quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Nova Avanhandava II

Continuando...
Pegamos o carro e fomos para o aeroporto de São José dos Campos. De Taubaté até lá eram 40 km que percorremos em 20 minutos. O Antonio já enjoou no carro e chegou ao aeroporto vomitando. O avião já tinha pousado e o pessoal da CESP estava todo lá. Os Eng. Lino Yasuda, chefe de engenharia, o eng. Aldo da programação e o Eng. Celso Ortiz que tinha acompanhado e aprovado todo o projeto. O clima era muito tenso, pois estávamos todos igualmente envolvidos. Nós tínhamos projetado e fabricado e eles tinham aprovado o projeto e acompanhado toda programação. Como tinha tido tempo para pensar durante viagem e já passado o susto inicial, quando me perguntaram o que eu achava que tinha acontecido, apliquei o mesmo golpe do Choulian e disse que deveria ser, com toda a certeza, alguma besteira do pessoal da montagem e saíram com essa de ter estourado a comporta da tomada d'água. O pessoal já começou a se tranqüilizar e quando o Choulian chegou parecíamos um grupo indo para o campo de futebol ver seu time jogar.

Para entender o que aconteceu na usina é preciso conhecer os princípios de funcionamento de uma hidroelétrica. Você faz uma barragem em um rio e represa a água criando uma diferença de nível e conseqüentemente uma energia potencial. Essa água, através de condutos que são chamados de adutoras, passa pelas turbinas e fazem-na girar transformando a energia potencial em cinética. Acoplado as turbinas estão os geradores que transformam a energia cinética em elétrica. Por problemas de cavitação, que é a existência de bolsas de ar no meio da água, essas turbinas tem que trabalhar afogadas, ou seja, elas ficam abaixo do nível de jusante. Para isolar esses equipamentos na hora de fazer manutenção, você tem uma comporta que fecha a entrada das adutoras, que são as comportas da tomada d'água e uma outra comporta que fica após as turbinas e, quando fechada, permite o esgotamento da água que já passou pelas turbinas e são chamadas de comportas do tubo de sucção.

Chegamos a nova avanhandava às nove horas da manha e, após esperar o Antonio vomitar mais um pouco, acho que desta vez as tripas, fomos direto para o escritório do canteiro de obras. Éramos mais esperados que ambulância com desfibrilador e todos queriam saber como inaugurariam a usina em 30 dias com esse desastre. Choulian tomou a frente e disse que precisava fazer o diagnóstico antes de dar o remédio e isso começava por ver o paciente. Fomos para o alto da barragem ver as comportas da tomada d'água. A barragem servia de estrada ligando as duas margens do rio e chegamos de carro até lá. Tinha um buraco muito fundo naquela imensa estrutura de concreto e a 40 metros abaixo da crista da barragem estava a nossa comporta. Olhando lá de cima o que se via era uma nuvem de água, como um chafariz. Depois de observar o mesmo. Choulian, com todos atrás, olhou para montante do rio e deu risadas. Quando o chefe da usina perguntou o motivo que ele queria rir também, ele só disse:
- Se tivesse estourado a comporta o lago estaria secando e você veria um vórtice sendo formado aqui. Aquele chafariz que você está vendo é um vazamento da vedação superior da comporta e que se for menor que 300 litros por metro por minuto está dentro das normas e acho que não chega a 20. Nossa parte está em ordem.
O chefe da usina, que foi o causador da confusão toda, ainda quis discutir quando o Lino pediu ao Choulian que os ajudasse a resolver o problema. Fomos até o escritório da engenharia da obra e o Choulian pediu que verificassem qual era o nível da água dentro da usina e se ela estava estabilizada e se as bombas de esgotamento estavam funcionando normal. Verificaram que era o nível de jusante e todas as bombas estavam a toda potência. Choulian mandou desligar todas e observar se o nível ia aumentar. Feito isso e como o mesmo não mudou nada depois de uma hora ele fechou o diagnóstico:
-Chamem mergulhadores que a borracha da comporta do tubo de sucção estourou. A água que está na sua usina é de jusante e não de montante e esse equipamento não é de nossa fabricação.

Não deu outra e fechamos o diagnóstico. Pediram que projetássemos nova vedação com os equipamentos que tínhamos na obra. Ficamos três dias e trabalhamos como loucos, mais de 16 horas por dia. Recebemos cuecas e camisetas com o desenho da usina estampado no peito e ficamos todos uniformizados. Quando voltamos para Taubaté, com tudo atrasado, tivemos que continuar no mesmo batente por mais dez dias para colocar tudo em ordem. Foi um susto e tanto, mas que deixou muitas saudades.

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