quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A grande briga

Antigamente as brigas eram limpas. Não tinha esse negócio do cara puxar arma, nem mesmo faca. A obrigação era reagir e não levar desaforo para casa, bater ou apanhar, não fazia muita diferença.
Estava com 18 para 19 anos e ia com a namorada em um baile no Corumbaense. Naquela época, não se saía sozinho, nem de dia ou mesmo de turma com a sua garota. Tinha que levar vela, assim chamávamos a acompanhante, e tinha que ser alguém da família. Íamos com seu irmão, que era um dos meus melhores amigos e sua namorada. Ela era uma carioca e também não podia sair sozinha, mas como era mais moderninha, a vela não precisava ser parente e nós, já no caso um candelabro, servíamos. Como se não bastasse a minha ex futura sogra mandou uma filha de uma amiga de Campo Grande com a gente e ali estava o problema. A menina era um entojo, tinha namorado que não veio com ela para Corumbá, quis ir ao baile e não quis dançar com ninguém.
Antigamente era assim. A mulher ficava nas mesas sentadinhas, e os dançarinos vinham e tiravam as solteiras para dançar, com um "permita-me esta música". Dançava e quando acabava a música a levava de volta a mesa. Quem ia no baile era para dançar, e tinha que ser sutil e mostrar se tinha gostado ou não para inibir ou animar o gajo a voltar na próxima música, o que não se podia era recusar, ou dar tábua, como se dizia na época. Eu e o cunhado já estávamos putos com a pé sujo, assim chamávamos os campo-grandenses na época por causa da terra vermelha de lá, pois a cada música ficava um de castigo fazendo companhia para a chata que se recusava a dançar com quem quer que fosse. Estávamos vendo que a rapaziada estava ficando nervosa com as recusas e eram de outra turma, é, na nossa época existiam varias turmas e, normalmente rivais, que disputavam as mesmas meninas. Como nós conhecíamos todo mundo, começamos a perceber que os pretendentes dançarinos eram todos do mesmo grupo e já estavam fazendo de sacanagem com a gente e usando a nojentinha. Não tivemos mais dúvidas quando todos os recusados se colocaram em fila em frente da nossa mesa e a cada nova recusa colocavam um cruzeiro sobre a mesa, que era para pagar a tábua. Quando acabou a fila e com aquele bolo de dinheiro sobre a mesa, a menina, já meio chorando, quis ir para casa. Passei a mão sobre a mesa jogando o dinheiro no chão e disse para ela não se preocupar que eles não iriam incomodar mais.
Nesse papo o Timóteo saiu para dançar na minha vez. Agüentei firme e aí aconteceu. Um dos que levaram a primeira tábua, e devia ser o armador de toda a gracinha, voltou e insistiu com a menina, já meio que a pegando pelo braço. Quando levantei para dar uma Michelada nele, o Timóteo chegando do salão foi mais rápido e deu primeiro. Começou a briga e dizem hoje que os companheiros dele acharam que estávamos batendo nele de dois, o que não era verdade, pois ele tomou uma só e sumiu, e vieram todos de uma vez, pois estavam acompanhando a azaração do colega. Já a nossa turma, que já era bem menor, estava espalhada e nem sabia do que estava acontecendo. Eu me lembro que estava de camisa branca de gola rolê e o clube tinha a tal da luz negra. Não sei se esse troço existe ainda hoje, mas era uma luz que acendia tudo que estava de branco. Eu parecia um farol na escuridão e não tinha alvo mais fácil de acertar. Essa camisa sempre me deu azar, estava com ela quando na volta dessas férias capotei com o carro. Dei e levei tanta porrada como nunca na vida. Um dos momentos que me lembro bem foi do Timóteo com as duas mãos apoiadas na mesa dando coice com as duas pernas ao mesmo tempo para trás. Era uma coisa impressionante e a cada paulada dessas abria a roda. Não conseguiam apartar a briga e já ninguém sabia quem batia em quem. Era cacete para tudo quanto é lado, começaram a voar cadeiras no meio do rolo, mas o maior estrago foi um dedo quebrado na turma deles e alguns roxos nas minhas costas e na do Timóteo. Quando foi chegando a nossa turma e a coisa foi se equilibrando, aí eles se mandaram. Mas era tarde demais e tínhamos acabado com o baile, e os únicos identificados no rolo fomos nós. Suspensão de 30 dias do clube e tudo que fizemos foi defender a honra da porra da pé sujo.

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