sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Seu Marinho - parte II

Vovô era rigoroso na educação dos filhos e caxias no seu serviço e a parte I mostrou o quanto. Mas era um cara bem humorado, tinha ótimas amizades e ajudava a todos que vinham até ele. Quando ele desembarcou em Corumbá, por volta de 1900, quem carregou suas malas foi um carroceiro, o negro Juvenal. Foi o primeiro brasileiro com quem ele teve contato em solo Corumbaense e no final da viagem, acho que do Porto até o hotel, ele resolveu contratar o negão para trabalhar como servente da construtora que ele iria montar. Foi seu primeiro funcionário e ficou com a família até morrer e ajudou vovô em todas as suas empreitas. Acompanhou o nascimento de todos os filhos e depois dos netos de vovô. Papai o tratava de Juvenar e falava que era seu irmão preto e a pessoa mais decente que ele tinha conhecido.

Veio a falecer quando Tontônio ia fazer 6 ou 7 anos e com a festa toda pronta. Papai não quis nem saber e foi tudo para a geladeira o que podia esperar, e para o lixo o que não podia. Fez aniversario de 7 anos e oito dias, depois de passado a missa de sétimo dia do velho Juvenal. Vovô enquanto estava vivo tomou conta da sua esposa e ela recebia como se o marido estivesse vivo e depois dele papai e os irmãos continuaram até ela falecer também, isso já em 1960, quando não existiam aposentadoria nem fundo de garantia.

O velho Marinho, assim ele era tratado por todos, pertencia à maçonaria e chegou a gran mestre 33, um dos postos mais altos da instituição. Ele já estava estabelecido em Corumbá e seus negócios caminhavam muito bem. Era representante da Ford Company, correspondente do Jornal do Estado de São Paulo e tinha a agência de um banco, se não me falha a memória, o do estado de São Paulo, tudo no mesmo prédio onde funcionava a Casa Marinho de materiais de construção, localizada na esquina da Delamare com a Antonio Maria.

Corumbá era tão pequena que, com esse ponto, o slogan dele era "Ande mais e Pague menos". Para quem não conhece Corumbá, esse local está hoje a duas quadras do marco zero da cidade e a meia quadra dos principais bancos. Na praça da matriz de Corumbá tem um obelisco em granito maciço que foi feito por ele. Papai conta que vovô, já velho, quis deixar uma lembrança a Corumbá, que o tempo não estragasse. Trouxe de Portugal um cantareiro e mandou retirar o granito da pedreira do porto. A peça era tão pesada que precisou de uma junta de 16 bois para trazê-la até a praça da matriz. O destino quis testar a determinação do velho Marinho e quando o obelisco estava chegando ao seu destino, a roda da alça prima caiu em um buraco e a peça, tão arduamente trabalhada, quebrou em vários pedaços. Ele não se abalou e recomeçou tudo do zero.
Durante muito tempo os restos daquele primeiro obelisco ficaram no quintal da casa do velho Juvenal onde muitos anos depois foi construído o posto marinhos's maxi. Um segundo obelisco foi construído e colocado no centro da praça da matriz e esta lá até hoje, para o orgulho de todos os seus sucessores. Cada neto novo meu quando chega à idade em que já se interessa pelas histórias da família eu levo até lá e conto sobre o seu tataravô e todos ficam orgulhosos dele, acho que exatamente como queria o velho Marinho com o seu obelisco.

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