".

Ela é assim. Depois desse dia, todas as vezes que o pasto esta secando e está faltando chuva, o Guilherme vai até ela e pede para ela rezar para chover. Já aconteceu, e várias vezes, de eu perguntar a ele se o pasto está muito seco e ele responder: "está, mas já falei com vovó", e não falha. É uma coisa realmente impressionante. Nunca vi nada tão de perto como esses milagres que ela consegue. Quando os netos vão falar que ela é o máximo, a resposta é sempre a mesma:
- Isso é para vocês verem como é bom esse nosso Jesus.
Bom e amigo dela.

2 comentários:

  1. A oração do justo, muito pode em seus efeitos, com certeza Deus conhece o coração de Dona Julieta e sabe o quanto ela o ama acima de tudo e por esse motivo suas orações chegam ao coração do Pai que esta nos céus e Ele tem prazer em nos ouvir

    Ana Cristina

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  2. li essa história e me emocionei!
    não pude evitar em lembrar de uma frase de Chico Xavier:

    "O BEM QUE PRATICARES, EM ALGUM LUGAR, É TEU ADVOGADO EM TODA PARTE"

    D. Julieta é bondade,luz e amor!

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