segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Alzirinho

O Alzirinho é advogado formado pela USP no Largo São Francisco como o Bira. É companheirão de todas as horas. Bom de papo, sabe falar e escutar. Mas como todo ser humano tem um defeito: leva tudo a muito sério e isso desde que tinha 20 anos. Sempre foi assim. Lembro-me como se fosse hoje quando há mais de 40 anos atrás eu namorava uma Corumbaense que se mudou para São Paulo e foi morar na Lapa. Eu era interno no arquidiocesano a semana inteira e só sábado ia até a casa dela para namorar. Tinha 15 para 16 anos e ia de ônibus. Ela se chamava Jussara e tinha uma Irmã, a Rosinha, por quem o Alzirinho se apaixonou. Pegávamos o ônibus juntos, eu já firme e ele na tentativa. Ele já estava na faculdade, tinha uns 5 ou 6 anos mais do que eu. Numa dessas idas que demoravam quase uma hora, ele começou a falar de futebol e resolvi dar uma gozada nele, dizendo que futebol não combinava com um quase doutor, que aquilo era coisa de plebeu e outras merdas do tipo. Foi a maior besteira, chucei onça com vara curta. O cara começou a fazer um discurso sobre o sentido da vida, felicidade, euforia, comparar um campo de futebol inocente com as arenas dos romanos e a coisa foi até quase chegarmos à casa da Jussara. Para fechar o discurso veio a pérola como desfecho. Ele falou e nunca mais esqueci:
- Tadeu, nas coisas simples estão as grandes alegrias do homem e são elas que dão colorido a vida.

Hoje concordo plenamente com ele, com a frase, pois continuo tirando sarro dele. Na última vez que veio a Corumbá fizemos um almoço para ele e Bea serviu Banana Real. Ele adorou, pegou a receita e fez tanta propaganda que não consigo mais comer banana real sem me lembrar dele. A última foi domingo passado, dia 30 de agosto, e passei essa mensagem para ele:
"Estou comendo uma banana real e me lembrando de você. Quando você vem aqui comer a minha banana novamente?
Beijos
Seu, Tadeu.
Atenção na vírgula."
Ele racha de dar risadas, tenho certeza, mas não responde.
Em outra vez íamos para Assunção em um bimotor, um Baron. Estávamos esperando o Alziro que ia com a gente e ele chega atrasado, já se justificando: "de que adianta você ter um avião particular se não puder chegar atrasado e ver que ele não decolou sem você?" Observamos o traje típico dele, calça de linho e camisa da mesma cor, bege clarinho. Alguma coisa estava errada, como se os botões da camisa estivessem em casas erradas e o meu irmão Tontonio foi tentar arrumar. Quando deu aquela puxada na camisa para fazer o aprumo que ele percebeu o motivo dela estar guenza. Tinha uma banana nanica no bolso e o peso causava o estrago. Quando perguntado sobre o motivo ele disse que não podia ficar mais do que 1 hora sem nada no estômago que passava mal e que gostava demais de bananas. Perguntamos porque ele não usava uma lancheira, que seria mais apropriado para carregar do que o bolso da camisa, quando ele respondeu sério que iria considerar a proposta. Na decolagem ele se mostrou muito nervoso e o Tontonio quis dar um lexotam para ele sem sucesso. Passamos três dias em Assunção dando risadas do Alziro e na volta aconteceu o incidente.
Ele nervoso novamente, sentado de frente para o Zé, que com o Lexotan na mão, insistia que ele tomasse dizendo que tanto nervoso que fazia mal para a pessoa. Ele dizendo que se começasse a tomar essas merdas não pararia mais. Essa conversa toda com o avião taxiando. Luis Mario no comando, eu na frente e co-piloto, Tontonio, Alziro e o Rollemberg atrás. Autorizado a decolagem pelo controle, manete toda para frente, começamos a correr na pista. Foi quando a porta do meu lado abriu e fez aquele estalo e começou a assobiar, pois o ar entrava pela borracha de vedação. Impossível fechar essa porta em vôo e Luiz Mario, que ainda não tinha saído do solo, teve que abortar a decolagem. É um procedimento simples, mas como o aeroporto estava muito movimentado, ele quis sair na primeira intersecção da pista e com isso teve que frear forte. Nesse momento o Alziro abre a boca de susto e o Zé, segurando em seu queixo, joga o lexotam goela abaixo. Junto com o efeito do remédio veio o psicológico e o homem dormiu a viagem inteira e chegando aqui foi quase carregado para casa. No dia seguinte ele não se lembrava de nada, nem da porta abrindo, nem do lexotam, só reclamava que tinha perdido a lancheira que comprou em Assunção e com duas bananas dentro. Esse é o Alziro.

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