segunda-feira, 23 de maio de 2011

Lua de mel-parte I

Recebi meu canudo de Engenheiro Mecânico em março de 1973 e me casei em abril do mesmo ano, ou seja, um mês depois. Como tinha recebido uma boa quantia de presentes em dinheiro, do meu sogro e de Dr. Vinagre, que era padrinho de batismo de Beá, não estava muito preocupado com a parte financeira e fomos para nossa lua de mel.


Eu com 22 anos e ela com 18. Era uma época muito diferente da de hoje. Em 07 de abril às 10hs da noite, dei um beijo de despedida na minha esposa a menos de 24 horas e fui para casa dormir. A lua de mel só começava no dia seguinte e minha primeira noite de casado eu dormi com o Gerson. É mole?
Pegamos o avião no dia 8 de abril às 10 horas da manhã, um turbo hélice samurai e fomos para São Paulo. Meu primo Chico estava no aeroporto nos esperando, já com meu carro, um opala 72, duas portas, 4 cilindros, amarelo com duas faixas pretas no capô, revisado e pronto para início de nossa viagem de lua de mel. Passamos no nosso apartamento novinho em folha para verificar se os móveis tinham chegado em ordem e seguimos para Campos do Jordão, uma cidade serrana e escolhida para passarmos a primeira noite. Tinha a fama de ter uma estrada muito bonita e um clima maravilhoso, ideal para a noite de núpcias, pois não queríamos passá-la em São Paulo onde iríamos morar. O único acesso que tinha era por São José dos Campos. Alguns anos depois, meu sogro falaria uma de suas verdades engraçadas: "Cuidado quando te falam que a estrada é bonita e o clima é gostoso, pois normalmente é uma pirambeira só e um frio do cacete". Sábias palavras, não deu outra.
Chegamos no hotel Toribas e tivemos que apresentar os documentos de recém casados. Os hotéis mais finos não permitiam que casais de namorados dormissem no mesmo quarto. Foi a primeira vez que nos chamaram de senhor e senhora Marinho. Chegamos à suíte nupcial e o carregador de malas nos perguntou se queríamos beber algo. Quando perguntei a ninfa amada se queria uma champanhe ela me respondeu:
- Depois daquelas curvas da estrada, quero um sonrisal.
Pedi dois ao garçom, não ia tomar champanhe sozinho, e já fiquei preocupado com a nossa primeira noite. Mas foi tudo bem. O hotel era maravilhoso, a comida espetacular e a mulher, a minha. Estava recém formado, recém casado e com a vida toda pela frente. Programamos de conhecer o Sul do país e depois de passar três dias em Campos do Jordão para acalmar os ânimos, seguimos para Curitiba. Ficamos no hotel Ouro Verde e na entrada já houve nossa primeira divergência. Quando perguntei ao recepcionista se tinha ar condicionado e ele confirmou, Bea perguntou se tinha aquecedor. Ele ficou sem entender o que queríamos. Eu com um calor do cacete e ela com frio. Fomos para o quarto e como a viagem foi cansativa, enquanto ela tomava banho resolvi descansar um pouco. Fui acordado pelo telefone da portaria. Como já deviam ser umas 11 horas da noite, o recepcionista ligou dizendo que o quarto de baixo estava reclamando do barulho que estávamos fazendo. Dei-lhe uma puteada dizendo que ele nos acordou com aquele telefone, que já estávamos dormindo e que devia ser no quarto ao lado a bagunça. Pela minha voz de sono ele acreditou e se desculpou. Assim que desliguei o telefone, gritei para Bea, que estava tomando banho e pelo jeito a água não estava naquela temperatura de pelar porco que ela gosta, que parasse de pular no chuveiro que o cara do quarto de baixo já tinha reclamado para a portaria. Baseado em Curitiba conhecemos Vila Velha e o Porto de Paranaguá. Neste último fomos de trem e a descida e a subida da serra eram feitas com o mesmo fixado em uma corrente com freio e tração externas de tão íngreme que era o trecho. Conhecemos um casal que estava fazendo a sua segunda lua de mel, comemorando suas bodas de ouro. Ficamos companheiros de viagem e eram muito finos. Nunca vou me esquecer de um dos conselhos do velho: que o matrimonio é um cesto onde você vai colhendo rosas e colocando. Sustentados por duas alças, cada um tem que cuidar da sua e chamar a atenção do outro quando ele estiver baixando ou levantando demais. Disse ainda que não nos invejava pelo fato de estarmos começando e ele terminando, pois tudo que ele já tinha passado só deixava ele saudoso mas nunca triste e não gostaria de correr o risco de não ter esses momentos na lembrança em uma segunda chance . Muito legal os dois velhos e hoje vejo como eram verdadeiras as suas palavras.
Agora escrevendo essas lembranças, perguntei a Bea se ela se lembrava do casal e para minha surpresa ela respondeu:
- Os Veigas.
Ela que sempre teve uma memória pior que a minha, felizmente guardou o sobrenome dos dois.
De Curitiba fomos para Camboriu, e no caminho passamos por Blumenau e Joinville para fazer uma comprinhas de roupas de frio que eram muito baratas. Ficamos num hotel redondo e como era fora de temporada, éramos praticamente, os únicos hóspedes. Passeávamos a noite na praia e era uma segurança total. Não tinha bandidos, trombadinhas e outras pragas mais, abundantes nos dias de hoje. De lá seguimos para Florianópolis. Um dos lugares marcantes da viagem foi um restaurante nas margens da lagoa da Conceição. Serviam uns camarões gigantes e pescados na hora. Você os comprava vivos dos pescadores e os restaurantes preparavam na sua frente. Delicioso e muito barato. Saímos empanturrados e passando mal.
De Florianópolis fizemos uma das pernas mais longas e fomos até Porto Alegre fazendo uma única parada no caminho, em Torres, para almoçarmos. Passamos a noite na capital gaúcha e um único dia lá, pois resolvemos voltar pelo Uruguai e Argentina e conhecer as cataratas de Foz do Iguaçu. Já estávamos viajando há mais de 20 dias e percorridos 4.000 km. Seguimos para Montevidéu e fizemos em um único tiro também. Nessa viagem, uma das poucas que foi noite adentro, quase que terminamos a nossa excursão e, quem sabe, a nova vida de casados, mais cedo. Era uma estrada de pista simples e ia cruzar com um ônibus que estava piscando o farol colocando alto e baixo, me ofuscando. Achei que estava reclamando do meu farol e coloquei ele em alto e baixo também para que ele verificasse que estava com a baixa. Quando estava a uns 50 metros para cruzarmos que percebi que ele estava parado e nesse momento ele baixou as luzes e ficou só no farolete. Nesse momento eu dei luz alta e vi que ele estava parado em uma ponte e o espaço que sobrava para eu passar era igual à largura do carro e nada mais. Não dava para frear mais. Só tive tempo de fazer a pontaria e falar para Bea se segurar, pois na velocidade que íamos, qualquer triscada ou no ônibus ou no guarda corpo da ponte ia tudo pro saco. Passei quase raspando dos dois lados sem usar a tabela. Passado o perigo, perguntei a ela se tinha ficado assustada. Disse que não, que sabia que eu conseguiria. Fiquei contente de ver que tinha arrumado uma mulher corajosa para companheira. Alguns minutos depois, um desses pássaros que dormem no acostamento voou e bateu no pára-brisas, do lado dela. Ela levou um susto tão grande que as pernas tremeram por uma meia hora e de um tanto que cheguei a pensar que as rodas estavam desbalanceadas. Não era tão corajosa assim.
Fomos direto para o Hotel Flórida na plazza SAN Rafael, um dos mais bonitos do Uruguai na época. No dia seguinte, arrumamos um guia, o Juan, um velhinho, assim eu me lembro dele, mas vejo hoje que não devia ter mais do que uns 50 anos, e fomos conhecer a capital uruguaia. Foi onde dei o primeiro porre de vinho em Bea. Como o frio dela não passava, encheu a cara de vinho. Tomamos todas e fomos dormir. Ela começou a passar mal e eu, com toda minha experiência com bêbados, coloquei-a em baixo do chuveiro em uma noite que a temperatura devia estar por volta dos 10 graus. Ficou boa na hora. Adoramos Montevidéu, mas tínhamos um trecho muito grande pela frente e no dia seguinte, com Bea ainda ressaqueada, seguimos para Buenos Aires. "Bamos a los Argentinos".


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