sexta-feira, 29 de outubro de 2010
O Periquito
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Viagem a Europa
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
João Celpa
Quando saí da Mecânica Pesada e vim para Corumbá, passei pela maior mudança de vida que alguém pode imaginar. Lá eu era um executivo em uma empresa em que as normas tinham mais de mil folhas. Tinha o procedimento do chefe e para com o chefe, deveres e obrigações detalhadas e separadas. Eu era o chefe de departamento de engenharia e tinha mais ou menos 40 pessoas trabalhando sob meu comando, todos de um bom nível, sendo os desenhistas os mais baixos e os engenheiros os mais altos.
Quando comecei a trabalhar com fazendas o nível mudou drasticamente. Eu não era mais só o chefe e me via em cada situação incrível. A mais estranha foi quando o nosso praieiro da fazenda Canaã me fez o pedido mais estranho de todos. Queria que eu pedisse a mão da Dona Dunga, nossa cozinheira, em casamento. Ele estava apaixonado. João Celpa devia estar na casa dos 70 e Dona Dunga na dos 60. Para não rir daquela situação já foi um sacrifício e ele só me deixou depois de prometer que iria conseguir que a velha aceitasse se casar com ele.
Fui na Dunga e quando falei do pedido quase que ela enfartou. Não usou nenhum palavrão porque me respeitava muito, caso contrário teria me batido. Ela tinha horror ao João. Só o chamava de velho tarado. Sondava ela no banho e por duas vezes quis forçar a porta de seu quarto. Aceitei a recusa e fui tomar satisfação com o Celpa. Que merda era essa de velho tarado. Ele começou a se explicar que ela tirou isso só porque ele tinha uma verga de quati seco que tomava ralado junto com o guaraná. Como não entendi nada ele explicou.
- Seu Tadeu, a gente pega um quati mundéu, que é um desses velhos que já está excluído do grupo, mata e tira a verga (pênis) dele. Deixa dar uma secada e rala todo dia um pouquinho e toma junto com o guaraná. Se só o guaraná já é bom pro trem com a pica do quati fica um foguete.
Respondi na mesma simplicidade:
- A Dunga não quer entrar no seu foguete, seu João
Aí fui devidamente esclarecido
- Ela já entrou no foguete, seu Tadeu. As duas vezes que eu tentei arrombar a porta eu consegui.
- Então seu João, o que aconteceu que a velha revoltou com o senhor?
- Pra falar a verdade seu Tadeu acho que o foguete explodiu muito cedo mas já melhorei a dosagem do quati e ela não quer experimentar de novo. Então pensei em casar logo que já to muito velho para ficar arrombando porta.
Já não me agüentava não só de vontade de rir, como também de ver de perto essa mistura explosiva de guaraná com verga de quati. Voltei na Dunga de novo e falei que as intenções dele eram sérias e como ela não sabia que eu estava por dentro da história do foguete, para provocar falei que era só para ajuntar os trapinhos, um cuidar do outro na velhice, que nem devia rolar mais nada de sério com ele. Foi só eu tocar no assunto que a velha desembuchou tudo e me contou que foi violentada por ele. Na primeira arrombada da porta, foram três vezes e na segunda quatro e que ela nunca tinha visto velho mais tarado. Comecei a ficar seriamente interessado na mistura do João Celpa. Como eu sabia que a velha era dinheirista, falei com meus botões mas num tom que ela podia escutar.
- Bom, vou dar outro jeito na geladeira.
Geladeira em fazenda era artigo de alto luxo. Nunca teve pois não tinha energia elétrica. Quando fizemos a rede, como já não tinha o costume, a prioridade para a geladeira era baixa. Tinha freezer para conservar a carne e no trabalho de gado as vacinas, mas geladeira não.
Dona Dunga quando ouviu a palavra GELADEIRA, quis que eu esclarecesse o pensamento, foi quando falei:
- Não é D. Dunga, mas eu tinha tanta certeza que a senhora ia aceitar o pedido e eu ia ser o padrinho que até já tinha encomendado o presente. Aquelas de porta dupla com congelador separado. Mas não tem problemas que eu dou outro jeito.
Na maior cara de pau ela perguntou:
- Brastemp?
- Lógico - respondi.
- Bom, mas o senhor não me falou que as coisas estavam tão adiantadas assim. Marque a data.
Com isso eu comprovei as palavras de meu genro, que tudo nesta vida vai ou na porrada ou no dinheiro, e quando não vai, é porque faltou ou porrada ou dinheiro. A porra da velha ia se casar por uma brastemp. Mas o destino aprontou com seu João Celpa e depois de tudo, com data marcada, ela largou dele para ficar com um rapazinho de 40 anos, o Odilon.
Quando fui conversar com o João, ele estava inconsolável, coisa de dar pena. Falei que ele arrumava outra, que ela não era a única no mundo, quando ele me surpreendeu mais uma vez.
- Não é por isso não seu Tadeu, é pela minha burrice que estou triste. Eu que ensinei a mistura da pica do quati com guaraná para o filho da puta. O senhor me desculpe o palavrão mas não tenho outra definição para ele.
Hoje eu sei que a D.Dunga já morreu há uns 5 anos atrás, do seu João eu não tenho notícias. Quando ele fez 78 anos eu o trouxe para ficar de guarda no meu escritório. Tem um apartamento nos fundos da empresa. Tive que demiti-lo quando, num domingo, encontrei o portão aberto e dentro de seu apartamento estava uma paraguaia de uns 70 anos pelada e embriagada e o João Celpa descornado na cama, devidamente pelado também. Quase que tive que aloitar com a mulher para colocá-la para fora. A mistura do foguete devia ainda estar funcionando e eu recomendo a todos. Haja quati.
terça-feira, 26 de outubro de 2010
O cara de pau
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Ivan Chu
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
O avalista
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
O Beijo
Eu não gostava de filosofia, apesar de admirar quem conhecia o assunto, até começar a conversar com o Dr. Ubirajara e ver as teorias filosóficas dele cheias de lógica. Foi a pessoa que me fez ver que existe lógica em tudo e que direito é lógica direto e você só tem que aceitar os princípios, exatamente como os postulados da matemática, e a partir daí é lógica pura. Às vezes ficávamos horas conversando sobre direito romano, como, quando e porque começou. Podia ficar ouvindo-o por horas e ele sabia disso. Me arrependo hoje de não ter conversado mais com ele. Tinha o melhor professor particular de direito e não sabia disso. Existiram muitos lances engraçados patrocinados pelo Bira. Tivemos uma audiência trabalhista, onde um gerente nosso que não era registrado, queria provar que ele não era gerente coisa nenhuma e que eu não quis registrá-lo, enquanto a verdade era que ele era o responsável pelos registros de todos empregados da fazenda. O juiz do qual não me lembro mais o nome estava escutando o depoimento de uma testemunha e ditando para o escrivão quando a testemunha falou:
- Eu já vi o Sr Tadeu quando ele estava de visita na fazenda e dava as ordens diretamente para a gente.
O juiz mandou transcrever que a testemunha confirmou que recebia ordens diretamente do Sr. Tadeu. Quando ele falou isso eu achei que seríamos todos presos por desacato. O Bira deu uma porrada na mesa e falou que o meritíssimo estava deturpando as palavras da testemunha. Que ele queria esclarecer o "já tinha visto" e a "visita". Como um empregado vê o seu chefe diário em visita e declara que já o tinha visto? Na hora que ele argüiu a testemunha ela confirmou que tinha me visto nos fins de semana e que nos outros dias quem ditava as ordens era o gerente. Ganhamos a questão.
Em outras vezes, ele já não enxergava muito bem e eu sentava ao seu lado nas audiências. Como eu não podia falar, às vezes cochichávamos e para isso eu me inclinava para o lado dele e inúmeras vezes ele errava o cálculo de distância e quando ia falar no meu ouvido acabava por bater o nariz nas minhas bochechas, o que era motivo de risos de todos na mesa. Às vezes, para quebrar o gelo, eu brincava que mais um beijo daqueles eu apaixonava e todos rachavam de dar risadas, mas ele tinha o respeito de todos desde o advogado da outra parte até o juiz.
Nunca comprei nada que não passasse pela sua análise e aprovação e esse procedimento já afastava os pilantras. Enquanto o Bira era vivo nunca entramos em fria, de qualquer espécie, entretanto depois que ele se foi... Hoje tenho certeza que advogado bom é aquele que resolve seus problemas e advogado ótimo é aquele que não deixa você entrar em nenhum. Esse era o Ubirajara Sebastião de Castro. Você, às vezes, tinha que tomar uns beijos dele mas valia a pena.
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Metrô de paris
terça-feira, 19 de outubro de 2010
George Pion
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
Gilberto Nazario Rodrigues
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
Os bugios
Essa me foi contada pelo Zé Mauro - nosso piloto. Os técnicos da Embrapa, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, estavam acabando de montar sua estação metereológica na fazenda Itumirim. Era uma parafernália enorme com tudo quanto é aparelho terminado em ometro: pluviômetro, barômetro, "cacetômetro" e por aí afora. Tudo montado e me aparece um peão da fazenda, se dirige ao técnico da instalação e pergunta se aquilo tudo pode ficar ao tempo e tomar chuva. O técnico deu risadas e explicou que aquilo era uma estação metereológica. Que podia ficar ao tempo mas mesmo que não pudesse, que não tinha problemas pois ela indicava a chuva com antecedência de dias e não existia previsão para os próximos. O peão olhou desconfiado para ele e perguntou se ele não estava escutando os bugios. Que ele podia ficar certo que ia chover e naquela noite pois bugio quando grita assim é porque vem água e é coisa grossa. O técnico não deu muita bola, completou que eles estariam amanhã cedo lá para ver quem tinha razão, se quisesse até apostava, deu risadas e se recolheu. A noite desabou o maior temporal. Chuva torrencial com raio que entrava por uma janela e saia por outra e ventos de mais de 100 km por hora. Ninguém conseguiu dormir a noite toda pois o risco de voar telhados e o barulho dos trovões era coisa de fim do mundo. No dia seguinte cedo foram ver a estação metereológica e estava toda espalhada pelo pátio, num raio de mais de 100 metros. Realmente agüentava água, já vento....
O peão olhou pra cara do técnico do dia anterior e perguntou se tinha reparo, pois o que se via era um monte de ferro inox e alumínio retorcido. Para sua surpresa o mesmo respondeu:
- E precisa? Com esse monte de bugio fazendo serviço melhor que essas merdas todas aqui.
O peão que contou isso pro Zé completou com um:
- Acho que ele desanimou pois nem se lembrou da aposta.
Esse deve estar até hoje falando que "meteorologia não é fácil".
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
Marcinho
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
Seu Dutra
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
Fernando Pala
Eu não conheci o Fernando Pala, só os seus causos. Era tido como o parceiro do Dr. Murtinho nas histórias inverossímeis que são inúmeras. Sua marca de gado era um DF, de Dalva, sua esposa, e Fernando e ele vivia se gabando do gado que realmente era muito bom. Ele tinha uma foto muito bem tirada de cem reses ou até mais e parecia que tinham pousado para a fotografia de tão organizadas e todas olhando para a câmera. Era uma nelorada bem ajeitada, todas branquinhas, com exceção de uma única novilha preta. Pois ele fazia questão de dizer que a pretinha era um entrevero e pertencia a fazenda Santana do Dr. Romeu, seu vizinho, que varou a cerca.
Outra das dele é que ele podia ficar o tempo que fosse na fazenda que ele lia o Estadão diariamente e explicava como. Conhecia o piloto da Varig que fazia a linha Rio de Janeiro - Lima e passava bem por cima da Caiçara, a fazenda dele. Pois ele dava um rasante e jogava o jornal pela janela. Não admitia que duvidassem dele.
Na enchente de 74, uma das maiores da região, perguntaram se ele não estava assustado com aquele mundaréu de água. Ele falou que enchente foi a que teve em seu pais natal, ele era Português, que foi a única vez que ele ficou realmente com medo de água. Todos curiosos e perguntando que raio de cheia foi essa quando ele simplificou a explicação dizendo:
- Para vocês terem uma idéia, pontes que navios muitos grandes, não esses barquinhos que temos aqui, passavam por baixo, na cheia passavam por cima.
O pessoal só completava:
- Cheião, hein?
Mas a melhor de todas que ele contava se deu quando ele estava de férias no Rio de Janeiro, na praia de Copacabana. Um caminhão boiadeiro sofreu um acidente e um boi escapou da gaiola e começou a correr na praia. Era um boi gordo, bom de tudo, nelore dos mais purinhos. Os cariocas que só conhecem bife e no prato e nem sabem como ele chega a isso, se esparramaram todos e ele viu que era o único que podia resolver o problema, antes daquele bicharedo machucar alguém ou a policia ter que abatê-lo a tiros. Precisava tomar uma providência. Correu até um armazém, é armazém mesmo, e comprou 20 braças de uma corda grossa e improvisou um laço. Saiu atrás do boi e quando estava a uma distância razoável boleou o laço que, ele fazia questão de salientar isso, estava com uma armada pequena e colocou bem no batoque dele, o boi era daqueles de chifrinho grosso e curto que o pantaneiro chama de batoque. Acertou no primeiro arremesso e no tranco colocou o boi no chão. Correu até ele para peá-lo e aí veio a surpresa. Na anca, bem ferrado, naquele mundo de animal, lá estava o DF. Que coincidência rapaz. Agora, vai duvidar dele.