quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O Baio Bosta

As férias em San Martin eram inesquecíveis. Passávamos três meses antes nos programando, um mês durante desfrutando e três meses depois relembrando os acontecidos. Estávamos na idade de enfrentar os medos, de 13 para 14 anos. Tinha um cavalo que se chamava Baio Bosta.
Grande, bonito e todos queriam montá-lo, mas ele tinha fama de corredor e de não obedecer muito bem às rédeas e por isso não estava na nossa tropa. Saíamos para o campo todos os dias, às vezes com os peões para trazer algum gado ou pegar uma matula. Quando não tinha nenhum trabalho para ajudarmos, saímos a passeio. Visitávamos os vizinhos ou íamos caçar. Tínhamos espingardas de ar comprimido que, quando bem atirado, chegava a matar periquito. Mais que isso era perda de tempo.

Teve um dia que cismei de montar o Baio Bosta. Encarnei até que seu Luis mandou encilhar o cavalo para mim. Saí na comitiva que ia trazer um gado para vacinar e passei o dia todo no bicho. Pintei e bordei e mostrei quem mandava. Podia ser bom pras negas dele, mas sentiu a firmeza no meu pulso. Galopava e puxava as rédeas com vontade e a cada freada ele chegava de sentar nas patas traseiras. Completamente sob meu domínio. Quando chegamos do campo e fechamos o gado no mangueiro fomos para desencilhar a tropa. De longe vi toda a turma na porta da casa, seu Luis, D. Paulina e as filhas e resolvi me mostrar. Desafiei os companheiros para uma corrida e saímos desembestados. O Baio Bosta corria muito e muito mais que qualquer outro. Só não me avisaram que ele era de cancha, ou seja, acostumado com corridas, com um pequeno detalhe, que nessas horas ele não obedece ao comando de parar a não ser que seja o final da corrida. Quando quis parar à besta que eu entendi porque ele não estava na nossa tropa.

Puxava as rédeas, ele levantava a cabeça e corria mais ainda. Comecei a me apavorar, pois não sabia onde o Bosta ia parar. Pois ele não podia ter escolhido pior lugar e quando estava na porta da casa ele parou de repente. Só ele, pois eu continuei e sai por cima de sua cabeça e fui de peito no chão. Nunca vi tombo mais ridículo que esse em toda minha vida. Para completar, com a batida do peito no chão de areia, perdi todo o ar e não conseguia respirar, até que não sei quem me enfiou uma porrada nas costas e desencravou o pouco do ar que tinha restado. Nisso consegui dar uma puxada e na entrada o ar fez aquele barulho e dizem que quem estava num raio de 10 metros ficou no vácuo.

Quando viram que eu estava bem e não tinha quebrado nada veio o pior que foi agüentar a gozação e a descrição da cavalgada. Além disso, tive que agüentar um apelido que me pregaram e que me acompanhou por muito tempo: TADEU BOSTINHA.

Um comentário:

  1. Tio Tadeu, boa tarde!
    Muito legal as memórias de um sessentão, ri muito e matei saudade. Um grande abraço.
    Lulu.

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