Zé Mauro é o nosso piloto, o melhor que já conheci. Tem umas teorias de vida que merecem um livro só para ele. Conhece esse pantanal como a palma de sua mão. Na fundação das fazendas, ou “refundação” de algumas que tinham 200 anos de idade, trabalhamos muito. Não tinha sábado nem feriado. A única coisa que eu procurava não faltar era o almoço de domingo na casa de meus sogros. Esse era quase sagrado.
Mas um dos trabalhos que gostávamos e tínhamos que fazer era comprar gado no leilão de sábado no Novo Horizonte. Era em uma fazenda que ficava do outro lado do Rio Paraguai, perto da nossa fazenda São Bento. Eram 30 minutos de avião ou três horas de carro. Era o maior leilão da região. Tinha alguns que chegavam a ter 5000 reses. Na época a área de engorda produzia mais que a de cria e eu precisava comprar gado magro. Íamos no Novo Horizonte e comprava quase todas as fêmeas do leilão, vaca e novilha. A medida que íamos arrematando os lotes eles iam sendo colocados em um local separado e as vezes a quantidade era grande e não dava para ferrar tudo no mesmo dia. Voltávamos para Corumbá e no domingo, no clarear do dia, decolávamos de volta para o Novo Horizonte, para ferrar o gado e despachá-lo para São Bento.
Normalmente, eu ficava com a planilha dos lotes anotando a quantidade de acordo com o lote que era marcado com tinta no lombo do animal e o Zé Mauro, com a marca quente da fazenda ia ferrando todo o gado que passava no brete. Ele era muito prático e caprichoso. Tinha seus métodos e apetrechos próprios. Esperava o gado parar, não ferrava com o bicho mexendo de jeito nenhum, tinha uma lima e uma pedra de amolar para passar no ferro da marca para tirar a gordura da pele e deixar a marca bem quente. Conhecia todos os métodos para o serviço sair bem feito. A cada ferrada ele dizia:
- Pode sumir a vaca, a marca de jeito nenhum.
No final tinha a quantidade de cada lote e batia com a quantidade comprada.
Numa dessas, já tínhamos saído atrasados, tinha mais gado que o normal, o pessoal da fazenda tinha deixado entrar um entrevero no gado, tudo isso acabou prorrogando o serviço até a hora do almoço. Eu, que sempre tive paciência de ver ele esperando a vaca parar para ferrar, nesse dia comecei a ficar nervoso. Lá pelas tantas, ele já tinha dançado a beça com uma vaca, quando, não aguentando mais falei:
- Pô Zé, soca o ferro logo!
Ele respondeu de pronto, já me passando o ferro:
- Merda eu não faço. Se for para fazer de qualquer jeito, faça você.
Peguei o ferro já bravo e fui para cima da vaca. Nesse momento, ela ficou paradinha e, tem gente que fala, até ajeitou as costas para mim. Ferrei e bem ferrado pois a bicha não mexeu o tempo todo. Com a mesma grosseria passei o ferro para ele, que estava o tempo todo olhando e já pronto para me criticar e falei:
- Aprendeu?
Ele olhou pra vaca, com as mão na cintura e falou:
-Huuum, vaca puxa saco.
Acabou a tensão na hora e todo mundo rachou de rir.
Esse é o Zé Mauro.
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