quinta-feira, 22 de abril de 2010

Almoço no Massimo.


Era julho de 1984 e era o nosso último ano em Taubaté. Depois de 20 anos morando fora, 10 em São Paulo e 10 em Taubaté, íamos voltar para Corumbá. Era euforia misturada com uma dose de preocupação. Estávamos dando uma guinada muito grande nas nossas vidas. Tinha trabalhado e estudado muito. Tinha um bom emprego, estável, tínhamos feito grandes amigos. Mas isso é outra história, voltemos ao Massimo. Como estávamos nos despedindo de São Paulo e papai estava em sua última visita, pois iríamos morar na mesma cidade a partir dai, resolvi levá-los no restaurante mais chique de São Paulo, o Massimo.

A primeira briga foi com mamãe pois papai queria ir de sandália. Depois de muita discussão convencemos ele de que não era apropriado, pois tinha muita gente conhecida que freqüentava ali e todos iam de terno e gravata. Por isso ele trocou a sandália pelo sapato, acho que já com medo de quererem colocar uma gravata nele. Chegamos lá, e para os manobristas acostumados a estacionar Mercedes, ele já recomendou meu opala com dois anos de uso. Sentamos perto de uma janela de vidro que nos separava de uma cascata. Até aí estava tudo indo muito bem e ele adorando. O primeiro comentário foi que ainda bem que não veio de sandália pois a coisa era chique mesmo.

O encanto acabou com a chegada do cardápio. Na hora em que ele viu os preços não se consolava, e vinha os comentários:

- Porra meu! Não podiam pescar essa truta aqui e cobrar mais barato? Tinham que trazer da Patagônia? Já veio frita?

O que é esse gulache?

- Carne com batatas papai, respondi.

- Porra meu, a carne vem da Patagônia também para custar tudo isso?

Depois de comentar todos os itens do cardápio, acabou optando pela truta. Fizemos o pedido e o garçons trouxe o couvert. Quando ele ia reclamar eu me adiantei e disse que estava incluído no preço, o que o deixou mais animado, mas foi a grande besteira. Vinha aquela cestinha com vários tipos de pães, bolo de queijo quentinho, e outras delicias mais. Comi um pouco enquanto aguardava e não percebi quando terminou tudo que estava na cesta. O garçons repôs imediatamente com eu dizendo que estava incluído no preço. Aí ele disse:

- Mas então não precisávamos pedir comida nenhuma que só isto estava ótimo.

Chegou a truta enrolada em papel de alumínio, com o tempero de ervas e nozes em uma cumbuquinha separada. Comemos muito bem ainda que eu estivesse preocupado dele não conseguir comer mais nada, pois já tinham vindo umas 3 cestinhas de couvert e ele acabou com todas sozinho.

Depois da sobremesa e do café levantamos para sair. Nesse momento percebi que o casaco dele, um cardigã de abotoar na frente, estava meio guenzo e quando fui arrumar percebi para onde tinham ido as três cestinhas de couvert. Os bolsos do casaco estava abarrotado com os bolinhos de queijo.

A explicação que ele deu foi muito lógica. Na primeira cesta, quando ele viu que sobrou e ninguém mais comia, ele resolveu guardar, uma vez que já estava pago. Quando veio a segunda, ele ficou em dúvida se era uma por pessoa e resolveu guardar a segunda. Quando veio a terceira ele confirmou que era uma por pessoa. Aí eu perguntei:

- Mas aí, se éramos quatro porque você não pediu a quarta?

- Porque acabaram os bolsos, ele respondeu.

2 comentários:

  1. Tadeu esqueceu de contar que ao final do almoço quando questionado do que achou da truta, respondeu:
    -Um lambari metido a besta

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  2. muito muito bom... chorei de rir.
    Sensacional!

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