quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Minha melhor professora de Português

Já falei que a Maria Teresa foi a minha melhor professora de português. Os erros que aparecem neste blog são culpa exclusiva dela e da Laura, minha filha e editora. Aqui na minha região o provérbio que mais gostamos de usar e aquele do "mato a cobra e mostro o pau". Tempos atrás recebi uma carta dela sobre as férias que ela, com alguns amigos, passou aqui no pantanal. Foi uma das coisas mais lindas que já recebi e, sem sua autorização, vou reproduzi-la aqui. Alguns pequenos enganos eu corrigi. O resto é ipsis litteris.

AVENTURAS NO PANTANAL MATOGROSSENSE

Estamos todos ainda em estado de graça com as emoções que tivemos com a nossa viagem ao pantanal em julho. Tudo começou na fazenda S. Bento, que fica na metade do caminho entre Campo Grande e Corumbá*. A sede é linda, toda rodeada de mangueiras. Na entrada, suscitando o deslindamento dos visitantes, há um enorme coqueiro que serve de viveiro para as araras-azuis. No final da tarde, dezenas delas ali se aninham dando-nos a impressão de que a árvore esta carregada de frutos azuis.

Ainda temos na boca o sabor do delicioso caldo de piranhas, daquelas ventrechas de pacu (sabiamente trazidas por Bea, pois se dependesse dos pescadores...). Sem falar no queijo Nicola, da chipa e dos doces da Jaci (única vilã da história, pois fez todo mundo voltar mais pesado). Como esquecer o lindo trajeto entre São Bento e o Pesqueiro com as inúmeras invernadas e seus capões cheios de carandás, ingazeiros, bocaiúvas e pimenteiras, sem contar os majestosos tamburás plenos de flores amarelas a prenunciar a proximidade do Rio Miranda. Parecendo dar boas vindas um casal de araras azuis seguia o nosso carro. Emas, capivaras, quatis, tuiuiús, veados, surgiam aqui e acolá dando-nos uma amostra da riqueza animal que iríamos encontrar.

E o rio Miranda, com suas águas mansas e límpidas, que torna-se ainda mais majestoso ao cruzar o Rio Vermelho. Rio sábio este que escondeu todos os pacús, dourados e pintados e generosamente ofereceu muitas piranhas aos pescadores (quem ia agüentar o Nonô, Chu ou Carlão, se algum deles tivesse pescado um pacú de 10 kg)... E aquela sinfonia de pássaros... E o tuiuiú Carioca, que vive roubando os peixes dos pescadores. E os jacarés tomando sol na beira do rio no final da tarde.

Inesquecível foi o emocionante retorno no fim da noite à procura da batida correta no meio do capinzal colonião. Os nossos anfitriões fizeram questão de nos mostrar um mesmo ponto turístico por quatro vezes (realmente aquela simbra é fantástica e aquele cocho um verdadeiro obelisco no meio da invernada... e aquele prático um autêntico guia turístico).

Fomos em dois aviões de São Bento para Pirarininga, em pleno centro do pantanal. Nossos olhos se regalaram, por quase uma hora, com o pantanal visto de cima, com seus longos corichos, vazantes e fazendas (todas com campo de pouso!). Destaque deve ser dado a um dos pilotos que, quem diria, era Tadeu, contrariando totalmente a teoria dos mineiros segundo a qual "burro velho não pega marcha" (brincadeirinha!!!)

Como esquecer da fazenda Piratininga, em pleno Paiaguas, e a nhecolandia, do outro lado do Rio Taquari, (nome dado em homenagem a um fazendeiro chamado Nheco, por sinal antepassado de Bea, que defendeu o Pantanal do ataque de países vizinhos). Quem podia imaginar de encontrar uma mansão no meio do Pantanal!. E as caçadas fotográficas nas vazantes sob maravilhosos crepúsculos. Um show a parte foi a foto certeira de Tadeu num porco do mato a aproximadamente 500 m de distância e a habilidade de Daniel e Chu em retocar e ampliar a mesma lá na fazenda. As fotos dos jacarés também foram incríveis. Eles ficaram assustados com tantos flashes pipocando sobre eles, o Karmam e o Nonô foram os que mais bateram. As melhores foram aquelas tiradas a menos de um metro de distância.

A fazenda Santa Cristina, com suas inúmeras invernadas e aquele gado nelore, tão dócil e branquinho! Soubemos que Daniel fez toque em milhares de vacas para ver de estavam prenhes ou não, razão pela qual elas até piscavam para ele (as fofocas correm...)

A fazenda Perdizes, última a visitarmos (e também a última aquisição da família!) é simplesmente paradisíaca. No caminho, defrontamos nada menos que um viveiro de pássaros e aves aquáticas (tuiuiús, colhereiros, cabeças secas, aranquans, cardeais, impossível enumerar todos!). Como que conscientes da nossa admiração (e com a ajuda de Tadeu que dirigiu em direção a elas) empreenderam revoadas simplesmente impossíveis de descrever! A sede da fazenda fica num local lindo, mais elevado, rodeada por majestosas figueiras, de frente para um coricho, o qual se pensa tornar navegável na época da cheia e assim unir esta fazenda a Piratininga. As vazantes, serpenteadas por frondosas árvores, recobertas de uma fina camada de capim, mais parecem um campo de golfe. Esta topografia com esta vegetação nos faz lembrar jardins de castelos britânicos, só que, no caso do Pantanal, formados e conservador pela própria natureza.

Mas incrível mesmo foi o reencontro com Tadeu e Bea, que não mediram esforços nem logística (desde lanchas até aviões foram mobilizados) para recepcionar esta turma lá dos confins da divisa de São Paulo com Minas Gerais. Incrível foi presenciar a relação de Bea e Tadeu com o neto Rafael. Incrível foi rever Beto, Daniel , Guilherme, conhecer melhor a Pat, esposa do Beto (só não encontramos a Ana, esposa do Guilherme, mas afinal alguém tinha que trabalhar...) Incrível foi constatar que, apesar do tempo e de toda a mudança de vida da família, todos continuam os mesmos: grandes, excepcionais e queridos amigos!.
FIM DA CARTA

Linda, não? E faz valer toda logística, que nem foi tão grande assim. Quem não conhece a Maria Tereza, recomendo que leia, neste Blog, a história título "Maria Tereza", de 30 de abril de 2010.

Um comentário:

  1. Caro Tadeu
    Fiquei emocionada com a sua atenção em incluir o saudoso Karmazin e a minha carta no seu blog que, opinião geral, é um sucesso. Escrevi aquela carta em um momento de pura emoção logo após aquela inesquecível viagem ao Pantanal . Na realidade, sou uma professora de Português fajuta, já que fiz Letras porém nunca dei uma aula, pois acabei virando secretária. Mas gosto muito da língua Portuguesa e fiquei encantada com o vocabulário peculiar da região do Pantanal, o qual fui anotando durante a viagem para não esquecer nadinha.
    Tadeu, você, Beá e toda sua familia fazem parte daqueles amigos especiais que, apesar de não nos encontrarmos com frequência, estão sempre em nossas conversas e em nossas lembranças.
    Obrigada pelo carinho e um forte abraço.
    Maria Tereza

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