quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Os burricos da Apae

Já falei que meu irmão não entende e não gosta de fazenda. Vê a coiseira toda como um negócio e não adianta dar uma de Luis Guilherme Lacerda com ele, que vive falando que "trabalhamos em um ambiente maravilhoso, andando a cavalo por esse pantanal onde pessoas pagam para isso, respirando esse ar que mais puro não existe, convivendo com esses animais silvestres lindos e maravilhosos, e ainda querer ganhar dinheiro com tudo isso já é demais". Há muito tempo atrás, antes de eu saber o quanto ele entendia de pecuária, fomos a um leilão no sindicato rural de Corumbá. Enquanto eu participava ativamente do leilão de gado de corte ele ficou batendo papo com todo mundo e só olhava quando o leiloeiro falava "...e a compradora foi a fazenda Angico". Olhava e sorria para mim. Quando acabou a primeira parte e começou o leilão de eqüinos, resolvi dar uma esticada de pernas e o deixei sozinho na mesa. Fui até a porta do tatersal de modo a ver os animais mas sem poder participar dos lances. O primeiro lote foi uma doação que fizeram para a APAE e era de um casal de burricos. Igual aquele que Jesus entrou em Jerusalém. Não tem coisa mais feia e encardida que esse bicho. São muito pequenos com umas orelhas desproporcionais, que nem os coelhos, uma cabeça muito grande para o tamanho do corpo, e o principal, não serve para absolutamente nada em uma fazenda de gado de corte, a não ser dar raiva para capataz pois não tem cerca que ele não vare. Existe para produzir a mula ou o burro, cruzando ele com a égua, e isso é foda, literalmente. Primeiro pelo tamanho, você tem que cavar um buraco para ele ter altura e alcançar a égua. Depois ele é masoquista e você tem que surrá-lo para cobrir a bicha que está num buraco e esperando aquela coisa horrível trepar nela. A conclusão é que não tem bicho mais inútil. Fiquei olhando achando até meio sacanagem alguém fazer uma doação desse tipo. Se dessem pra mim um trem daqueles eu agradeceria e não aceitaria nem que fossem acompanhados de um troco. Me admirei quando alguém aceitou abrir o leilão pelo valor proposto pelo leiloeiro e o desenrolar foi mais ou menos assim:


- Duzentos, duzentos, duzentos, quero mais vinte, mais vinte, vamos lá pessoal, é para a APAE, só mais vinte...


E a coisa ficou por bem uns 3 minutos naqueles mais vinte que não vinha, Ai passou para mais dez, mais dez, só mais dez, que também não veio. Finalmente ele bateu o martelo e falou:


- A APAE agradece a colaboração e a compradora foi a Fazenda Angico.
 Olhei pro leiloeiro com a expressão de "eu não comprei essas merdas", quando ele apontou, com os olhos, para o meu irmão. Fui até a mesa e ele me falou:


- Você saiu e se não fosse eu íamos perder de comprar esses pôneis para as crianças. E comprei barato.


- Pônei Zé? (eu o chamo de Zé quando estamos brigando). Burrico!


- Porra meu, você comprou um monte de gado e fiquei quieto. Eu compro dois pôneis e você me chama de burro?
 Não Zé, burrico foi o que você comprou. Não são pôneis. O último cara que montou nisso foi Jesus. 


Aí demos risadas. O trem deu ódio para gente até o dia que conseguimos passá-los para a frente. Trocamos o casal mais uma cria que nasceu na fazenda por uma vaca leiteira e a vaca valia os 200. Papai já dizia que eu tinha muita sorte pois nasci empelicado e de tóba pra lua e isso vivia se comprovando, até no meu dia a dia.

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