quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A escola da vida

Isso foi há uns 10 anos atrás. Estava num papo cabeça com o Zé Mauro sobre "O Velho", com eu, ainda fazendo 50 anos, já dizendo como era duro ficar velho. Ele me falou uma coisa que não dei muita importância na hora, mas à medida que o tempo vai passando cada vez mais se confirma como verdade absoluta. Quando eu falei que não sei como agüentaria as limitações da idade, dificuldade em comer quando começasse a me faltar os dentes, em andar quando as pernas já não agüentassem mais, a cabeça começasse a esquecer coisas importantes, o "companheiro" não atendesse as chamadas para brincar e outras mazelas mais, ele me respondeu:
- Você falando assim é foda, mas as coisas vão acontecendo aos poucos, de modo que você vai se acostumando com uma de cada vez. Realmente, se chegasse tudo junto e de repente, o cara ficava louco. Mas ainda bem que cai fio por fio. Você não dorme cabeludo e acorda careca.
Uns dias depois, fiquei sabendo de uma história e sua teoria de confirmou. Uma sobrinha querida estava meio gordinha e resolveu tomar "xenical". Acho que é assim que escreve, mas é um remédio que não deixa você absorver as gorduras. Elas saem integralmente nas fezes, mas tem um inconveniente, te frouxa o esterco, como diz Guilherme, meu filho. Contam, que no dia que ela começou a tomar isso, estavam todos prontos para sair, ela começou a chorar. Foi dar um peidinho, daqueles irresistíveis e aconteceu: se borrou toda. Foi um drama. Na segunda vez, ela falou com os olhos marejados:
- Bom, tenho que ir. Infelizmente aconteceu.
Na terceira vez, ela já levantou e falou:
- Vamos?
Normalmente ela é a última que sai. Conta-se que, comprovando as sábias palavras do Zé Mauro, depois de um certo tempo, ela só começava a rir e quando olhavam para ela, curiosos para saber o motivo, ela só falava:
- Escapou!
Acostumou com o problema.
Um outro caso foi papai. Ia subir uma escada e se um estranho fosse ajudar e pegava em seu braço ele ficava puto e falava:
- Está com medo de cair, segure aqui - e enchia a mão.
Mas as coisas foram ficando difíceis e ele foi se acostumando a aceitar ajuda de terceiros, até que fomos para o Porto da Manga acompanhar a travessia de um gado que vinha de Piratininga. Eu ia passar o dia todo lá e não consegui convencê-lo de não ir. Falava que ia ser cansativo e ele contra argumentava que eu não queria era levá-lo. Acabei por alugar um apartamento com ar condicionado no hotel do Tirso, que era para pescadores. Os apartamentos eram construídos elevados e tinha uma escada de uns 5 degraus na porta de cada quarto. Depois do almoço, no acampamento da comitiva, que ele adorou, levei-o para o quarto, ajudei a subir as escadas e dormimos um pouco. Quando acordei, com o barulho ele acordou também, mas não quis sair do quarto. Estava muito quente e o ar condicionado a toda. Fiquei preocupado com a escada e pedi que ele me esperasse, que daria uma olhada rápida para ver se já tinham recomeçado o embarque e voltaria para ajudá-lo a descer. Assim o fiz e fui para o bar do hotel comprar uma água para levar a ele. Estava no balcão quando apareceu o Araquém, um vizinho da Nhecolandia. Quando me viu, falou;
- Então era Seu Alberto mesmo. Estava descendo as escadas com um mancebo, aqueles cabideiros que se usa para pendurar roupas e chapéu e parece um espantalho.
Quase enfartei. Velho do cacete. Descendo escadas com um mancebo. Na hora fiquei puto até com o Araquém e falei:
- Porra e você não ajudou ele?
- Lógico. Quem você acha que levou o mancebo de volta para o quarto.
Ele estava começando a pedir ajuda.
Sábio Zé Mauro.

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