segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Filhos!

Devia ser 3hs da madrugada quando escutei aquele conversa sussurrada de Bea com Daniel na porta de meu quarto. Como era época de férias, levei aquele puta susto, pois sabia que devia ser alguma coisa relacionada com filhos e para ele acordar a mãe naquela hora, não devia ser coisa simples. Pulei da cama, já com o coração a 200 bpm e perguntei:

- Quem, quando e qual foi a merda?

A resposta veio na ordem trocada:

- Beto caiu num buraco com seu monza... agora.

Já pensei o pior, e só consegui perguntar de tinha alguém machucado. A resposta foi ininteligível:

- Não machucou ninguém, buraco pequeno.

- E nos acordou porque?

- Estão te chamando lá.

Já estava ficando tranqüilo com o tamanho do buraco quando fiquei nervoso novamente. Me chamando porque? Vesti uma calça por cima do pijama e saí de qualquer jeito. Informado que estavam no posto Faroeste, na saída da cidade e perto do melhor motel da época, o Gaturama, deitei cabelo e fui para o local. Quando estava chegando perto já vi o Beto, nervoso, passando as duas mãos pela cabeça, jogando os cabelos para trás. É o tique nervoso dele até hoje. Não via o carro e estava com um colega do lado. Quando cheguei ele começou a falar coisas ininteligíveis, do tipo "o solo desabou", e já fiquei me perguntando se ele tinha fumado maconha estragada, mas nem cigarro normal ele fumava. Foi então que o colega falou:

- Tio, deixa eu explicar desde o começo.

Só aí vi que o amigo era o Lulu, filho do Zé Mauro nosso piloto, com minha prima Emilinha, guri super ajuizado e que estava mais calmo.

- Não foi nada que o senhor não resolva, por isso que tivemos que chamá-lo. 

Quase que perguntei se o pai dele não servia, tinham que acordar a mim, mas já estava ficando por demais preocupado e curioso com aquela enrolação para encompridar ainda mais aquela conversa. 

- Fala logo Lulu, cadê meu carro?

Esqueci de mencionar que o Beto devia ter uns 16 para 17 anos e não tinha carteira. Já dirigia e bem, desde os treze, e era super cuidadoso. 

- Então, tá ali naquele mato.

Falou e apontou para um terreno vazio onde o capim devia ter uns dois metros de altura.

- Como foi parar ai, que merda aconteceu? Vamos lá ver o carro.

- Não tio, pera aí, deixa eu explicar primeiro, tá tudo bem com o carro. Depois nós vamos lá. Tem umas meninas lá dentro que não querem que o senhor as veja.

- Explica logo, porra!!

- Então, nós estávamos indo para o motel com as meninas, devagarzinho, quando apareceu a polícia.

- Polícia?

- Calma tio. Cruzou com a gente e mandou o Beto encostar. Ele ia fazer isso mas vi que a gente ia se ferrar. Sem carteira, de menor, as meninas também, os pais não sabiam que estavam com a gente, aqui perto desse motel. Não pensei duas vezes e falei " Soca o pé nesse 2.0. Os caras estão de chevette e não vão alcançar a gente. Aí com medo de eles atirarem, ficamos dando voltas na quadra com o chevetinho atrás. Quando assustamos, o monzão que estava atrás do chevette. Aí mandei o Beto diminuir e quando eles viraram a esquina, vimos esse terreno vazio e mandei ele enfiar o carro nesse capinzal alto e apagar as luzes. A estratégia foi perfeita e despistamos a policia.

Percebi até um certo orgulho dele no “sucesso da estratégia”. Pensei “puta que o pariu” meu filho fugindo da policia, mas só consegui dizer:

- Mas e daí, o que deu errado, que estamos aqui às 4 da manha, escutando essa conversa toda.
- Pois é tio, paramos em cima de uma fossa e ela desabou. 

- Caralho! Meu carro está com duas meninas de menor, mortas afogadas na merda?

- Não tio, porra - ele ficou nervoso- só caiu a roda dianteira. Se o carro fosse tração traseira, nós conseguiríamos sair antes dele chegar.

Falou e apontou para um senhor que estava ao lado, com um mundo de porrete na mão, daqueles de amansar louco, e escutando a conversa. Achei que era um curioso e não personagem integrante daquela história mirabolante. 

- E quem é o artista? – perguntei.
- O dono da fossa. Queria quebrar o carro, quando falei que era do senhor. Ele não acreditou e disse que só tiraríamos o carro de lá depois que o senhor chegasse. Por isso que tivemos que telefonar para sua casa, dar sorte do Daniel estar chegando, e atender o telefone. É isso aí tio, tudo se resume em consertar a fossa do homem que ele deixa a gente ir embora. O resto é com o senhor.

Virei para o homem do porrete, me desculpei e perguntei como poderíamos compensá-lo por aquele transtorno todo. Por sorte ele conhecia papai e se lembrava de mim, pois não tinha um documento para provar a ele que eu era o dono do carro. Ele aceitou a minha palavra de que no clarear do dia enviaria um pedreiro para refazer a sua fossa. Fomos para tirar o carro do buraco e usamos do porrete dele para fazer um calço. As duas meninas atrás, bonitinhas por sinal, estavam dormindo e nem de importaram com a minha presença. Escoltei o Beto até a casa de todos e recolutei ele para casa. O máximo que escutei dele foi um:

- Mandei mal, pai, desculpe.

Ele nem podia imaginar a felicidade que eu estava de não ser nenhuma das coisas que me passaram pela cabeça, naquele trajeto de umas 20 quadras, da minha casa até o posto Faroeste. Ser mãe é “padecer no paraíso”, mas ser pai é foda também.

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