terça-feira, 20 de abril de 2010

História para os netos


Tive que contar essa história na escola do Felipe.

Bom, antes de começar a contar esta história, eu tenho que avisar que aqueles que tiverem medo, é bom que se preparem pois ela é meio assustadora. E é a mais pura verdade. Não vou aumentar nem um tiquinho.

Foi na fazenda Piratininga. Eu estava chegando de uma viagem, e já estava no campo da fazenda mas ainda longe da sede quando o carro pifou. Estava sozinho e sem nenhuma arma, porque agora é proibido andar armado. Estava sem lanterna também, coisa que nunca ando sem, mas nesse dia, um neto, não sei se o Felipe ou o Tomás, tinha pegado ela para brincar e fiquei sem. Por sorte era um noite de lua cheia, e dava para andar na estrada sem lanterna mas não dava para consertar o carro. Pensei até em dormir dentro do carro e ir depois que o sol nascesse , mas com a lua daquele jeito, dava para chegar na fazenda e dormir na minha cama quentinha. Era julho e estava muito frio. Pensei: andando a gente esquenta e ficar parado nesse carro, na madrugada vou tiritar de frio. Depois, era só uma hora de marcha bem acelerada. Naquele tempo eu corria isso tranquilo, que nem os pais de Tomás e Felipe, que são bons de andar e correr. Peguei meu cantil, meu canivete, tranquei o carro e segui para a fazenda. Quando estava no meio do caminho, comecei a escutar um barulho atrás de mim. Achei que era o vento, pois estava começando a mudar o tempo. Já tinha tropeçado duas vezes, pois umas nuvens começaram a esconder a lua. Fiquei com um pouco de medo pois estava muito longe ainda da fazenda e já longe do carro. Acelerei ainda mais o passo, quando vi uma sombra que cortou meu caminho e ficou atrás de uma árvore. A primeira ideia que me passou pela cabeça era de uma pessoa. Mas quem estaria no meio do pantanal numa hora dessas? Fazendo o que? Não vou mentir para vocês, fiquei com muito medo. Só tinha meu canivete e ele era muito pequeno. Até trouxe ele para mostrar para vocês. Foi aí que ouvi o berro, na realidade parecia mais um arroto. Desses bem grande. Era uma onça e pelo jeito das maiores. Era pior bicho para enfrentar de noite e sem nenhuma arma pesada. Mas não tinha jeito. Se corresse ela me pegaria e por trás. Aí babau, ? Já imaginaram uma onça de 150 kg na cacunda. Derruba touro de 800 kg. Era melhor estar de frente pois meu canivete é muito afiado. Começou a cortar para só no osso. Subir em árvore, ela sobe melhor que a gente. Foi aí que pensei. Ela pode ser mais forte mas não é mais inteligente que eu. Resolvi então ver se conseguia enganar ela. A onça só ataca o homem se ele estiver sozinho e eu tinha que fingir que tinha mais gente comigo. Lembrei de meu cachorro campeão que punha qualquer onça para correr e comecei a latir que nem ele. Uou uou uou. Aí eu vi que a bicha ficou atenta tentando ver onde estava o cachorro. Fiquei contente e mais confiante. Estava dando certo e ela começou a se mostrar para mim. Antes que ela percebesse o truque, comecei a relinchar que nem o Maracho, meu cavalo inglês bonito que tenho na fazenda. Hiiinch, bruoch. Esse cavalo era tão grande que o pai do Filipe quando andava nele tinha que olhar pelo vão das orelhas, porque ele com 10 anos montado, ficava com os olhos da altura da cabeça do maracho. Mas voltemos a bicha. A onça já não estava entendendo nada quando imitei um galo. Hu hu huuuu. Aí ela endoidou. Deve ter pensado: já ta amanhecendo e esse cara aí ta cheio de gente e bicho que eu não estou vendo E saiu correndo. Só que pro lado da fazenda. Não tive outra escolha. Sai correndo atrás dela. Foi quando chegou um trator da fazenda e com a luz da lua, mais do farol viu aquela cena. Um mundo de onça correndo e eu atrás dela com um canivetinho na mão latindo que nem cachorro. O Dorival, esse é o nome do tratorista, não acreditou no que estava vendo e achou que eu tinha pirado ou era o cara mais forte do mundo. Correr atrás de uma onça, de noite e onça daquele tamanho.

Nunca mais vou esquecer essa noite. E acho que nem a onça.


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