sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Guerra de Mamona

Tia Dirce é irmã de papai, minha madrinha e tia preferida. Ela sempre foi muito ligada à Mamãe e acompanhou toda sua gravidez que foi super complicada, e quando nasci fui batizado por ela e pelo médico que fez o parto, o Dr. Eneas. Nasci coberto pela membrana que segura o liquido amniótico e a bunda primeiro. Papai sempre falava que eu era um cara de sorte porque tinha nascido empelicado e de cú pra lua. Assim que fiquei sabendo a origem do provérbio: "nasceu de fiófó pra lua".
Eu vivia na casa dela. Primeiro porque ela tinha um monte de filhos e o Dirceu era da minha idade, depois porque ela era super tranqüila e deixava a gente fazer de tudo. Esse costume começou cedo pois como vovô Marinho morou muito tempo com ela, o programa de papai era ir visitá-lo toda a noite com a família. Tio Vicente, marido dela, criava passarinhos e tinha um quintal super gostoso, cheio de arvores pra gente subir e um tanque de 2x3 onde tomávamos banho. A principal brincadeira era a guerra de mamonas. A arma era o estilingue, que na época chamávamos de funda, e a pelota era mamona verde. Além de não machucar muito deixava a impressão. Virava e mexia, o nego levava um pelotaço na testa, ficava aquele vermelhão sujo de verde, e ainda tentava negar com um "não acertou" ridículo, quase chorando de dor. Dividíamos a turma em duas, os bandidos e a polícia. Era um esconde-esconde misturado com pegador. O polícia tinha que achar o bandido e acertar o tiro, e tomar cuidado para não ser morto antes. Quem levasse um pelotaço de mamona ficava fora da brincadeira que acabava quando a polícia matasse todos os bandidos ou vice versa.
Numa dessas eu estava de bandido e resolvi me esconder dentro do tanque. Devia ter visto algum filme que o cara fazia isso. Peguei um talo de mamoeiro, afundei e fiquei respirando por aquele tubinho. 
O Zé Antônio, meu irmão, era um dos policias e resolveu sentar na beira do tanque para poder procurar melhor e com o estilingue carregado e já pronto para disparar em qualquer coisa que se movesse. Aí que vi a burrice que tinha feito. Até sair do tanque, armar o estilingue e disparar a queima roupa, eu seria atingido primeiro com certeza. Resolvi improvisar usando do elemento surpresa. Levantei do tanque gritando e com o talo do mamoeiro finquei nas suas costas gritando que era minha faca. Quando meu olhar cruzou com o dele que vi o susto que ele tinha levado. Estava branquinho pois ele nunca esperava isso e não conseguia falar. Quando ele se recuperou do susto eu apanhei de verdade, ele era mais velho e mais forte e acabou a brincadeira.
Ele nunca gostou de perder.

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