quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Droga de Memória

Tem coisas que estão na sua memória mas sem endereço. Aqueles lances de sei que conheço mas não sei de onde e nem de quando. Estava viajando de avião de Santiago para São Paulo na classe executiva, na America do Sul a diferença para classe turística não era mais de 30 dólares, e meu vôo fazia escala em Foz do Iguaçu. Estava deitado quando embarcou uma figura. Era mulato e estava todo de branco com aquelas camisas bordadas paraguaias, um chapéu de palha de abas largas e chinelos de franciscano. Parou ao meu lado e com um sorriso nos lábios fez sinal de cabeça dizendo que era meu companheiro de viagem, que sua poltrona ficava ao lado da minha. Um sujeito bem simpático e me levantei para ele passar devolvendo o sorriso. Ele parou e me estendeu a mão. Ao cumprimentá-lo lembrei que era um cantor e que já tinha visto em algum programa de televisão e caí na besteira de dizer que ia ser um prazer tê-lo como companheiro de viagem. Ele ficou todo animadinho de ser reconhecido e perguntou se eu sabia qual era seu nome. Entrei em pânico. Mas que merda, porque eu tinha que abrir minha boca. Vasculhei a memória e peguei um flash dele cantando "na BR 3". Eureka. Larguei na lata:
Tony Tornado. A reação foi de um chute no saco, ou um choque de 220 volts. Ele fechou os olhos, encolheu os ombros e me perguntou quanto tempo tinha que eu não via Tony Tornado. Balancei a cabeça e não disse nada, já tinha falado demais. Ele completou que o mesmo devia pesar por volta dos 150 kg, tirou o chapéu me mostrando que tinha todo cabelo e disse que o Tony estava totalmente careca. Falou ainda que o Tony era negro e ele mulato. Como eu continuei de pé esperando ele entrar e não me manifestava ele me estendeu a mão novamente e disse:

- Muito prazer, Emilio Santiago.

Apertei sua mão novamente e falei:

- Minha mulher não vai acreditar que viajei ao seu lado. Ele é sua maior fã e tem todos seu cd's.

Ele muito gentil, me olhou e disse “sei”. 
Acho que não acreditou muito e passamos o vôo todo sem trocar uma palavra. Quando chegamos em São Paulo, ele se despediu rindo e falando: "Tony Tornado", enquanto balançada negativamente a cabeça. 
Acho que frustrei o homem.

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