segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Pratos inesquecíveis

Outro dia estava conversando sobre culinária e os pratos considerados inesquecíveis. Aqueles que passam os anos e o paladar fica na sua memória, registrado de uma tal forma, que quando você cruza com um parecido, lembra imediatamente do "original". Vovô Marinho veio de Portugal sozinho, deixando vovó Emilia e sua única filha na época, a tia Ana, para traz. Não tinha dinheiro para a viagem de todos e não sabia o que o esperava por aqui. Preparou o mínimo e mandou o dinheiro para a vinda de vovó e com ela veio a Isaura, sua mão direita e cheia como cozinheira. Lembro-me muito bem dela, já com os cabelos brancos, beirando os 60 anos. Mas inesquecível mesmo era seu bife na chapa. Era daqueles bem fininhos e feitos com a frigideira bem quente. Ficava bem passado e com a superfície meio queimadinha. Parece simples, mas tem 50 anos que como todos os tipos de bife, com todos os tipos de carne, e nenhum se iguala aquele da Isaura. Vai para o pódio.
Estava com 27 para 28 anos e fui para Recife, participar de uma concorrência, e fiquei hospedado num hotel, na praia de Boa Viagem, e acho que era esse o nome do hotel também. No primeiro dia, estava almoçando sozinho e comendo o que o garçom tinha sugerido, "lagosta no abacaxi". O cara pega um abacaxi inteiro, abre no meio, no sentido longitudinal, e cavuca o miolo. Parte do que saiu é cortado em cubos e vai para um molho branco onde tem pedaços de lagosta. Depois de pronto volta aquele creme para dentro do abacaxi. Como o abacaxi e a lagosta tem o mesmo tamanho e na medida certa de uma garfada, cada uma é um suspense, pois você não sabe de pescou uma lagosta ou abacaxi, e os dois por demais saborosos. Viciei no prato e passei três dias almoçando e dois jantando isso. Inesquecível número 2. No ultimo dia da nossa estada, chegou o gerente do comercial da empresa, o Adilson Wanderley, para finalizar os acordos que eu passei fazendo e jantamos juntos. Contei a ele sobre a lagosta e ele, que já conhecia o prato, me sugeriu um outro. Fiquei relutante, pois ao mesmo tempo que já o tinha comido 5 vezes, era a despedida. E se não gostasse da sugestão dele? Para resolver o problema ele se prontificou a comer a lagosta com abacaxi. Qualquer coisa nós trocaríamos. Pedi então a sua sugestão, a "moqueca de Siri Mole". Em quatro dias acrescentei dois pratos inesquecíveis a minha lista. O siri mole é aquele pescado a noite, pois está sem a sua casca dura, ou porque esta trocando ou porque não se formou ainda. Essa parte da explicação eu esqueci, mas a coisa era boa demais. Ficou com 3º lugar.
O bacalhau ao forno de mamãe, receita de vovó Emilia, com batatas, cebolas e tomate. Eu e papai comíamos uma travessa inteira e, apesar de ter muito azeite ainda regávamos mais ainda com aqueles de oliva puro. Fica em quarto porque tem que classificar.
O 5º lugar vai para o "Camarão a Provençal" do "Tomates & Bananas". Você fica exalando alho por três dias e ainda assim vale à pena.
Teve outros que deliciei ao longo da minha vida e de alguns nem consegui saber o nome direito. A avó de meu genro, a Dona Elisa, faz um prato armênio de carne com uma massinha, chamada Mantan, que é de matar. Você, simplesmente, não consegue parar de comer. Fica em 6º.
A "Sopa Leão Veloso" que eu e papai saíamos de Taubaté para comer no Rio de Janeiro, no "Cabaça Grande" era maravilhosa. Tinha todos os frutos do mar e vinha naquelas cumbucas de barro e super quente. A tinta do polvo fazia parte daquele caldo, tornando-o mais feio e gostoso, pois o aspecto não era bonito. Talvez seja injustiça classificá-la em sétimo mas não tem como baixar nenhuma das anteriores.
O 8º e último prato digno de nota vai para a rabada de nossa cozinheira Angela. Vem com batatas e feijão branco, bem molinho e com um caldo grosso. E um rabo que você tem que comer de joelhos, sem trocadilhos e nem segundas intenções, principalmente para os que conhecem a Ângela.

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