Semana passada me lembrei muito de meu velho. Ele falava sempre que as histórias se repetem e várias vezes meus filhos me procuraram da mesma forma que eu, há muito tempo atrás, procurei por ele. Mas desta vez a história se repetiu comigo.
Temos uma distribuidora de carnes na cidade, a Sabor10, e toda semana compramos 4 a 5 caminhões de vacas da Ema, nossas empresa de pecuária e o sistema fiscal é o mais absurdo possível. O vendedor tem que ir no IAGRO, que é o órgão estadual de controle sanitário e tirar uma tal de GTA, guia de transporte animal, que só é emitida depois da verificação que existe o gado na fazenda e o mesmo foi vacinado na última campanha. Com essa GTA, o vendedor tem que ir numa agência fazendária ou em um posto fiscal, pagar o ICMS na hora e outras taxas mais e tirar a nota. Entrega esses documentos todos ao caminhoneiro que vai até a fazenda pegar o gado para levá-lo ao frigorífico para abate e no trajeto pára novamente no mesmo posto fiscal e devolve tudo para o cara que emitiu, e isso depois de ficar em uma fila por no mínimo 1 hora, com o caminhão carregado e o gado se debatendo e se machucando. Isso tudo nos dias de hoje, com pagamento pela internet até de compras no exterior, TED's e o escambau, com redes gigantescas onde sua declaração de imposto de renda, ITR e outros são feitos todos on line. Para fazer toda essa tramitação, a gerente tem a minha procuração e apesar de todo trabalho sempre funcionou bem, até o dia em que eu fui tirar a nota.
Estava com a GTA e o cheque em branco da EMA assinada por Bea, minha esposa e gerente financeira, mas sem nenhum documento pessoal. Cheguei no posto e só encontrei nego de Campo Grande e pela primeira vez na vida trompei com um japonês não muito inteligente. Quando entreguei a GTA e o cheque da empresa ele resolveu pedir meus documentos. Falei que estava sem e ele disse que não poderia emitir a nota. Como escrevi há pouco tempo a história do Lampião Aceso, que me aconteceu há 25 anos atrás, eu não acreditei. Estava acontecendo de novo. Quando eu quis me apresentar, começou o dialogo mas sem cabimento da minha vida e foi exatamente assim:
- Meu senhor, eu sou Tadeu Marinho, proprietário das duas empresas, a vendedora e a compradora.
- Então, preciso de seu documento para comprovar isso. É para sua segurança.
Corri até o carro e achei uma notificação do IPHAN e os documentos do carro, esse fica no porta luvas pois constantemente tem um filho filando ele. Mostrei primeiro o documento do carro. O japonês olhou e disse:
- Isso mostra que o carro é do Tadeu Marinho não que o senhor é Tadeu Marinho.
Mostrei a notificação do IPHAN que ele olhou e disse:
- Isso mostra que o Tadeu Marinho esta ferrado com o IPHAN e vai ter que parar a obra mas não que o senhor é o Tadeu Marinho.
- Mas estou com o cheque assinado da empresa em branco.
Aí veio a pérola:
- O senhor pode ter achado esse cheque.
Estourou as pelotas, não agüentei e disse:
- Mas que lógica é essa sua. Achei o cheque junto com a GTA e tive a brilhante ideia de vir até aqui, preenchê-lo com o valor de 800 reais entregá-lo ao senhor e pegar uma nota fiscal de 21 cabeças de gado. Isso tudo em um carro roubado ou, no mínimo, emprestado do Tadeu Marinho. Nunca vi capacidade de dedução igual a essa sua. Você devia trabalhar no FBI e não aqui. Faz o favor de chamar seu chefe que acho impossível ele não ser mais esperto que você. Veio uma senhora e ele já foi falando:
- O cidadão aqui quer que eu tire nota fiscal e não tem nenhum documento.
Antes que a mulher se manisfestasse eu disse:
- Estou com um cheque em branco da empresa assinado, com um carro do Tadeu Marinho, com uma notificação do IPHAN para Tadeu Marinho. Ou vocês tiram a nota ou chamem a policia para me prender por falsificação de cheque e roubo de carro. Eu não vou reagir e espero ela chegar. Aí a mulher falou:
- Morgana Viapiana. Tem uma procuração assinada por mim.
- Ok, para mim basta, eu conheço ela.
Nisso, na maior coincidência, encosta o caminhão da ema, com o logotipo dela estampado na porta. O motorista desce e me comprimenta:
- Bom dia sr. Tadeu, tudo bem?
Eu viro pro japonês e falo:
- É meu cúmplice e roubou o caminhão da empresa. Vocês querem é me gozar.
O japonês não agüentou e começou a dar risadas. Depois de meia hora me liberaram com a porra da nota.
Depois de 2 anos, estou eu aqui um dos integrantes da estória contada "o japones". Eu estava trabalhando no local ha pouco tempo, não conhecia o cidadão, e estava somente cumprindo minha obrigação, tentando identificar se de fato o cidadão era Irineu Marinho para poder emitir o documento fiscal. A colega que estava trabalhando comigo se sensibilizou com os argumentos e emitiu o documento fiscal.
ResponderExcluirJá pensou se for produto furtado por um qualquer, fala que é Irineu Marinhoe emito um documento fiscal? Estaria legalizando uma operação e poderiam pensar que estaria em conluio.
Felizmente tudo isso foi estória, e de fato o cidadão é de fato o Irineu Marinho.
O japones.