terça-feira, 26 de outubro de 2010

O cara de pau

Quando você convive com muita gente por muito tempo, e 5 anos para quem tem 17 é bastante, você faz muitas amizades e depois de passado realmente muito tempo é que você vai ver a importância que cada uma teve na sua vida. Com esse negócio de escrever sobre o passado para poder registrá-lo, comecei a pensar no meu período de Mauá, que foi de 1968 a 1972, e das pessoas que o marcaram.
Edgar Pereira dos Santos foi uma e não tem como esquecê-lo. Ele era muito engraçado e muito escrachado. Tinha um karmanguia quando todo mundo andava de fusca ou no máximo de corcel. Era bom aluno, mas o mais bagunceiro da turma. Vivia aprontando:
Eu estava usando um retroprojetor nas aulas de Resistência dos Materiais do professor titular Gaspar Ricardo, o auxiliando na projeção e toda vez que ele ficava de frente para os alunos e de costa para a tela de projeção, o Edgar colocava uma revistinha de sacanagem, daquelas do Carlos Zefiro, por cima do livro que estava sendo projetado e ficava aquela situação. Uma trepada na tela com todo mundo segurando o riso e com o mestre explicando os detalhes da resistência dos materiais. Ele ia folheando a revistinha e só a retirava na hora H.
Outras vezes ele começava a abanar o colega do lado e chamar o cara de porco, como se o infeliz tivesse peidado.
Tinha uns professores que eram super metódicos e o mais deles era o Samuel Karlik, de física. Você não podia espirrar na aula que ele mostrava aquela cara de aborrecido. Ele chegava 5 minutos antes da hora e ficava aguardando os alunos. Na hora que tocava a campainha, toda sala tinha uma para avisar do início das aulas, ele trancava a porta e quem estivesse para fora dançava. Numa dessas, ele em cima do tablado aguardando o sinal, com toda a turma se arrumando para o início da aula, me entra correndo o Edgar. A porta da sala era daquelas de ferro e vidro e devia ter quase três metros de altura. Na velocidade que ele entrou ele puxou a porta para fechá-la como se tivesse um cachorro atrás querendo pega-lo, lembrei-me do Tek na hora, tropeçou no tablado e caiu de joelho aos pés do Karlic. Ele se levantou arrumando os óculos escuros, daqueles redondos, que tinha soltado a haste de uma orelha. O Samuel perguntou indignado a ele:
- O senhor pode me explicar o que esta acontecendo aqui?
Ele respondeu de pronto:
- De que jeito professor se estou chegando agora.
Nem o Samuel agüentou sem rir.
Seu grande amigo era o Henri, um alemão e o único casado da turma. Ele vivia pegando no pé do Henri, e uma das vezes, foi meio que literal. Ele tinha confessado ao amigo que estava em uma fase de ter tara por pés. Teve a época dos seios, depois veio a das bundas seguido por cinturinhas de pilão e no momento estava que não podia ver um pezinho bem feito que ficava com vontade de chupar o dedão. Confessado isso ao amigo foi estudar com ele em sua casa. Estavam vendo o jornal na televisão quando a esposa do Henri veio servir um cafezinho aos dois. Isso contado pelo Henri com o Edgar escutando com a maior cara de sacana do mundo. Veio do jeito que estava, tinha acabado de tomar banho e estava de shorts, uma blusinha sem soutien mostrando a barriga e sandálias havaianas. Quando o Henri viu a esposa começou a gritar para ela voltar imediatamente e calçar um sapato fechado. Depois de repetir três vezes pois a mulher não conseguia entender o que ele falava e achava a coisa mais sem nexo, ela perguntou ao Edgar o que estava acontecendo, o que ele respondeu, para gozar o Henri.
- Não é nada não. Sente aqui perto da gente e ponha os pés em cima da mesa.
Quase acabou a amizade ali.

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