Há muito tempo atrás houve uma novela cujo nome era "Éramos Seis". Plagiei o título dela. Éramos uma turma e tanto, super amigos e muito heterogêneos.
Roberto Spadella era filho de um cabeleireiro e era meu confidente. Sua principal característica era saber ouvir.
Luis Timóteo era o bonitão e o engraçado, filho do casal mais bonito da cidade, o pai - seu Luiz - era fazendeiro e a mãe - d. Paulina - uma das dez mais elegantes, o casal de super amigos de meus pais. Qualquer coisa sem graça contada por ele era de matar de rir. Não tinha medo de falar besteiras.
Emilio, filho de sírios, como o Timóteo era muito engraçado, mas moleque de tudo e um tremendo cara de pau, vivia colocando a gente em frias com suas aprontadas. Era daqueles que no footing de domingo, com a avenida cheia de gente, todos andando e se cruzando, passava a mão em seu ombro e quando cruzava com uma mulher bonita e peituda passava a mão nela e quem levava o tapa na cara era você sem nem saber o porquê.
Ismael era primo do Timóteo e o mais centrado de todos. Companheiro para qualquer parada.
E eu, o contador de histórias.
Só o Timóteo não estudava com a gente, fazia o ginásio no Rio de Janeiro. Nós estudávamos no Salesiano, mas nas férias íamos todos para San Martim, a fazenda dele. Estávamos começando a fumar, lancaster longo sem filtros e, logicamente, escondido. O pacote de cigarro ficava dentro de um plástico e enterrado embaixo de uma árvore no pátio da fazenda. A noite o programa era assaltar a dispensa, eu, Emilio e Ismael para comer os doces que eram racionados para durar as férias todas e o Spadella e o Timóteo para tomar o whiskinho do seu Luis que ele não deixava pela idade dos dois. Tínhamos 13 anos de idade e nenhuma responsabilidade, nas férias para uns, o tempo todo para outros.
Um lance muito engraçado aconteceu quando o seu Luiz e a dona Paulina convidaram para almoçar um gaúcho que tinha acabado de comprar a fazenda vizinha. Passou meia hora nos recomendando, que qualquer piada ou gracinha pra cima do gaúcho ia nos custar caro. Queria todos de banho tomado e, reforçou, qualquer gracinha na mesa seria motivo de punição. A punição já entendíamos como sem cavalos por um dia. Chegou a peça e só de olhar as bombachas já vimos que ficaríamos sem cavalos pelo resto das férias. O cara era muito engraçado e nós não conhecíamos aquele sotaque. Estava indo tudo as mil maravilhas com um chamando a atenção do outro para não dar merda quando tudo aconteceu. O gaúcho terminou de comer e pediu a dona Paulina que chamasse a cozinheira pois ele queria cumprimentá-la.
Dona Paulina vai e chama:
- Toquinha (esse era o apelido da dona) venha até aqui.
Chega a Toquinha toda uniformizada, até com toca no cabelo. O Gaucho naquele sotaque carregado me fala:
- Dona Toquinha, vou dizer uma coisa para a senhora, foi o COZINHO mais gostoso que já comi em toda minha vida.
Foi farofa que espirou por tudo quanto é lado. O Emilio gemia de tanto segurar o riso, o Spadella soltava ranho pelo nariz e eu, Timóteo e Ismael nos metemos embaixo da mesa. Não tinha como segurar ao ver a cara da Toquinha. Ela toda assustada e fazia que não com a cabeça completamente sem fala. Seu Luiz, vermelho que nem um pimentão, não sei se de vergonha ou de vontade de rir também e Dona Paulina abestalhada. Os que estavam embaixo da mesa saíram por ali mesmo. No fim fomos perdoados mas chamados a atenção pela burrice e malícia. Tarde demais entendemos o cozinho, assim como a Toquinha, que chegou a jurar que nunca tinha visto esse gaúcho antes.
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