sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Fernando Pala

Eu não conheci o Fernando Pala, só os seus causos. Era tido como o parceiro do Dr. Murtinho nas histórias inverossímeis que são inúmeras. Sua marca de gado era um DF, de Dalva, sua esposa, e Fernando e ele vivia se gabando do gado que realmente era muito bom. Ele tinha uma foto muito bem tirada de cem reses ou até mais e parecia que tinham pousado para a fotografia de tão organizadas e todas olhando para a câmera. Era uma nelorada bem ajeitada, todas branquinhas, com exceção de uma única novilha preta. Pois ele fazia questão de dizer que a pretinha era um entrevero e pertencia a fazenda Santana do Dr. Romeu, seu vizinho, que varou a cerca.

Outra das dele é que ele podia ficar o tempo que fosse na fazenda que ele lia o Estadão diariamente e explicava como. Conhecia o piloto da Varig que fazia a linha Rio de Janeiro - Lima e passava bem por cima da Caiçara, a fazenda dele. Pois ele dava um rasante e jogava o jornal pela janela. Não admitia que duvidassem dele.

Na enchente de 74, uma das maiores da região, perguntaram se ele não estava assustado com aquele mundaréu de água. Ele falou que enchente foi a que teve em seu pais natal, ele era Português, que foi a única vez que ele ficou realmente com medo de água. Todos curiosos e perguntando que raio de cheia foi essa quando ele simplificou a explicação dizendo:

- Para vocês terem uma idéia, pontes que navios muitos grandes, não esses barquinhos que temos aqui, passavam por baixo, na cheia passavam por cima.

O pessoal só completava:

- Cheião, hein?

Mas a melhor de todas que ele contava se deu quando ele estava de férias no Rio de Janeiro, na praia de Copacabana. Um caminhão boiadeiro sofreu um acidente e um boi escapou da gaiola e começou a correr na praia. Era um boi gordo, bom de tudo, nelore dos mais purinhos. Os cariocas que só conhecem bife e no prato e nem sabem como ele chega a isso, se esparramaram todos e ele viu que era o único que podia resolver o problema, antes daquele bicharedo machucar alguém ou a policia ter que abatê-lo a tiros. Precisava tomar uma providência. Correu até um armazém, é armazém mesmo, e comprou 20 braças de uma corda grossa e improvisou um laço. Saiu atrás do boi e quando estava a uma distância razoável boleou o laço que, ele fazia questão de salientar isso, estava com uma armada pequena e colocou bem no batoque dele, o boi era daqueles de chifrinho grosso e curto que o pantaneiro chama de batoque. Acertou no primeiro arremesso e no tranco colocou o boi no chão. Correu até ele para peá-lo e aí veio a surpresa. Na anca, bem ferrado, naquele mundo de animal, lá estava o DF. Que coincidência rapaz. Agora, vai duvidar dele.

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