terça-feira, 27 de abril de 2010

Taubaté

Eu me formei em 1972 na Escola de Engenharia Mauá. Em abril de 73 eu me casei com Beá e fui procurar emprego. Comecei na Bardella como engenheiro de orçamentos de máquinas de transporte e levantamento. Era a matéria que eu mais gostava na faculdade e quando apareceu esse emprego eu peguei firme. Fiquei na Bardella por um ano. Quando saí de férias em julho de 1974 e fui para Corumbá, surgiu uma epidemia de meningite em São Paulo e o Dr. Jamal, pediatra da minha filha, não deixou que voltássemos com ela para lá. Tivemos que voltar sem Laura e isso nos fez pensar em mudar para o interior. Como gostava do que fazia, fui para a Mecânica Pesada, uma multinacional francesa, que trabalhava na mesma área que a Bardella.

Meu primeiro chefe lá foi o Ivan Chu, pai chinês e mãe francesa. Depois de 6 meses, ele saiu da empresa e fui trabalhar com Onik Diram Choulian, armênio de nascimento, brasileiro por opção, como ele dizia. Foram as duas pessoas mais inteligentes com quem tive o prazer de conviver e trabalhar e que são meus grandes amigos até hoje. Fiquei 10 anos em Taubaté, e posso dizer que foi uma das melhores fases da minha vida. Nesse período, comecei como engenheiro de projetos, aí fui para o cálculo e passei a chefe do CEM - Cálculos e Estudos Mecânicos. Com a verticalização da empresa fui a chefe de departamento de engenharia hidromecânica - HEM, e depois engenharia de métodos e processos. Gostava muito do que fazia e participei da construção das maiores usinas hidroelétricas desse pais. Tinha um chefe genial e que me incentivava muito. Fiz engenharia civil em Taubaté e depois mestrado em estruturas no ITA, em São José dos Campos.

Trabalhávamos a semana toda e nos fins de semana íamos, eu e Beá, na casa do Choulian para jantar uns folheados deliciosos que a Mama Angel fazia. As conversas acabavam sendo muito sobre trabalho e existia uma situação muito particular, pois a esposa do Choulian, D. Virgínia, também era calculista e trabalhava comigo. Era um problema pois ela era a melhor calculista que eu tinha e cada vez que tinha que dar aumento de salário a ela, tinha que brigar com meu chefe e às vezes passavam-se dias para convencê-lo de que existiam comparações salariais e segurar o dela implicava segurar o de outros que também mereciam. Era um parto. Apesar de super inteligente era cabeça dura. Nessas visitas, quando a conversa ia para serviço, a D. Virgínia falava que lá era ela a chefe e ninguém podia falar de serviço. Nós não dávamos muita atenção e íamos para o escritório dele onde podíamos continuar a falar da única coisa que gostávamos: cálculos e computação. Quando tinha mais gente, sempre ia a Tereza, sua secretária e minha professora de português, o Willian, chefe do departamento elétrico e de planejamento, não se falava em trabalho mesmo.

Mas o Choulian é o cara mais sério e engraçado que conheço. Suas histórias, algumas contadas por ele, outras presenciadas por mim, são muito engraçadas. Como o dia em que fomos para o Rio com seu carro, um passat novinho. Como ele era muito nervoso, e meio barbeiro, ou meio nervoso e muito barbeiro, ficava toda hora colocando o cambio do seu passat em ponto morto e aí jogava a quarta marcha de novo. O carro tinha só quatro marchas. Ia ele no volante, eu do lado, e um engenheiro mais novo do meu departamento, o Rubinho, no banco de trás. O Rubinho, muito gozador, pergunta:

- Choulian, quantas marchas tem esse carro?

- Quatro, responde o chefão,

- A ta, pensei que tivesse dezesseis.

E isso sem dar nem um sorriso, e eu que tinha que me aguentar sem rir, porque ele nem tinha percebido a gozação. Minutos depois ele pergunta se o carro é "ponto 30", eu sabendo que ele estava se referindo ao calibre de uma das armas mais poderosas que existe. O Choulian responde inocentemente que é um 2.0

Bons tempos aqueles.

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