quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Viagem a Europa

Muitas das viagens de férias que fiz foram meio na marra. Começavam a programar e eu não participava muito da organização e com isso perdia uma parte gostosa que é a preparação. Da última eu participei ativamente. Resolvemos ir para Portugal, Espanha e França. Não queríamos passar apertados com a língua e Português e Espanhol nós dominávamos bem, assim achávamos, e para o francês tinha a Elena, filha do Cauto com Mena e companheiros na empreitada, que morava em Paris e nos daria o suporte necessário.
Embarcamos para Paris onde faríamos um transbordo para Portugal. A passagem era São Paulo - Paris ida e volta. Como se já não fosse suficientemente longe conseguimos um preço melhor comprando assim mas o programa era começar em Lisboa e terminar em Paris. No aeroporto de Lisboa alugamos uma Renault e já fizemos a primeira besteira. Para definir se seria a gasolina ou a diesel, nós dois engenheiros, erramos nos cálculos e pegamos o a diesel que só seria mais econômico a partir de 3000 km rodados, enquanto íamos rodar só 450 km. Erramos em uma casa decimal.
Eu ia de o motorista e Cauto de navegador. A segunda besteira foi quando regulamos o GPS e não vimos que existia uma opção para tipo de veículo e não sei porque cargas d'agua o nosso estava definido como bicicleta. O Cauto, de olho no GPS ia dando as diretrizes e quando entrávamos nas rotatórias o diálogo era mais ou menos assim:
- Vai pegando a direita que tem que sair na próxima.
- Certo - eu falava
- Já passou - ele respondia. E a porra do aparelho completava:
- Recalculando a rota.
Aí quebrávamos o pau, ele dizendo que eu ia muito rápido e eu reclamando que ele não sabia ler a porra de um mapinha nem com a ajuda de uma mulher, o GPS falava, assoprando pra ele. Isso foi até o dia que fomos a um restaurante e o bichinho nos colocou em uma rua que ia afunilando, afunilando até chegar em um trecho que ela tinha 1.5 m da largura total e a vozinha do aparelho mandando eu seguir em frente... Aí que caiu a ficha que a merda não sabia que estávamos de carro. Daí pra frente as cagadas foram só por conta do Cauto, que ainda foram inúmeras.
A Mena, depois da primeira furada de sinal que dei, também o mesmo estava no meio de umas árvores, assumiu como co-piloto. Não tinha um farol que ela não irradiasse, e dependendo da cor era o tom da voz. Verde era em dó menor e vermelho em si maior. Não sei o que era pior, furar o sinal ou os sustos que ela me dava. Na realidade, em todo o tempo de viagem, ela só salvou duas motocicletas, dois pedestres e um grupo de turistas japoneses. As outras inúmeras vezes eu estava atento e ela exagerou.
As coisas iam bem até pararmos para abastecer o carro pela primeira vez. Comecei a procurar a alavanca que abria a tampa do combustível. Nada no painel. Desci do carro e procurei no piso. Nada. Devia ser na chave. Fui até o local e nada. Comecei a ficar nervoso pois os postos lá eram todos tipo self service e não tinha bombeiros. Esgotada todas as possibilidades resolvemos pedir ajuda a um português que estava abastecendo ao lado. Cheguei nele e falei:
- O senhor nos desculpe nas não consigo abrir a tampa do tanque do meu carro. Somos brasileiros e quando alugamos a agência não nos mostrou como é. O português, muito solicito, foi até o carro, colocou o dedo na reentrância que tinha na tampa e a puxou, falando:
- Assim
A porra não tinha trava, e ficou eu e Cauto com a maior cara de bundão olhando para ele. Nem agradeci, pois ele devia conhecer o Brasil e devia estar pensando "e os portugueses é que são burros"!
Na viagem de Porto para Salamanca, esse era o maior trecho, bateu aquela vontade irresistível em Beá de ir ao banheiro e foi nossa primeira incursão na língua espanhola. Paramos em um posto e fomos até a loja de conveniência. As duas já chegaram perguntando pelo banho e a atendente respondeu que existia algo com "el banõ". Acharam que ela não queria dar as chaves pois não tínhamos consumido nada e resolveram explicar que iam fazer as necessidades e depois consumiriam o que a mulher quisesse e isso com a vontade aumentando. Foi quando a espanhola explicou, batendo com dois dedos na mesa, que " el banho está ES – TRO – PI – A – DO". Isso foi o mesmo que fazer cócegas nas duas e naquela situação... Beá urinou nas calças. A atendente quando viu que a coisa era séria, apontou para o restaurante que ficava em outro prédio, a uns 50 metros de distância, e as duas, uma já vazando, correram para lá. Eu e Cauto acompanhamos de passito e quando chegamos só tinha uma mesa ocupada por um casal. Quando eles nos viram, falaram que "las duas mujeres entraram corriendo em el banho y no tiveran tiempo de avisar que era el banho de los hombres." Ficamos de guarda na porta e quando as duas saíram que vieram as explicações.
A Beá entrou direto no único compartimento com vaso, deixando Mena do lado de fora esperando e aí, pela presença dos mictórios, percebeu que estavam em banheiro errado. Queria tirar Beá de qualquer jeito da casinha e não conseguindo resolveu ir para fora e montar guarda junto com a gente. Quando quisemos dizer que eram loucas, as explicações continuaram, que a marcação na porta era coisa de português, não de espanhol. O fraque do homem parecia um vestido, a cartola um leque e aí veio a pérola, a bengala uma sombrinha fechada. Isso tudo com o banheiro das mulheres ao lado e com uma lady muito bem desenhada na porta.
As inúmeras outras ficam para a próxima.

Um comentário:

  1. Caro Tadeu,
    As histórias são a melhor parte das viagens e as suas são incríveis ....
    Beá e Mena estão com caras ótimas na foto, demonstando que os contratempos as divertiram muito. Abraços para os viajantes
    Maria Tereza

    ResponderExcluir