segunda-feira, 30 de maio de 2011

Aparelhinho assoprador

Era o aniversario de minha neta Lara e estava na roda dos homens. Corumbá é assim, quando se reúne numa festa, existe um aparte geral, os homens ficam numa roda e as mulheres em outra. É o único lugar que conheço onde isso acontece. Até para dar volta de carro, se você pega um outro casal, vai os homens na frente e as esposas atrás. Mas estávamos falando da enchente do pantanal, quando começou uma discussão de qual seria a velocidade do rio Paraguai. Todo mundo chutava um valor e cada um vinha com uma história para provar que estava certo. Sabiam o tempo que a água demorava para ir de um lugar a outro mas não tinham a distância, ou tinham o tempo de um barco de subida e o de descida e a distância entre dois pontos mas nos enrolávamos nos cálculos. Lá pelas tantas um tio da minha nora, meu amigo Armardo Lacerda, garantiu que ele sabia, pois já tinha "MEDIDO" a velocidade do rio e o medido saiu na entonação de letras garrafais mesmo. E explicou como. Estava na sua lancha São Pedro quando o motor pifou. Sabia que com mais uma partida ele funcionaria por alguns segundos antes de pifar definitivamente. Conhecia aquela lancha, companheira de muitas viagens, há anos e sabia desse seu último suspiro. Esperou o momento oportuno, deu partida na bicha, e socou o pau para cima de um camalote gigantesco que vinha rodando, encalhando sua lancha ali e veio com ele rio abaixo. Não entendi de porque de colocá-la em cima do camalote, mas o assunto era outro. Como não tinha mais o que fazer, veio fazendo contas. Media a distância entre dois pontos, cronometrava o tempo e ai, "todo mundo sabe, velocidade é espaço dividido pelo tempo". Fez as contas e garantiu que a velocidade era superior a 6 km por hora. Eu, que não tinha me manifestado ainda, puxei o meu iPhone e dei uma goolgada. Entrei com "velocidade do rio Paraguai" e consegui descobrir que um dos rios mais rápidos que existem é o Paraná e na região das corredeiras ele atinge a "incrível" velocidade de 1m por segundo, ou seja, 3,6 km por hora, um pouco mais da metade da velocidade que o companheiro achava que corria o Rio Paraguai, um dos rios mais mansos do país, que de Corumbá até o mar tem menos de 100 metros de declive. Mostrei a ele o resultado e terminamos a discussão.

Uns 10 dias depois, coincidentemente, estava a mesma turma reunida no Mac Tom para jantar e ver o show da Rita Lee, quando começamos a discutir a idade dela. O Carlão falava que ela tinha quase 70 e eu que não chegava nos 65, e isso tudo com o Armando só ouvindo. Lá pelas tantas, com o Carlão fazendo as explicações do porque ele sabia que ela era muito mais velha do que ele, eu puxei meu iPhone e resolvi dar uma goolgada. Na hora que o Armando me viu digitando no telefone, ele vira para o Carlão e fala:
- Pode parar de discutir que ele tem um aparelhinho que assopra tudo para ele.
Foi uma risada só. Nem precisava ter perdido tempo, pois durante o show a Rita Lee revelou sua idade. Era de 1947 e tinha 64 anos, conforme o aparelhinho tinha me assoprado.

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