A grande dificuldade que os paiaguenses enfrentam é a logística de transporte. Não é fácil você escoar sua produção, mesmo que ela ande sozinha, como é o caso do gado. Estão acabando os condutores que formam as comitivas e que com seis ou sete homens, incluindo o cozinheiro, leva uma boiada de 1000 a 1200 cabeças. Eles vão por 25 a 30 dias por esse nosso pantanal, dormindo muitas vezes ao tempo. Levam os mantimentos em bruacas no lombo de burros e o cozinheiro sai junto com o gado, mas como está escoteiro, anda mais rápido e chega antes no ponto do almoço ou do pouso e prepara a bóia da turma que vem conduzindo o gado atrás. Quando a comitiva é boa, os bichos nem sentem e já aconteceu de até engordarem no caminho, mas isso está acabando. Temos que usar o rio Paraguai para transportar o gado e aí o problema é outro. Não temos portos apropriados para embarcar o gado e os boieiros são feitos nas coxas, nem água para o gado beber tem e isso com você navegando em água doce e num dos maiores rios do Brasil, o Paraguai. Com todas essas dificuldades, e ainda assim o nosso município tem o maior rebanho do Brasil, com mais de três milhões de cabeças.
Agora estão reformando o Porto São Pedro do Armando Lacerda. Participei da execução do projeto e acredito ser um grande avanço para contornar esse grave problema. Precisamos de vários portos e todos tem uma dificuldade em comum que é a diferença de nível máximo e mínimo do rio em que deve se dar o embarque. Nesse caso a dificuldade foi contornada fazendo um corte na margem do rio e fazendo uma canaleta de concreto de 1,20 de largura. O fundo da canaleta esta numa inclinação confortável para o gado descer e subir, no embarque e desembarque, e as paredes de altura variável, são mais íngremes e acompanham a inclinação do terreno. Tem uma prancha cuja cabeceira corre por cima dessas paredes e sua outra extremidade vai por dentro da canaleta e apoiada no fundo. O gado entra nessa canaleta até chegar próximo a balsa, quando sobe na prancha móvel e daí para a prancha da balsa. Existem paredes móveis feitas de canos galvanizados e madeira completando o corredor até a balsa e que vão sendo montadas à medida que o nível do rio abaixa. A construção está sendo feita por três homens de coragem: o Sergio, chefe da equipe e que parece um badboy e é um trabalhador incompatível com sua gordura, que só é tratado por gordinho, o Sebastião, que de tão bruto vive se machucando, e que acabou de cair dentro de uma caixa de gordura, e o Julio, que é o único que "guenta" as ordens do gordinho sem reclamar, muito. Estão se tornando os construtores do pantanal. Eram totalmente urbanos, mas já aprenderam a viver nesse mato, dormindo em rede, comendo carne de sol e não se importando com os mosquitos. Temos também um engenheiro experiente e que apesar de ser construtor de shoppings no Rio de Janeiro, encarou esse desafio no rio Paraguai, o dr. Carlos Larica.
O projeto foi desenvolvido de modo a mexer o mínimo com o meio ambiente e se conseguiu até diminuir a área antropizada do Porto antigo. Foi usado concreto armado ao invés de palanques em todas as colunas do mangueiro e cordoalhas ao invés de tábuas, minimizando o uso de madeira. Apesar de todas as dificuldades de transporte desses materiais, a pedra para o concreto teve que ser toda ensacada, e conseqüentemente um custo mais alto, o beneficio é compensador, tanto quanto ao tempo de duração do mangueiro quanto ao impacto ambiental, que neste caso foi, sem dúvida nenhuma, positivo. O Armando está de parabéns e espero que outros empreendedores como ele façam o mesmo melhorando nossas condições de transporte e ajudando a construção desse nosso pantanal.
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