Papai foi o melhor vendedor que já conheci. Lembro-me dele na Ford vendendo peças, sabia a numeração de todos os componentes. Era motivo de apostas entre os amigos, qualquer um que chegava e falava se tinha o rolamento da ponta de eixo do ford 34 modelo tal, ele já falava a marca e número do fabricante e o número no catálogo do carro. Aí apostavam se estava certo ou errado e quem o conhecia apostava nele e não perdia nunca.
Depois da ford ele foi para o escritório do Marinho trabalhar com a parte contábil junto com tio Patrão e no seu lugar ficou o tio Vicente, o charutinho, como era conhecido. Na casa Marinho ficava o tio Alcides como vendedor até o dia que ele resolveu se afastar da empresa e papai assumiu novamente a posição de vendedor. Não tinha igual a ele. Ficava ligado 24 horas por dia no negócio. Andava na rua e via em todas as pessoas clientes em potencial para cada produto. No dia seguinte, quando não tinha clientes na loja, começava as ligações oferecendo os produtos que estavam com dificuldades de venda àquelas pessoas que ele tinha visto no dia anterior.
Em 1974 resolveram montar a exportadora Marinho. Papai assumiu a parte de vendas para a Bolívia. Começou com arame, lona de caminhão e mais uma meia dúzia de produtos. Após dois anos tinha mais de 1000 itens. Produtos de higiene, alimentação, tênis kchute, etc. Chegou a ser o maior comprador da Unilever, ganhando de Pão de Açucar, Carrefour e outros gigantes do ramo. Por volta de 1980 quando já éramos uma das maiores exportadoras do estado, ele chamou Tontonho que trabalhava no Marinho's Maxi para ajuda-lo. Aí foi como colocar o Pepe para jogar junto com Pelé. De uma das maiores nos tornamos a maior exportadora do estado. Eles só falavam de negócio, o que comprar para o dia das mães, estava chegando o inverno achocolatados iam vender muito, e assim por diante.
O interessante é a maneira como papai vendia. Na hora do pico, ficava em pé e tirava nota manual e em cima do cofre. O trem chegava de Santa Cruz as 7 da manhã, descia aquele monte de bolivianos e as 10 horas o trem retornava, e com ele a maior parte dos que vieram a Corumbá para as compras. Depois dessa loucura ele atendia com calma aqueles que ficavam para voltar no dia seguinte. Eram os compradores maiores, que vinham com o dinheiro escondido na calcinha, aquelas colhas que tinham três ou quatro vestidos, anáguas mais sei lá o que pelo corpo. O cheiro que exalavam… Ele ficava bravo se alguém reclamasse pois falava que suor de quem trabalha cheira a dinheiro e esse cheiro não pode ser ruim. Mas o cheiro era brabo!!
Um dia o Raul chegou com um presente para ele. Uma caixa bem embrulhada e antes de entregar, fez um discurso, dizendo que ninguém merecia aquele presente mais do que papai. O velho estava muito desconfiado e xingando o Raul de um tanto que nós que estávamos assistindo a cena começamos a ficar chateados, mas o Raul não entregava o presente. Dizia que aquilo era para ele usar e lembrar do seu eterno amigo. Depois de muito farol entregou a caixa a papai que parecia uma criança desembrulhando o presente. Quando tirou da caixa, era um pênis de uns 30 cm de comprimento e perfeito. Papai dava risada e falava que era igual ao próprio, quando o Raul falou que ele pousou para o escultor fazer uma réplica do dele.
Pois bem, este Pinto acompanhou as vendas de papai pela vida toda. Ficava na gaveta e quando a boliviana fazia uma compra grande acabava pedindo um REGALO. O pessoal que já conhecia a brincadeira já ficava esperando ele colocar a peça sobre a mesa. Todas que iam lá pela primeira vez por pura maldade das companheiras, eram instigadas a pedir um regalo a Dom Marinho. E as amiga iam juntas para presenciar a cena. Pode-se dizer que não existe nenhum cacete de plástico que foi um instrumento de marketing tão forte quanto aquele presente do Raul.
Essa historia quando o Sr. Alberto me contou pensei que fosse lenda....
ResponderExcluirMas segundo este contador de historia é verdadeira.
PEPE !!!!!!!!!!!!!!!,porque não Coutinho?
ResponderExcluirMuito interessante suas historias, jä estou ficando viciado nelas, não pare nunca de escrever,
ZÉ Antonio
Vou ter que fazer coro com o leitor que deixou anonimo a assinatura.... são viciantes suas histórias... Até agora não perdi uma.. risos.
ResponderExcluirParabéns Sr. Tadeu.