terça-feira, 5 de outubro de 2010

Na Contramão

Logo que entrei na Mecânica Pesada em 1974, um dos primeiros casais com quem fizemos amizade foram os Barbi. Eu trabalhava com cálculos, uma das coisas mais exatas da engenharia e ele, engenheiro de produção, com planejamento estratégico, a área menos exata. Talvez por isso nos dávamos tão bem e passávamos os fins de semana reunidos ou na minha casa ou na dele. Demorei para entender a função dele, pois enquanto eu vivia correndo, sendo atropelado pelos prazos, o compromisso dele era adivinhar o que aconteceria com a matriz energética do Brasil daqui a 20 anos. Era super interessante esse trabalho de adivinhação pois ele tinha que considerar muitas variáveis em uma época que não existiam computadores como hoje. Nas poucas vezes em que ele me mostrou seu trabalho vi que aquilo era para poucos. Tantas variáveis a serem consideradas e se chegando a resultados totalmente diferentes para cada caminho adotado. Tinha que se considerar as fabricações de matérias primas básicas, aço, alumínio, produtos acabados, automóveis, desenvolvimento da agricultura para a previsão de maquinas agrícolas e ia numa infinidade de números. O mais importante era isso sendo feito por uma industria particular e não pelo governo. Ele me explicava que os investimentos eram todos para serem amortizados num certo número de anos e aí estava o X da questão. O custo hora da máquina dependia desse X. Ela poderia até ficar obsoleta mas ociosa não, e tinha que sair fora do círculo vicioso que era de não operar porque era cara e era cara porque não operava. Quando se entrava nos detalhes do trabalho dele é que víamos como uma coisa é importante sem ser urgente. Aprendi muito com o Paulo Barbi.
Após os primeiros dois anos de sufoco, quando o dinheiro que era bem curto (a gente percebia a hora que ele estava acabando quando a sobremesa de frutas passava a gelatina) começou a sobrar, eu não sabia como investir. Aí me lembrei que tinha um cara, meu amigo, que não fazia outra coisa que não fosse olhar o futuro e prever o que aconteceria e resolvi buscar seus conselhos. Aprendi uma coisa que nunca mais esqueci e procurei usar a vida toda. A andar na contra mão. Ele me disse:
- Tadeu, futurologia é tora em pequenos casos. É mais fácil você saber como vai ser o próximo século para a industria pesada do que o campeão paulista de futebol desse ano. Mas procure fazer diferente de todo mundo, pois no caso de dinheiro, a massa é burra. Venda quando estão todos comprando, compre quando estão todos vendendo. Poupança deu um ótimo resultado, saia de lá e vá para onde o resultado foi pífio e assim por diante.
Ao longo da minha vida comprovei a tese do Barbi várias vezes. Lembro-me de um aniversario na casa de tio Patrão, quando um amigo falou que era um tremendo pé frio, pois tudo dava errado com ele. A poupança estava dando um bom resultado e ele aplicava todo seu dinheiro nela. Bastava entrar para o negócio cair. Perdia um monte de dinheiro e a moeda estrangeira subindo. Quando resolvia mudar a coisa invertia. Quando falei a ele que o problema era estar andando na mão certa ele disse que eu não tinha entendido nada e nem me deixou explicar a teoria Barbiana. Paciência, deve ter perdido dinheiro até morrer mas ainda sobrou algum para os descendentes continuarem sua teoria e torrarem tudo. Quando comecei a participar de leilões de gado em Corumbá foi a mesma coisa. Todo mundo queria boi e a vaca não valia nada. Comecei a comprar e engordar vacas. O preço de venda da arroba da vaca gorda era 10% menor que a do boi, mas o custo da arroba da vaca magra era 40% menor do que a do boi. Com o passar do tempo o pessoal começou a comprar vacas no leilão e inflacionou o preço. Comecei a comprar bois, aplicação simples da teoria Barbiana.
Com isso eu fico imaginando se aquela conversa há 35 anos atrás, num efeito borboleta, mudou o meu futuro. Gostaria de saber do Paulo Barbi, se está vivo, trabalhando com o que, e se tivesse oportunidade, falar a ele como foi importante aquela aula que ele me deu. Andar na contramão.

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