sexta-feira, 28 de maio de 2010

Angico

A primeira vez que vi a fazenda Angico eu estava com meu cunhado Pedro na fazenda do meu sogro Santa Rita. Ela é vizinha de cerca e ele estava formando uma invernada que ficava na divisa. Quando vi a fazenda ele comentou que era a melhor da região. Terra boa, solo profundo e sem pedra, pelas palavras dele, um espetáculo. Só tinha um problema, era do Dr. Helio Martins Coelho, um dos maiores pecuaristas do estado e ele não vendia de jeito nenhum.
Nós já tínhamos Rancho Alegre e Campo Salma. Dois ou três meses depois, o Zé Alberto, meu primo, chegou no meu escritório falando que o Dr. Helio Coelho estava vendendo a fazenda 72, que era vizinho de Rancho Alegre e "vizinho vendendo, a gente compra". Como o preço era bom, pedi que ele conseguisse uma carta de opção com o proprietário. Depois de reclamar muito, dizer que isso era frescura minha e mais um monte, foi atrás da carta. E não voltou mais. Uns dias depois, encontrando-o na rua perguntei da porra da carta. Ele muito sem graça respondeu:
- Essa sua boca... Ele não estava vendendo a 72. É outra fazenda.
Eu já puto, pois me lembrei que ele queria que eu fosse ver a fazenda e fazer proposta sem a mesma estar a venda, não sei porque, perguntei:
- Qual é a fazenda?
- Angico, ele respondeu.
- Pega a opção assim mesmo. Vamos ver essa coisa de perto.
- Mas não é vizinha. Você vai é fazer eu perder tempo.
Insisti com ele. Eu já conhecia e tinha interesse. No dia 22 de dezembro ele me trouxe a carta de opção válida até o dia 31 de dezembro. Eu estava com uma febre de 38 graus que não passava por nada e como me cansava a toa, o Dr Domingos pediu uma radiografia dos pulmões. Pneumonia dupla. Antibiótico e cama. Ia vencer o prazo da opção e eu sabia que existia um grupo forte interessado na área. No dia 29 de dezembro, como a pneumonia não cedia, fomos a Campo Grande. Zé Alberto, Zé Antonio, meu irmão, a pneumonia e eu. Os dois na frente e eu deitado no banco de trás. Tinha que ficar deitado, não especificaram que a cama não podia se mover.
A fazenda tinha 1300 hectares e a pedida era equivalente a 150 U$ por hectare. Juntando tudo que tínhamos não dava a metade. O homem tinha que nos dar prazo e com o preço acertado em dólar não teria reajuste. Ele ficou muito relutante em vender e entregar a terra sem receber o valor integral. No último dia do ano de 1989, depois de dois dias de negociação, ele nos chamou e fechou o negócio pelo preço pedido, nos dando o prazo que quiséssemos, só a comissão do Zé que ele quis que nós pagássemos. Depois de acertado tudo que ele abriu o jogo. Não fechou negócio antes porque queria informações nossas e ele só conseguia de papai. Finalmente conseguiu falar com seu procurador, o Waldemar Lins que disse a ele:
- Pode fazer o negócio que você quiser com esses meninos. Eles são iguais ao pai que eu endosso independente do valor.
Depois de fechado o negócio, estávamos na porta do escritório do Dr Helio quando meu irmão virou pra mim e disse:
- Eu vim até aqui só para você não falar que não comprou por minha causa. Mas não era para comprar!!
Não entendi nada. Eu na maior alegria e ele na maior preocupação. Pagamos até o último centavo e somos gratos até hoje ao Sr. Waldemar Lins. É a minha menina dos olhos. Realmente o Pedro tinha razão. Não existe nada igual na região, quiçá no Brasil. Meu capataz brincava comigo que quando começava a chover ele não conseguia dormir com o barulho da braquiaria crescendo. Não tem quem vai lá e não se encanta. Com o passar dos anos fomos adquirindo os vizinhos, que como diz Zé Alberto, "vizinho vendendo a gente compra", e hoje ela tem 3500 ha. Como Piratininga no Pantanal, Angico na parte alta é a minha preferida.

Um comentário:

  1. Hoje fazemos um pouco de agricultura no Angico.
    Colhemos 1000 toneladas de milho, fechando média acima de 100 sacos por ha na safra 2009/2010. A chuva não ajudou muito, mas a terra fez a parte dela.

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