Quando eu terminei o ginásio, convenci papai de me mandar para São Paulo para fazer o científico. Ele de início ficou meio relutante, pois eu só estudava com mamãe me cobrando o dia inteiro. Ele não acreditava muito que, com a minha orelha longe da boca de mamãe, a coisa funcionaria. Mas pedi uma chance. Se não desse certo eu voltaria. Ele achava que eu com 14 anos não tinha maturidade para ficar sozinho. Concordou por fim, e me colocou interno no Colégio Arquidiocesano de São Paulo. Era tido como o melhor da época e se o cara não ralasse levava pau. Não davam moleza pra ninguém. Minha sorte foi ter escutado, não sei se sem querer ou não, ele era muito inteligente e me conhecia bem, ele dizendo a mamãe que achava que não ia dar certo, mas todo mundo merece um voto de confiança. Disse ainda:
- Ele entrou antes da hora na escola. Se perder um ano ele amadurece.
Naquele momento assumi o compromisso comigo mesmo. Me mato de estudar mas volto como um dos melhores desse Arquidiocesano de merda. Embarquei no trem em Corumbá e me lembro, como se fosse hoje, dos dois abraçados na estação dando adeus. Fiquei na janela até eles desaparecerem. Estava com meu primo Edson. Ele ia ser o responsável por mim na viagem. Ele já era experiente, fazia cursinho para engenharia. Na hora que fiquei sozinho na cabine, balancei com o trem, mas um balanço interno, na minha fé. Veio a pergunta: "Será que vou fazer merda? Vou conseguir estudar sem mamãe?"
Quando cheguei no colégio fiquei impressionado e com medo. Era muito grande. Tinha um pátio interno com uma baita igreja dentro dele, praticamente só para os alunos. O dormitório devia ter uns 12 de largura por uns 30 de comprimento. Ao lado de cada cama tinha um pequeno armário, que chamavam de cartola de mágico, pois você tinha que colocar tudo seu dentro daquele armariozinho. O banheiro era enorme também. Devia ter uns 10 chuveiros e 10 cagadores, como chamávamos os WC. Tinha uns 40 internos lá de todos os lugares do Brasil. Só de Corumbá, que eu me lembre, estavam o Roberto Spadella, Oneir Oliveira, Walter risca faca, Olavo Oliveira Lima e Geraldo Bunlai, esses do primeiro ano. Do segundo ano, lembro de Zé Wagner e Ulisses Medeiros.
Mas era um colégio que você se orgulhava de estudar nele. Minha estrela brilhou desde a chegada. Como estava atrasado uns dois dias, peguei o melhor colega meu do ginásio, o Olavo de Oliveira Sobrinho, para estudar comigo e me explicar a matéria que tinha perdido. Com isso comecei a estudar com ele, que era no ginásio o melhor aluno do Santa Teresa. De colegas ficamos super amigos.
O internato tinha o seguinte horário:
6:00 toque da alvorada. Normalmente com música que o irmão Miguel, responsável por nós, punha para tocar. Sempre Ray Conniff.
7:00 café da manha
7:30 início das aulas
11:30 término das aulas
12:00 almoço e sesta
14:00 estudo da tarde
15:30 recreio
16:00 continuação dos estudos
18:00 banho
19:00 jantar
22:00 dormir
Depois da janta até a hora de dormir era livre. Praticamente eu e o Olavo usávamos para rever as tarefas das aulas do dia seguinte. Estudávamos pra cacete. Fazíamos tudo que nos mandavam e se terminávamos antes íamos procurar fazer mais. Viciamos em estudar. De tarde fazíamos todas as tarefas que foram passadas no dia e a noite revíamos a do dia seguinte.
Tinha uma condecoração de "Honra ao Mérito" , que era concedida para os três melhores alunos do mês. Era uma prova por mês, 7 por ano. Quem fizesse 49 pontos, ou media 7, passava sem os exames finais. Media 5 ia pro exame e tinha que tirar media 5 no geral, onde os pesos eram iguais, a nota do exame e a media do ano. Abaixo de 5, levava pau. Isso para cada matéria, que eram 6 ou 7, não me lembro mais. Pau em uma repetia o ano. Depois que apareceu a 2a. época, recuperação e outras molezas mais. A classificação era na média geral, mas não podia ter nenhuma vermelha, ou seja abaixo de 5. Disputava as medalhas com dois carinhas: Sinobu Fuji Kataiama, um japonês que era interno com a gente e Mario Baldini, esse era semi-interno. Mas não sai da trinca nenhuma vez nos 4 primeiros meses.
Nas férias de julho cheguei à Corumbá todo garboso, e com as medalhas de Honra ao Mérito no bolso. Entreguei para papai e o mesmo não deu muita atenção. Fique meio decepcionado e fui reclamar com mamãe. Dei um puta duro e papai nem deu bola. Ela me consolou, falou que ele era assim mesmo. No dia seguinte a minha chegada fui até o Marinho onde ele trabalhava. Antes de encostar, percebi que ele mostrava alguma coisa para os amigos da roda. Quando cheguei perto vi que eram as medalhas. Fiquei super feliz. Ele tinha medo de elogiar muito e eu achar que já tinha mostrado do que era capaz e relaxar. Assim era papai.
Ola queria saber se esse colégio ainda existe e quanto custa para estudar nele
ResponderExcluirOlá Kah, estudo no arqui, no ensino médio (2º ano), esse colégio ainda existe sim, se chama Colégio Marista Arquidiocesano, na avenida Domingos de Moraes, em frente ao shopping metrô santa cruz, pago 1.740R$ já o 3º ano é mais caro. Os preços variam.
ResponderExcluirOla... meu pai conhece algumas pessoas que foram citadas aqui .... ele queria saber quem é o autor deste blog e como ele faz para entrar em contato com Roberto Spadella.... estudaram Juntos...
ResponderExcluirAh... meu pai é Walter Farias Yanez (Valtinho).... meu email é anabrasilyanez@yahoo.com.br
ResponderExcluirBoa tarde. Sou filha do Baldini citado do texto. Como posso entrar em contato?
ResponderExcluirNos emails tadeu@emapantanal.com.br e bea@emapantanal.com.br
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