Passei dos 5 até os 32 anos estudando sem parar. Fiz engenharia Mecânica na Mauá, civil na Unitau e mestrado em estruturas no ITA. Com 32 anos resolvi pendurar todos os diplomas na parede e voltar para Corumbá e tinha dois anos para me preparar para isso. Fui estudar contabilidade e programação pois apesar de ser especialista em cálculos sempre tive grandes programadores trabalhando comigo. Primeiro o George Pion, um francês porreta e depois o Marcelo Pimenta, um goiano muito gente fina. Com isso eu não entendia muito da linguagem. Como em Corumbá não teria isso, um tinha mandado vir da França e outro foi pego dentro do ITA, procurei me especializar.
Como estava nascendo a indústria dos micros, mergulhei de cabeça neles. Comecei com o Basic e depois fui para o DBase. Programava tudo. Com isso consegui que a nossa empresa fosse toda informatizada em uma época que computador era o estado de japonês que levou um soco. Papai emitia as notas em um CP500 e a impressora, além de imprimir as notas, impressionava os bolivianos. Papai brincava que era o espírito que as datilografava. Vendo isso penso como as coisas evoluíram muito rápido ou o tempo passou muito ligeiro. Quando terminei meu curso de engenharia em 1972, não existia calculadora eletrônica e usávamos régua de calculo. Meu primeiro computador pessoal era de cartão magnético e pesava uns 10 kg. Para fazer uns cálculos muito simples, tínhamos que utilizar de 3 a 4 cartões. Quando apareceu os grandes computadores, os dados eram introduzidos através de cartões perfurados e não existia teclado. Hoje tenho um notebook mil vezes mais potente que máquinas que utilizavam uma sala inteira e que pesam menos de um quilo.
A parte de software também evoluiu muito rapidamente e a pessoa para se manter atualizada não poderia fazer outra coisa, com isso fui ficando ultrapassado. Na EMA a minha rede não era para multiusuário. As coisas novas foram aparecendo e eu não fui dando conta de acompanhá-las. Em 2003 construímos o posto 10, informatizado ao máximo, com bombas eletrônicas que passam todas as informações de cada abastecida para o computador. Sistema de controle de nível de combustível e ausência de água nos tanques com alarmes de aviso. Com toda essa informatização tivemos que contratar um especialista em computação e demos a maior sorte. Contratamos um especialista de São Paulo para montar a nossa rede que trouxe um companheiro para auxiliá-lo. Eram dois nerds, desses que respiram informática o dia todo e sabem de tudo, o Adalberto e o Alessandro. Quando acabou o serviço do posto e vi que eles trabalhavam super bem resolvi mudar a minha rede da EMA. Fizemos como eles mandaram, colocamos dois servidores com disco duro de backup nos dois, backup em CD para o caso de incêndio, coisa de empresa grande. Quando terminou o serviço não deixamos mais o Alessandro voltar. Ele mudou com toda a família para cá e está conosco até hoje. Não tem problema que ele não resolva, e o mais importante, com prazer. É outro como o Dr. Marcio, faz a obrigação com devoção.
Mas no período de instalação aconteceu um fato muito engraçado. O Alessandro é pastor evangélico e o meu irmão Tontonio é o maior boca suja que eu conheço. Nunca vi gostar de falar besteira como ele. Teve um dia que o Alessandro me aparece com uma camiseta com as iniciais DNP gravadas no peito. O Tontonio estava em um de seu dias inspirados e contando sobre seus dias de Lins, quando ele estudava engenharia, quando comia todo mundo, isso falado com todas as palavras e não só as meias. Falava e ria. Lá pelas tantas ele percebeu a camisa do homem e resolveu tirar sarro perguntando se o DNP era "dash not price", que era a maneira de se falar que a mercadoria era isenta de taxas. O Alessandro respondeu:
- DNP é Diga Não ao Pecado.
- Que porra é essa? - Ele ainda pergunta como se não bastasse tudo que ele já tinha falado
- Sou pastor e esse é o nosso slogan.
O Zé rememorou todos os "pecados" que tinha acabado de "confessar", resolveu dar uma consertada e falou:
- Puta cara, nem imaginava, se não maneirava. Me perdoe, ok?
Alessandro muito sério fala apontando o dedo indicador para o céu.
- Peça perdão para Ele. Ele que tem que te perdoar. Peça muuuiiito perdão.
- Vocês tão de putaria comigo, né? Você não é pastor porra nenhuma.
E o pior que o cara era ou melhor, é, e dos bons, super caxias. Mas já conhece o Tontonio e já acostumou com as besteiras que ele fala. Mas acho que não foi fácil.
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