terça-feira, 16 de novembro de 2010

Nhato

Nhato é como chamam esses leitõezinhos aqui na região. Era o apelido de um empregado meu, desses que você nem sabe o nome mais. Trabalhavam ele e a esposa na fazenda Piratininga, quando nasceu o primeiro filho dos dois. Ela tinha duas meninas com outro homem. 
O Guri chamava Paulinho e como a gravidez foi meio complicada a mãe fez promessa que só cortaria o cabelo do menino quando ele fizesse 7 anos. Com 3 já era a coisa mais esquisita pois ele era mulato, pai branco e mãe negra e puxou o cabelo desta última. Era muito pixaim e como nunca cortou, era uma miniatura desses Black Power. O gurizinho era muito bonitinho mas aquele cabelo era de arrepiar ou, melhor dizendo, muito arrepiado. O menino tinha uma mania engraçada e demorei para descobrir o que acontecia, mas todas às vezes que eu chegava na casa dele, o comedor da fazenda era junto, ele grudava no seu saquinho com as duas mãos e saía correndo. Na quarta ou quinta vez que eu percebi que esse gesto era sempre o mesmo, peguei o menino antes dele se mandar. Quase morreu de susto e gritava que ele ia ser bonzinho e que eu não devia capar ele. Tudo isso falado por uma criança chorando, eu não conseguia entender nada, até que apareceu a Dilene, sua mãe. Quando perguntei que merda o gurizinho estava falando e porque ficava apavorado toda vez que me via que ela me contou a história. Como ele era muito danado, o pai falava que se ele não se comportasse, ele ia chamar o patrão, eu mesmo, e mandar cortar suas pelotas. Pronto, terrorismo feito e o guri acreditou piamente. Enquanto a mãe me contava ele foi de acalmando e no fim eu falei a ele que iria era capar o pai dele se ele zangasse ou quisesse bater no Paulinho. Feitiço virou contra o feiticeiro e toda vez que o pai queria puteá-lo, ele punha as duas mãos na cintura e falava:
- Você esqueceu que sou amigo do homem. Quer perder as pelotas, quer?
O guri que já era terrível ficou impossível e com sete anos deu um tiro na bunda do primo. A sorte que foi de 22 e com bala velha. Hoje tá homem, mais de 20 anos e ainda brinca com o pai, que é meu chapa e que ninguém pode mexer com ele.
O tempo passa.

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