segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Não recomende


Astréia é a sogra de meu irmão, é mãe de Lenir, minha cunhada. Não sei precisar a data, mas a uns 36 anos atrás, o Luis Alberto, cunhado dele, ia ficar noivo de uma paulista, a Malu. Ela vinha a Corumbá conhecer a família. Como o Tontonio falava muito palavrão, a D. Astréia caiu na besteira de recomendá-lo, dizendo que era uma moça muito bem criada, católica e que não estava acostumada com as palavras de baixo calão que ele vivia usando, e pedia que ele fizesse o favor de não falar nenhum palavrão na frente dela. Segundo o Tontonio, que me relatou o fato, ele já ficou emputecido na hora e só não mandou a sogra tomar no... porque estaria, indiretamente, dando razão a ela.
Marcaram um jantar no melhor restaurante da cidade para o dia da chegada da cunhada. O Tontonio que foi pega-los no seu carro. Ele e o cunhado na frente, a sogra, a concunhada e a Lenir atrás. Passearam pela cidade e até a chegada ao restaurante ele estava quieto e todo mundo incomodado, pois ele não abriu a boca nem para o costumeiro "muito prazer" quando foi apresentado. Quando pararam no restaurante, ele desceu, colocou o seu banco para a frente para as mulheres saírem, colocou o corpo dentro do carro e falou sua primeira frase:
-Vamos lá putada.
30 anos depois, estávamos no aeroporto esperando uma arquiteta que viria do Rio para projetar o posto 10. Ele queria fazer o posto mais lindo da cidade e se propôs a não poupar esforços ou dinheiro para fazer isso. Enquanto aguardávamos a dona ele começou a fazer suposições de como ela seria: Carioca, 35 anos, bonitona, antipática, fui ficando preocupado e caí na besteira de recomendar que ele não tomasse muita liberdade com ela pois poderia ser mal interpretado. Vi na hora que ele não gostou e achei melhor não consertar pois, normalmente as minhas emendas são piores que meus sonetos.
Recepcionamos a arquiteta que veio com sua projetista e fomos direto para o terreno onde seria construído o posto. Passamos a tarde toda trabalhando e a noite fomos levar as duas para jantar. Ele tinha acertado em quase tudo, com exceção que a dona era muito simpática. Ele foi na sua BMW nova, abriu a porta da frente para ela entrar e me colocou atrás com a projetista. Estava um perfeito gentleman. Era dezembro e estava um calor de matar. O ar condicionado do carro no máximo e o calor, fora do carro, violento. Quando abria a porta, a impressão era que você saía da geladeira e entrava no forno. Estava tudo bastante formal quando a arquiteta, sem querer, apoiou seu cotovelo no botão do vidro e o abriu. Na hora ele olhou assustado para ela e perguntou:
- Você peidou?
A mulher primeiro assustou demais com a pergunta e depois começou a rir e não parava mais. Depois disso eu nunca mais recomendei nada a ele. O bicho é louco.

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