quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Padre Ernesto

Padre Ernesto foi meu professor de latim e de canto, é, canto de cantar. Na minha época tinha essas duas coisas e a explicação para o Latim é que apesar de ser uma língua morta tínhamos que conhecer pois era mãe do Português. A piada da época e que ele não gostava é que devia chamar Dona Maria e não Latim. Já o canto ninguém explicava o motivo, mas serviu para muita gente não se meter a cantar. Acho que dos Marinhos não prestou nenhum pra coisa. No primeiro dia de aula você devia recitar a escala musical para o padre Ernesto e ele definia se você seria o grave ou o agudo ou o barítono ou coisa parecida e assim por diante na formação do coral da escola. Tanto eu quando o Tontonio, não acabamos de cantar a escala, começamos no dó e no mi, ele sem dó mandou que parássemos e definiu que só fingiríamos, gesticulando com a boca, mas não emitiríamos nem um som ou acabaríamos com o coral da escola. Minha possível carreira de cantor acabou ali, naquele momento. Para fazer serenata para as meninas nos meus 15, 16 anos tinha que encher a cara de álcool para ter coragem. Se fosse uma coisa constante, correria o risco de me tornar um alcoólatra. Quando ele mandava eu declinar um verbo da primeira conjugação e eu errava na pronuncia ele já me executava pois achava que estava com graça. Nas aulas de Latim era quando eu mais ia parar na diretoria. Teve uma vez que estava procurando a borracha na minha pasta durante a aula e ele perguntou se eu estava procurando o meu batom. Respondi que não, e completei baixinho que sabia que não estava lá porque eu tinha emprestado à ele que não tinha o costume de devolver. Ele escutou o que eu disse ou o riso do pessoal em volta e já fui para a diretoria. O padre Miguel quando me via só perguntava se era na aula de Latim ou de Canto, pois já sabia que era o padre Ernesto que tinha me executado. Mas depois ficamos muito amigos. Ele é uma pessoa admirável que tem trabalhado muito por Corumbá. Não conseguiu ensinar nem canto nem latim para mim, em compensação criou a cidade Dom Bosco que é a maior obra de apoio ao menor carente do estado. Criou-a inteira, não só a parte material, e quem conhece sabe ser uma coisa enorme com salas de aula, campo de esportes, anfiteatro, ginásio coberto, abrigando todas as crianças carentes, proporcionando alimento completo: corpo, mente e espírito, transformando o padre Ernesto no maior benemérito desta cidade. Agora, como professor de Latim, tenho que falar, "não foi fácil".

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