Meus filhos são super unidos e isso desde que nasceram. Fico muito contente e orgulhoso com isso. Eu e meu irmão somos assim também, mas teve uma época em que ele não gostava de andar comigo. Ele é 3 anos e pouco mais velho do que eu e em certas idades que essa diferença é muito grande. Apesar de eu ter começado muito cedo em tudo, Elizabeth e Pura com onze anos, tirando "isso", tinha idéias de crianças, enquanto ele com 14 para 15 já era rapazinho. Já os meus filhos tinham todos quase a mesma idade. Os homens então mais ainda. Beto tem 18 meses mais que Daniel e Guilherme, que são gêmeos.
Foram sempre os melhores amigos um do outro. Se tinha disputa era interna, entre eles. Brigavam e se beijavam em seguida. Confirmavam sempre um a mentira do outro. Um contava uma estória cabeluda, daquelas duras de acreditar, como quando o Guilherme pegou a bola na defesa, driblou o time inteiro, deu dois chapéus e quando o goleiro saiu ele só colocou pelo vão das pernas, coisa que nem Pelé fazia, você olhava para o outro e ele repetia tudo igualzinho e completava com um "o senhor precisava ter visto". Às vezes invertia e o mentiroso retribuía a ajuda do outro. Descobri com o tempo que não eram mentiras, mas grandes exageros.
A única vez que vi ódio de um pelo outro foi quando aconteceu a do Periquito. Foi em 1987, Beto com 12 e os gêmeos com 10 anos, encheram o saco do Airton, capataz da fazenda Santa Anatália do avô, para arrumar um periquito para eles. O Airton pegou um bem novinho, nem penas tinha ainda, e o deu a eles. Super recomendado de como e com que deveria ser alimentado. Tinha que fazer um mingau e dar na boca com colherzinha. No começo era a coisa mais horrível aquele bicho. Tinha um corpo pequeno e um cabeção enorme. Parece que todas as aves já nascem com a cabeça que terão adultas e o que cresce e só o resto. Mas depois de alguns dias o bichinho começou a emplumar e já estava até bonitinho. Foi quando tudo aconteceu.
Ia cedo para fazenda e eles quiseram ir comigo. Como nossa casa estava em reforma morávamos na de meus sogros. Quando acordei os três deviam ser 4:30 da manhã e já levantaram correndo pois tinham que fazer a comida do periquito antes de irem. O mesmo ficava numa caixa de sapato e dentro do quarto deles. Desceram e foram para a cozinha fazer o mingau. Na realidade o Beto com o Guilherme pois o Daniel ainda estava meio sonado. Os dois dando a papa pro bichinho e o Daniel, meio dormindo ainda, só olhando. Quando acabaram o café da manhã deixaram ele no chão um pouco para fazer um exercício antes de voltar para a caixa. Como o Daniel não tinha ajudado em nada pediram que ele fosse pegar a caixa para colocar o bichinho e irmos para a fazenda. O gurizinho meio dormindo se levantou, não viu o periquito, e pisou nele. Quebrou seu pescoço e vi na hora que não tinha mais jeito. A cara de ódio e decepção dos dois foram impressionantes e pedi ao Daniel que ele trouxesse água correndo que ele ia ficar bom. Quando ele saiu eu falei a Beto e Guilherme que não tinha mais jeito mas que não poderíamos zangar com Daniel ou ele ficaria traumatizado pelo resto da vida, que agora era a hora de mostrarmos união e o que era realmente importante para a gente. Afinal de contas era só um periquito. Encerrei o discurso e fiquei aguardando.
Quando ele chegou com a água os dois o abraçaram e disseram que tinha sido um acidente e que ele não ficasse chateado que iam arrumar outro. No fim quem acabou quase chorando fui eu. Assimilaram a lição bem até demais, pois um cacetezinho o Daniel bem que merecia.
Alguns meses depois ganharam um outro, já maiorzinho e emplumado. Esse escapou do Daniel mas não do gato do vizinho. Quando Beá chegou em casa e viu a sala não entendeu o que tinha acontecido. Chacinaram alguém nela. Chamou os dois e foi esclarecida. Pegaram o gato que comeu o periquito de estimação deles e não foi sem querer como com o Daniel. Acho que existia uma raiva reprimida ali, pois abateram o gato a tiros. Com espingarda de chumbinhos de ar comprimido e com mais de cem tiros. Brinca com eles, brinca!
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