sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O Pedido

Eu nunca fui um cara de me apaixonar fácil mas estive algumas vezes em minha vida. Não vou falar delas pois ainda é muito cedo, talvez um dia. Mas Beá foi sem dúvida a maior, a mais importante, e o mais importante a última paixão da minha vida. Começamos a namorar em 6 de setembro de 1972, vai fazer 38 anos daqui a alguns dias. Noivamos em 03 de novembro do mesmo ano e casamos em 07 de abril de 1973. Do "topo" até o "sim" foram 6 meses. Um outro SIM (Serviço de Inspeção Municipal) que tive que tirar para nossa Distribuidora de Carnes aqui em Corumbá demorou muito mais.
Quando começamos a namorar eu estudava em São Paulo e ela no Rio. Comecei a descer todo sábado para vê-la no Rio e fiquei preocupado que seus pais achassem que eu estava só querendo passar tempo, pois eu tinha essa fama. Como eu não tinha dúvidas de que tinha achado a mulher de minha vida, resolvi comprar as alianças para ficarmos noivos nas férias em Corumbá e já deixar claro que minhas intenções eram sérias. Tudo isso aconteceu em um dos finais de semana em que estávamos em Volta Redonda, na casa da Márcia. Depois de comprado os anéis, não conseguíamos ficar com eles no bolso e resolvemos antecipar o noivado. Ela estava na casa do Roberto Benévolo, primo de Dr. Pedrinho, meu sogro. Se ele era o responsável legal por ela, era a ele que teria que fazer o pedido. Foi quando recebi o maior elogio de toda a minha vida. Quando falei que gostava da Beá e queria sua autorização para ficarmos noivos ele me respondeu:
- Fico muito feliz, só ficaria mais feliz se você estivesse pedindo a mão de minha filha.
A partir desse momento o Roberto e a Julinha, sua esposa, passaram a ser pessoas muito importantes e queridas em nossas vidas. Não lembro de ter conhecido pessoa mais correta e séria do que ele. Mas tinha suas manias e não me esqueço de um leilão no Novo Horizonte, o mesmo que o Paulo Machado contou os morcegos que matou, e quase matou o Chu de rir (aqui). Mas estávamos nos preparando para a noite que teríamos que passar na fazenda onde tinha sido o leilão, e conversando falei ao Chu que deveríamos andar com uma malinha com todos os artigos de primeira necessidade para um caso desses. Ele retrucou que não existia mala que você pudesse ter para cobrir todas as possibilidades e que ninguém tinha isso.
O Roberto estava na minha frente e com uma pasta dessas de couro, daquelas que usávamos na escola na década de 60. Como eu o conhecia falei ao Chu que ia provar que ele estava errado e perguntei ao Roberto como ele iria se virar naquela noite, pois eu o estava achando muito tranqüilo.
Ele deu uma risadinha e bateu de leve na malinha dele e falou que era seu estojo de primeiros socorros para essas situações. Perguntei o que tinha na mala e ele me mostrou:
- um paletó de pijama de flanela;
- uma lanterna megalite;
- uma caixa de fósforos;
- duas velas número 5 (o número ele que me falou);
- escova de dentes e pasta, daquelas que ganhamos em vôos internacionais;
- um pacote de bolachinhas (que ele me ofereceu uma);
- um rolo pela metade, para não ocupar espaço, de papel higiênico.
- e como não poderia faltar em um kit de sobrevivência: um canivete suíço.
Olhei para o Chu e apliquei o "Tá Vendo" do Zé Alberto nele. O interessante e mais triste de tudo foi que no dia que coloquei esta história na lista para ser escrita, o Roberto veio a falecer. Nos deixou para sempre mas com seu nome escrito em nossos corações.

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